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O governo de Portugal, com toda a solenidade que o caracteriza, disse que o país deve passar os próximos decênios a dedicar-se ao pagamento de suas dívidas, mesmo que isso signifique – e significa – propor o empobrecimento contínuo por trinta anos. É uma proposta infame e convém dizer poucas palavras sobre o que deixa um grupo de freiras tão à vontade para tamanha barbaridade.
Primeiramente, os dois troncos dos empregados da plutocracia trabalham conjuntamente. A imprensa, portanto, interdita qualquer objeção e faz crer que objetar é propor a desonra, o calote e o desapreço pelo pagamento das dívidas. Tudo ficará nesta prisão, não haverá outra linha narrativa. O dogma, se for violado, acarreta desonra e propor a violação do dogma é vil.
O triunfalismo do senso prático casado com a pseudo ciência e a austeridade contábil de gestor de take away defende-se com a imprensa e conta com a inércia do corpo social. Mas, é infame demais obstar toda e qualquer conversa a acusar o objetante de desonestidade, quando ele apenas pensa.
O senso prático demitiu-se da imaginação, do devaneio, da esperança. Demitiu-se irrevogavelmente, talvez para demitir-se de qualquer beleza e oferecer-se ao julgamento histórico como algo pouco e a merecer censura pouca também. Os burocratas triunfantes têm, no limite, noção de sua mesquinhez.
E esta demissão é tão arrogante que pretende a de todos os demais, obrigados a prestarem culto e sacrificarem no altar do triunfalismo da austeridade.
Os triunfantes austeros teriam coragem de instituir voto obrigatório e convidar a velha que vive a 450 euros por mês a ir votar neles? Talvez tivessem, pois são triunfantes.
Mais um vez o Druida-Mor se ausenta da Poção, e mais uma vez, este que vos escreve volta a baila, sempre tentando manter a qualidade dos textos. Me eximo um pouco de comentar os absurdos cometidos contra os populares em #Pinheirinho, e acredito que esse seria o assunto “do momento”, para tratar de algo bem menos importante, uma viagem de táxi..
A primeira paragem de Andrei por esses dias será Portugal, por onde também cheguei há quase dois meses agora, para dar continuidade aos estudos de doutorado. A diferença é que, Andrei e Olívia, chegam provavelmente ao Porto, e eu cheguei em Lisboa. Muito embora sejam cidades diversas, já escutei certa vez, de um motorista de ônibus português, que me levou de Braga ao Porto, que pegar um táxi, seja em Lisboa, seja no Porto, era pedir para ser furtado.
Bem, eu tenho uma estratégia desenvolvida para não ser roubado em táxis por ai, e depois de já ter sido pego em muitas “surpresas” pelo Brasil, que é sempre perguntar quanto custa a viagem antes de entrar no táxi, e que via de regra, funciona sempre… Mas como acabava de chegar da viagem e acabara de conhecer Maria Alice, não o fiz… (ahhhh, as desculpas…)
Chegamos em casa, e não deu outra, o taxista cobrou a mais, seguiu-se uma rápida discussão sem maiores problemas, e acabamos pagando o que nos cobrou, não foi a primeira vez que um taxista portuga me rouba, mas esse também não é o desfecho da história!
Adisson, logo chegou em casa, e depois de algum descanço regado a uma boa conversa, tinha que sair novamente para resolver um problema.. No aeroporto!! Então aproveitei a oportunidade, para ir com ele até lá. E uma vez no aeroporto, fomos a polícia, fazer a denuncia do taxista larápio. Eis que há um sistema interno de vídeo, e me propus a ser identificado por ele, enquanto isso fomos dar uma volta pelo estacionamento dos táxis, e ali estava o meliante, placa anotada, e depois de alguns instantes me reconheceram e a Maria Alice, no momento exato em que entramos dentro do táxi. Batemos as placas, e chegamos a conclusão que o taxista tinha muito azar…
No final das contas, o policial disse que por eu não haver pedido o recibo, tudo que podia fazer era dar uma multa, mas que o taxista poderia se livrar dela, afinal era a palavra de um contra a palavra do outro.. Mas eu sai satisfeito, afinal, tinha identificado o cara, visto a polícia trabalhar, e no final das contas, se ele não for o dono do táxi, vai no mínimo levar um rela do patrão, se esse for sério.. =D
Antes da crise financeira de 2008, Portugal tinha um défice público inferior ao limite da UE, que é de 03%. Superou-o uma e outra vez, assim como sucedeu com a Alemanha e com a França. Pecadilhos comuns, enfim.
Antes da crise financeira de 2008, o risco de Portugal era considerado menor que o da Itália e um pouco maior que os da Alemanha e França. Hoje, esse risco considera-se altíssimo e faz o país comprar dinheiro a bancos para pagar a bancos a 08% ao ano, patamar estratosférico de remuneração do capital.
Hoje, instalados todos os efeitos da crise financeira – para que não concorreram despesas públicas, nem programas sociais – Portugal tem um défice público à volta de 09 a 10% e uma dívida pública que representa 83% do PIB. São números elevados, mas há coisas muito piores na Europa, bastando lembrarmos-nos da Itália.
Ninguém quer chamar as coisas por seus nomes adequados e parece que não o farão nem mesmo quando os nomes não importarem mais. As dívidas que põem tudo em risco são as privadas, não as públicas. E o euro, superada a euforia do enriquecimento rápido com dinheiro emprestado, é uma trava, não uma solução. Bruxelas é a sede de um grande banco 60% alemão e 40% francês.
O parque de diversões ensolarado de alemães e ingleses não gera receitas suficientes para o padrão de consumo que esses mesmos turistas fizeram crer possível. E, a essas alturas, dá-lo em garantia só vai acarretar uma mudança: as faturas sairão com mais consoantes que vogais.
Se, juntamente com a entrega total da soberania a Bruxelas viessem as maiores plantas industriais da Volkswagen, da Siemens, da Peugeot-Citröen e da Alstom, talvez as coisas até andassem bem. Sem elas, todavia, as coisas vão andar mal, porque há doenças que evoluem melhor sem remédios que com remédios errados.
Estava, há pouco, lendo sobre as respostas e comentários que os irlandeses fizeram a um artigo do economista Kevin O´Rourke. Uma delas constitui uma jóia de serenidade em palavras vulgares. O comentarista anônimo sugeria, entre outras coisas, que seria muito mais eficaz subornar as agências de classificação de riscos que fazer um orçamento apropriado sob a ótica da austeridade.
Claro que ele está certo e claro que será considerado louco ou ignorante, mas está certo. Já que se trata de uma lógica de casino, é muito melhor comprar a opinião dos senhores que dizem o que é bom ou ruim, seguro ou arriscado.
Já que estou a divagar, que mencionei um comentário que será tido pelos sábios como loucura ou estupidez, acrescentarei um meu, sem receios de que seja tido também por loucura ou estupidez: e que tal se a Petrobrás comprasse a dívida portuguesa, sem pedir em troca o parque de diversões algarvio, nem que as faturas sejam grafadas com tantas consoantes?
Em quinze dias de um breve retorno a Braga, compramos e ganhamos muitos livros. Eles pesam consideravelmente e, dependendo do número, também ocupam bastante espaço, coisa escassa nas malas.
Não gosto de viajar levando malas grandes e pesadas e busco andar com o mínimo de volumes possível. Assim, a solução que passaria por comprar outra mala ou saco e meter dentro os livros foi descartada.
Melhor despacha-los pelos correios e recebê-los em casa. O único problema disso é o tempo, que tais encomendas costumam demorar muito a serem entregues. Talvez por conta do zelo da alfândega brasileira que, como se sabe, não deixa entrar no país nada de ilegal ou perigoso ou contrabandeado.
Por isso mesmo, às vezes penso que todo o contrabando, todas as armas, todos os entorpecentes ilícitos que há no país entram por meio de algum sofisticado sistema de desmaterialização e rematerialização. Mas, essas divagações não cabem aqui.
O caso é que já houve livros enviados a amigos, que levaram até três meses para chegarem aos trópicos. Então, estávamos mentalmente preparados para esperar pelo Lobo Antunes, pelos Sermões do Padre António Vieira, pelo Gonçalo M. Tavares, pelo Agamben, pelo Unamuno e outros por alguns meses.
Para imensa surpresa, os livros chegaram-nos às mãos em poucos dezenove dias! Serão contrabando?
Portugal viu-se obrigado a adotar medidas de austeridade para estancar o aumento do défice público e, futuramente, reduzi-lo. É claro que poucos falam dos endividamentos privados, certamente mais perigosos que o público, mas isso não significa que o problema dos dispêndios públicos seja desprezível.
Foram necessárias medidas de redução de despesas e de aumento de receitas. O imposto sobre valor agregado e o imposto sobre as rendas aumentaram. No caso do primeiro, mantiveram-se alíquotas especiais para os bens essenciais, como forma de reduzir a injustiça fiscal que esse tributo traz em si.
No caso do imposto sobre as rendas, aumentaram-se alíquotas nas faixas mais elevadas e reduziram-se as deduções, também nos escalões mais altos. Isso é uma questão básica de justiça social e de chamamento dos mais privilegiados a pagarem conforme suas possibilidades maiores.
Eis que os magistrados foram aquinhoados com uma subida do imposto sobre rendas e tiveram redução de benefícios como o auxílio para residência. Os juízes portugueses estão entre os mais bem remunerados e menos produtivos da União Europeia, convém salientar.
Se as medidas ficais atingissem indistintamente todos os escalões de rendas, seriam uma tremenda injustiça, em um país que conta com 20% da população na pobreza, segundo critérios europeus.
Ora, suas excelências reagiram, fortes no corporativismo e no ridículo de manifestações de entidade sindical de titulares de órgãos de soberania! Julgam-se inatingíveis, eficientes, e sem dívida de solidariedade com o restante do país. Julgam-se obreiros dos êxitos e escusados de serem parte em qualquer esforço nacional.
Suas excelências ganham muito bem, recebem um auxílio para morada completamente destituído de razões plausíveis e têm sessenta dias de férias, formalmente, porque na verdade são mais.
Deste outro lado do Atlântico não é muito diferente. Na verdade, parece-me pior, pois aqui, em geral, são mais arrogantes ainda, mais bem remunerados e menos produtivos. Julgam-se seres apartados da realidade social que os envolve e deles não se podem esperar quaisquer sacrifícios em nome de algo maior que a sua própria corporação.
Em tempos de crescimento econômico vigoroso, essas coisas podem até continuar, pois a pujança reduz a preocupação com os outros. Mas, esse mesmo crescimento e sua possível estabilização, levarão a que se pense nessa e noutras corporações com mais cuidado. Levará a que se ajustem seus imensos custos e se verifiquem suas reais utilidades.
Algum dia, no Brasil, será necessário verificar se precisamos deste nível de litigiosidade, se não será o caso mesmo de uma grande e deliberada encenação para justificar o movimento da máquina jurídica, de forma auto-referente. Se não há, enfim, um enorme défice e uma burla institucional somente para dar espaço à corporação jurídica.
Portugal 7 x 0 Coréia do Norte. Vitória eloquente em um dia sem erros de Carlos Queiroz. Entrou quem devia e saiu quem devia, nos momentos certos. Assim, além do grande saldo de gols, ganha-se bastante confiança.
Algo que fica mais claro, neste mundial, é a importância de marcar o primeiro gol. Até equipes supostamente bem estruturadas perdem o rumo, quando isso ocorre. São obrigadas a partirem ao ataque e podem acontecer coisas como a avassaladora investida portuguesa contra a Coréia do Norte.