Um chão de mosaico.

A visão de um chão de mosaico faz-me sentir o cheiro seco de casa velha. E o cheiro seco de casa velha traz-me a imagem de um chão de mosaico. Dificilmente os percebo separadamente.

Nunca morei em alguma casa com piso de mosaico, nem que tivesse cheiro de casa velha, aquele cheiro amarelo e seco de madeira, mas tenho nostalgia disso. Acho-os, o cheiro e a visão, que são as mesmas coisas, agradáveis e bonitos, além de reciprocamente evocadores um do outro.

Uma casa nova, moderna, com piso de cerâmica, mesa de vidro, sofás enormes e estofados, objetos decorativos de metal e vidro, painéis escuros, TVs planas e imensas, não tem cheiro para mim. Quase não tem cor, também, porque não a pode ter sem ter cheiro.

Uma casa de pé direito alto, portas de madeira com bandeiras em cima, tem cheiros ventilados e cambiantes entre o amarelo e o verde. Cheiro velho dentro e novo do corredor ou alpendre para fora. Tem cheiro de panos, nos quartos. De fotos antigas e de cadeira de balanço, na sala. De nada, no banheiro de paredes meadas de azulejos brancos.

Os mosaicos do chão da casa de meu bisavô paterno tinham cheiro de café. E, claro, como sou bastante óbvio, café tem cheiro de mosaico com bolacha cream cracker, cigarro apagado. Farmácia tem um cheiro verde de seringa de vidro bem transparente e…. de mosaico.

Bem, é melhor deixar-me disso, senão vou acabar comprando uma casa velha.