Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Orla marítima, de Ruy Belo.

O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida

Como sacanear um poema.


José Luís Peixoto em seu livro “Uma Casa na Escuridão*”, escreveu isso que Antônio Abujamra cita, não que seja uma citação ruim, afinal de contas foi a partir dela que eu cheguei no José Luis. Mas afinal sabendo-se que na verdade, a citação “completa” fala mais de amor do que de filosofia e/ou desengano, o que cabe melhor!? Talvez a obra toda seja a melhor pedida, de qualquer forma, vai outra citação, com esse mesmo trecho escolhido pelo Abujamra.

EXPLICAÇÁO DA ETERNIDADE

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo nao é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe,
no entanto, a eternidade existe,
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos,
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até o fim.

José Luís Peixoto (Galveias, Portalegre 4 de setembro de 1974, Portugal), é um escritor e dramaturgo português.

* – O nome do livro, após pesquisas incansáveis, vi que podem ser dois “Uma Casa na Escuridão” e “A Casa, A Escuridão”. Aviso para que ninguém pague pelo meu erro.

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