Transcrevo, adiante, a postagem do blogue do Paulo Henrique Amorim chamada A fonética do Ministro Marco Aurélio e o “I”. Paulo Henrique é o jornalista e blogueiro brasileiro mais inteligente e de escrita mais elegante e simples que há. Às vezes, supera mesmo o padrão elevado que tem.
Este ansioso blogueiro assistiu a trechos da votação da Ficha Limpa – clique aqui para ler “Fux ilumina o STF – ele aqui e o Gilmar lá”.
Este ansioso blogueiro se impressionou com alguns traços do Ministro Marco Aurélio de Mello, ao anunciar seu voto.
Tão impressionado que decidiu recorrer ao notável professor de fonética Henry Higgins, que o amigo navegante conheceu no My Fair Lady.
– Professor Higgins, de onde vem aquele “l” final das frases interminaveis do Ministro Mello ?
– Quisera eu saber, my dear, respondeu com humildade.
– É um “l” que se prolonga, que não tem fim, que parece que vai esbarrar no próprio eco.
– Meu filho, na língua portuguesa, normalmente …
– Normalmente, interrompi.
– Sim, normalmente, o “l” se pronuncia como um “u”. Fauta, pauta, brasiu, funiu, tiziu …
– Sim, mas o “l” do insigne ministro não se rebaixa a um “u” …
– Repare que os gaúchos ás vezes empregam o “l” como em Portugal. Assim, mais longo, puxado para cima
– Sim, mas isso é em Portugal.
– O “l” , meu filho, sai quando o ar passa pelos cantos da boca, ao lado da língua – é assim que é pronunciado.
– Isso, normalmente, no Brasil. E como sai o “l” do Ministro ?
– Ele nasaliza o som e provoca uma vibraçãozinha, como se o “l” fosse uma consoante uvular e não é.
– Calma, professor Higgins. Não precisa esbanjar … mas, por que há essa promoção do “l” à nobre categoria da consoante uvular ?
– Pedantismo, meu filho. Só pedantismo.
– Outra pergunta, notável professor Higgins: o senhor reparou que o dedo indicador do insigne Ministro não indica, não aponta para a frente ?
– Como assim ?
– Na hora agá, professor, o dedo indicador fica no meio do caminho. Ele imbica para baixo. Interrompe a trajetória prevista. Ele dribla o espectador.
– Você já ouviu falar em “body language”, não é isso ?
– Sim, linguagem do corpo.
– Claro, respondeu o professor Higgins. É a mesma coisa. Chamar a atenção, afetação.
– O senhor sabe quem inventou essa tragédia ?
– Qual delas ?, ele pergunta.
– A transmissão ao vivo da sessão pública do Supremo, pela TV.
– É pior que uma tragédia. É ridículo !, sentencia Higgins.
– Pois, o pai do ridículo é o Ministro Marco Aurélio de Mello, quando Presidente do Supremo.
– Eu desconfiava. Elisa me disse qualquer coisa sobre isso.
– E o dedo indicador que não indica mas imbica ?, pergunto.
– Pedantismo !
– O senhor recomendaria algum gesto que chamasse ainda mais a atenção do Ministro Mello no horário nobre ?
– Sim, sim, claro. Ele poderia imitar aquele truque genial do Marlon Brando no Poderoso Chefão
– Qual, professor ?
– Colocar algodão no vestíbulo, entre a gengiva e o lábio superior. Ninguém sabe bem por que, mas teve um efeito espetacular ! Sucesso total ! A frase mais banal parecia primorosa !
– Mas, aí, professor, o Ministro vai perder o “l” uvular.
– Meu filho, ele tem que escolher. A vida no horário nobre é feita dessas escolhas.
Pano rápido!
Paulo Henrique Amorim