Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Eisenhower adverte sobre o complexo industrial militar.

O Presidente Eisenhower parece ter-se dado conta das dimensões do monstro criado no pós segunda grande guerra mundial. O complexo industrial militar tornou, desde então, todo o discurso sobre democracia e liberdades palavras destituídas de qualquer contato com a realidade. Apenas, fórmulas a serem propagadas e repetidas acriticamente por quem não está a perceber onde e como opera o poder real.

Em tradução livre, a partir de 1:01 do vídeo, diz Eisenhower: essa conjunção de um imenso aparato militar e uma grande indústria de armas é nova na experiência norte-americana. Sua influência econômica, política e até espiritual é sentida em todas as cidades, todas as casas e em todos os escritórios do governo. Nós reconhecemos a imperiosa necessidade desse desenvolvimento, embora não deixemos de perceber suas graves implicações.

Em 1:38, a indicação do cuidado que deveria ser tomado, mas que foi impraticável, depois, como se sabe: no governo, devemos precaver-nos contra a aquisição de indesejável influência, seja voluntária ou não, pelo complexo industrial militar. O potencial para o desastroso avanço do poder mal colocado existe… Não devemos deixar o surgimento dessa combinação por em risco nossa liberdade ou nosso processo democrático.

Eisenhower foi clarividente e explícito, o que são coisas difíceis. Realmente, compreender um processo histórico passado já é bastante complicado. Compreender o momento do processo em que se vive, é mais difícil ainda. Ele esteve certo e a advertência não resultou…

A dignidade do Presidente Lula.

O Presidente no desfile comemorativo da independência.

O Presidente no desfile comemorativo da independência.

Eventualmente ainda surpreendo-me com a adequação de Lula ao exercício da Presidência da República. Claro que minha surpresa é apenas um sintoma da minha ignorância.

Há pouco mais de vinte anos, a emigração de brasileiros tornou-se bastante elevada, destacadamente para os EUA, para o Japão, e para a Europa – principalmente com destino a Portugal e Espanha. Buscavam-se condições econômicas melhores e a especificação vai aqui para distinguirem-se as saídas para estudo ou por outras motivações mais exóticas.

O país era – e ainda é – muito perverso com os mais pobres. Além da histórica precariedade relativamente a serviços básicos e a garantias fundamentais, as duas últimas décadas impusera desemprego e renda baixa.

Pois ontem, nas comemorações da independência, o Presidente Lula instou os brasileiros emigrantes a retornarem ao país. Seria impostura se o convite não fizesse algum sentido. Todavia, hoje faz, sim, algum sentido, pois a economia cresce a taxas elevadas e a oferta de empregos e a renda média crescem.

O Presidente desempenhou precisamente o que se espera de um Chefe de Estado que se dirige aos cidadãos. Disse Lula, em certo ponto do seu discurso:

Nesse momento de celebração, não posso deixar de registar um pensamento por aqueles que deixaram suas vidas ou têm vivenciado situações de penúria na busca de realizações pessoais noutros países. Estamos construindo um país de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil os espera de volta.

Minhas condicionantes pessoais não me farão negar a grandeza dessas palavras. Quero dizer que a fala presidencial não é sedutora para mim, cujos desejos de ir-me deste país não se devem a precariedades econômicas ou financeiras, mas a outras mais sutis.

Mas, é o cuidado que se espera de um Presidente com o número dos cidadãos que se viram obrigados a emigrarem por razões econômicas. Se essas condições melhoram, ele os convida de volta. Isso, definitivamente, não é alguma palhaçada, como supõe o antecessor de Lula.

A indignidade de Fernando Henrique Cardoso.

Fernando Henrique Cardoso em visita à Casa Branca.

Fernando Henrique Cardoso em visita à Casa Branca.

Hoje são passados sete dias de setembro. Nessa data comemora-se a independência do Brasil, ocorrida em 1822. É preciso dizer uma obviedade: se não fora a independência, não haveria país e não haveria presidentes dele, portanto.

Pois bem, Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil por oito anos seguidos. Recentemente, ele disse que o desfile e as comemorações do sete de setembro eram uma palhaçada. Admitindo-se que o ex-presidente seja sincero ao menos nisso, constata-se que ele presidiu a uma palhaçada em oito ocasiões separadas por um ano, cada.

Pode-se dizer que a independência do Brasil foi materialmente relativa, que é um processo longo e não uma ruptura em uma data específica, que foi comprada a Portugal com dinheiro tomado emprestado à Inglaterra, que foi tardia ou prematura, conforme se a compare com as de outros países. Enfim, pode-se dizer e conjecturar várias coisas.

O fato é que comemora-se e há os comuns desfiles cívicos e militares. E não parece que a maioria dos brasileiros ache a independência uma palhaçada, embora a população toda do país não acorra aos desfiles.

O fato é que um presidente que repute a comemoração da independência uma palhaçada pode ser um palhaço, não um presidente. Ora, a dignidade do cargo, durante e depois do seu exercício, recomendam algo semelhante à postura dos ex-presidentes norte-americanos.

Eles afastam-se a uma distância calculada dos assuntos de Estado e de governo e furtam-se à polêmica. Claro que eles mantém a influência política, mas não se envolvem no varejo político-ideológico, nem dão o cú à brincadeira a fazer declarações tolas e indignas, à guisa de estarem a serem sinceros.

Sincero consigo próprio e com as idéias que sempre foram as suas, Fernando Henrique foi todo o tempo, nomeadamente assumindo que o servilismo era inevitável e pondo-se como corretor de venda do país. Já desempenhou o papel de preposto-mor dos interesses estrangeiros no país, não precisa seguir adiante na tartufaria. Mas segue…

Maputo e os limites da propaganda.

Por que esses bárbaros acham tudo ruim?

Por que esses bárbaros acham tudo ruim?

Um indicativo seguro de algum assunto importante, ou mesmo de alguma verdade, é a insistência com que se lhe negam atualidade e realidade. De vinte anos para cá, o mantra direitista é que não há luta de classes, discurso repetido por pessoas que se pretendem inovadoras, que teriam percebido uma etapa da história que seria a própria negação dela.

Curiosamente, as mesmas pessoas que insistem na inexistência da luta de classes concebem a vida em sociedade como uma competição e abstraem despudoradamente que as condições iniciais dessa competição desconfiguram-na totalmente. Eles admitem uma competição individual e negam, ao mesmo tempo, que indivíduos com pontos em comum formam grupos. Consequentemente, a negação da luta de classes decorre de outra negação, que é essencialmente incoerente.

Claro que os níveis da propaganda variam, conforme o nível dos destinatários. O mais elementar é dizer que a luta de classes não existe porque não se materializa em conflitos visíveis e palpáveis. Ocorre que a realidade ocasionalmente infirma até a propaganda mais elementar.

Há dias que Maputo vive dias de conflitos mais e menos abertos, com saldo de vários mortos e feridos, depredações, fogueiras de pneus e outros combustíveis por toda parte. Significativamente, os conflitos são mais intensos nas zonas mais pobres da capital e de outras cidades do país. Os media usam a terminologia vandalismo, que faz supor agitações sem suporte racional, sem motivações e finalidades.

Não é disso que se trata, contudo. A revolta popular começou com os aumentos de 25% no preço do pão, o que não me parece falta de razão ou de motivação. A solução – qualquer que seja o sentido dessa expressão – foi mais violência, desta feita policial. Ou seja, fica estabelecido que as reclamações são atitudes bárbaras e sem sentido e põe-se a polícia para baixar o porrete nos insatisfeitos.

Segundo as informações do CIA World Factbook, Moçambique tem uma população à volta de 21 milhões, com idade média de 17,5 anos e expectativa média de vida de 41,18 anos! Ou seja, muita gente, muito jovem e destinada a viver pouco. A taxa de mortalidade infantil é de 105,8 mortes por mil nascidos com vida, a sétima pior do mundo.

O PIB per capita de Moçambique é de escandalosos U$ 900,00, já em critério de paridade do poder de compra. Esse indicador, para ter-se uma idéia comparativa, é onze vezes menor que o brasileiro, que ainda é muito baixo.Acresce que 70% da população encontra-se abaixo da linha de pobreza.

Ou seja, trata-se de um país extremamente pobre, extremamente desigual na apropriação das riquezas e com péssimas condições de vida. Nessas circunstâncias as pessoas deveriam estar satisfeitas, calmas e ordeiras?

De uns tempos para cá, a mesma atuação propagandística que divulga a inexistência da luta de classes, insiste também na ocorrência de um milagre econômico na África Subsaariana. Se algo extraordinário economicamente sucede nessas paragens é o aumento da exploração de recursos naturais, notadamente de petróleo e gás.

Essa exploração maximizada de recursos naturais não reverte em qualquer melhora na vida da maioria das pessoas, pois é apropriada pelas corporações que a praticam e alguns corretores delas nos países detentores dos recursos. Ou seja, na verdade, é uma espécie de saque mantenedor das mesmas estruturas concentradoras de rendas.

Ainda que se tratasse de um verdadeiro milagre econômico, com alguma alteração das estruturas produtivas internas, provavelmente seria realizado dentro da lógica concentradora e seus efeitos seriam sentidos pelos beneficiados de sempre, apenas em números absolutos maiores.

Isso é uma bomba de efeito retardado e pode-se tentar retardar mais e mais sua explosão, mas um dia acontece. As detonações preliminares podem ser contidas pelo sistema repressor do Estado, mas cada vez isso torna-se mais difícil e estimulante de maiores reações. Não é falso, absolutamente, que violência é algo que se auto-estimula.

O estranho é achar estranho que o sujeito imerso numa vida de pobreza, precariedades e horrores revolte-se contra a situação. Não é apenas arrogante intelectualmente, como é mesmo burro não perceber a insatisfação. Ela tem parâmetros exatamente nos que a chamam de estranha e bárbara. Ou seja, os dominadores são capazes de explosões muito maiores por motivos muito menores, eles mesmos são o exemplo da luta de classes, no sentido de cima para baixo!

A estratégia da negativa não é intelectualmente sofisticada, nem honesta. Mas, do ponto de vista da propaganda e da ideologia, é a única possível. Há que se convencer o dominado de que a situação dele é vontade divina – ou qualquer outro determinismo – imutável e, assim, é algo que não pode ser questionado racionalmente. Dessa forma, sendo tudo como deve ser, falar em luta de classes é anátema. O doutor Pangloss ficaria satisfeito com seu profundo êxito presente.

O problema vêm à tona quando a realidade desmente a propaganda e os propagandistas ficam, desta vez muito coerentemente, sem compreender o que acontece. E acham que o remédio é mais propaganda e mais pancada. Eles deixam de compreender porque acabam por agir como o traficante de heroína que vicia-se no produto que vende. A repetição da estupidez finda por fazer o repetidor acreditar nela.

Um paradigma engraçado na política campinense.

Sou natural de Campina Grande, não é exatamente uma cidade pequena, e tampouco é uma metrópole. É uma cidade agradável, de médio porte que já oferece alguns bons serviços e outros nem tanto assim, mas que sofre de alguns problemas das cidades grandes (leia-se: das cidades grandes do Brasil!).

Desde que me lembro, em Campina, politicamente falando, sempre existiram 2 candidatos, e ora não é de se espantar, afinal, se hoje é uma cidade de porte médio, o comum (acredito eu) é que antes fosse menor, e sendo assim, seria difícil ter a diversidade política de uma cidade “grande”. Acontece que convencinou-se de uns tempos pra cá, de chamar partidos e coligações, de grupos políticos, acredito eu que isso aconteça porque os políticos não tem identificação nenhuma com os partidos, suas políticas ou ideologias, de forma que é mais fácil identificar os políticos daqui pelas pessoas das quais se acompanham, do que pela legenda partidária. Acredito que exista fenômenos semelhantes nordeste afora.

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