Analisar como o domínio estabelece-se já é tarefa bastante difícil, pois envolve extensa atividade descritiva. Apontar um e outro aspecto por trás de seus mecanismos de manutenção parece-me mais fácil, até porque os fatores isolados fazem mais sentido relativamente à manutenção que ao estabelecimento. Há, também, a sedução de observar causas psico-sociais que passam despercebidas na maior parte do tempo.

Manter um domínio, antes de qualquer outra coisa, recomenda fazer o dominado crer que está em situação inevitável. A forma mais comum é caracterizar qualquer anseio e qualquer dignidade nacional subjacente ao anseio como frêmitos por uma ação inútil. Ou seja, deve-se incutir a apatia na defesa dos interesses próprios como atitude de inteligência de quem reconhece suas limitações. O sofisma aqui é facílimo de apontar, pois encontra-se na identificação – falsa – entre limitação e impossibilidade.

As variações da linha de ação mencionada acima são muitas. A mais eficaz é desdobrar a noção de apatia inteligente e fazer surgir a de possível ridículo caso tente-se o possível. Outro desdobramento – esse talvez mais infame que eficaz – é fazer crer que certas tentativas foram calculadas a partir de motivações absolutamente estranhas às declaradas.

Um exemplo auxilia a compreensão dessas linhas de ação. No início da década de 1980, a Argentina empreendeu uma guerra para retomar as Ilhas Malvinas dos ingleses, que as tomaram aos platinos. As diferenças de riqueza e de poderio militar sugeriam a inviabilidade da empreitada para os argentinos. Todavia, a provável inviabilidade não se confundia com a impossibilidade porque também era plausível que os ingleses não se empenhassem na guerra por um objetivo desprezível.

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