Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Tag: Preço

Gasolina à vista é mais barata, evidentemente. O ministério público parece não compreende-lo, todavia.

País relativamente jovem, profundamente tolo e claudicante com alguns conceitos que podem ter viés moral, este nosso Brasil. Temos uma relação conflituosa com os juros, esse cúmulo de realidade que chegou a ser anatematizado pela moral cristã como signo de usura de judeus.

Pois abordamos o assunto como a uma coisa proibida, imoral, embora nada achemos do Estado paga-los os mais altos do mundo a nós próprios, que provavelmente já o havíamos roubado do próprio Estado.

Juros são o preço do dinheiro à prazo, pagos por quem o tome emprestado a outro, por um certo tempo. Um preço, enfim, pelo que não se tem, nada mais que isso.

Quem compra à vista não os paga, porque a troca entre dinheiro e mercadoria ou serviço foi imediata, ninguém privou-se de capital por tempo nenhum. Quem compra à prazo paga-os, porque alguém que não o comprador forneceu o dinheiro para o negócio. É claríssimo, portanto.

Quando o voluntarismo de algum agente estatal entra nesse jogo, movido por incompreensão ou qualquer outra razão, as coisas tendem a organizar-se de forma a que este preço continue, sob qualquer disfarce, provavelmente sob o aumento do preço do produto ou serviço.

O ministério público do estado da Paraíba entendeu de mover uma cruzada contra os postos de gasolina, porque estes praticam dois preços: um, mais baixo, para vendas à vista e outro, mais alto, para vendas a prazo. Os doutos operosos querem um mesmo preço para negócios à vista e à prazo!

O resultado dessa atuação de grande visibilidade mediática é previsível: os compradores à vista vão pagar juros, como se comprassem à prazo! Claro, porque ninguém vai vender à prazo sem cobrar juros, que isso nunca aconteceu.

Então, a cruzada jurídica contra os dois preços resultará em um aumento do custo das negociações à vista, ficando os preços igualados pelo maior. Terão prestado um enorme serviço às instituições financeiras, esses ilustrados senhores ministeriais.

A brincadeira que gostava de ter feito.

Alguém pode achar ofensivo ou até mesmo melindrar-se, quando vir que a brincadeira do título materializou-se em dois experimentos acadêmicos. Mas, devo esclarecer que não quero chamar às experiências científicas brincadeiras, apenas que para mim eram vistas assim, até saber que a ciência se apropriava das minhas idéias ou que, pelo menos, as confirmava.

De parte as brincadeiras e a minha presunção de originalidade, leio que investigadores científicos franceses, de duas instituições, deram verniz científico ao que um observador da vida – e principalmente da vida das nobrezas ascendentes de província – pode constatar com alguma regularidade.

Esses senhores investigavam a influência dos preços na percepção de qualidade que as pessoas formam sobre os vinhos. Dispondo de laboratórios e recursos puderam cientifissicar aquilo que o mortal comum pode apenas enunciar em conversa de mesa de café.

Eles – inatingíveis troçadores – puseram um único e mesmo vinho em diferentes garrafas, umas de marcas ordinárias e outras de marcas prestigiosas. E o resultado foi nada mais que o esperado. O mesmo conteúdo em continentes diversos produziu reações tão variadas quantos os preços que as garrafas sugeriam.

Os provadores eram afirmativos em apontar a superioridade dos vinhos que as garrafas mais caras vertiam e negavam qualidades aos que desciam das garrafas ordinárias, embora fosse o mesmo vinho! Em defesa, não do experimento, mas das pessoas, deve-se dizer que não eram mentirosas nem desonestas.

Eram presas de um mecanismo quase infalível de sugestão. O preço sugere qualidade e, tudo isso sugere que nossas avaliações são muito mais superficiais do que gostamos de fazer crer.