O crime contra o patrimônio em evidência, no Brasil, é a explosão de caixas de bancos. Por todos os lados, explodem-se caixas de levantar dinheiro na rua, com dinamite. Quando isso não machuca alguém que nada tenha a ver com a coisa, acho até engraçado e engenhoso meio de roubar os bancos, afinal eles merecem.
Evidentemente, isso virou notícia de jornal televisivo. Não vejo muito televisão, e jornais apenas da Bandeirantes e da Record. Não que sejam bons, mas são menos ruins que os da Bobo, esses insuportáveis em pedantismo, mentira e dramaticidade de problema inexistente.
Eis que o jornal da Bandeirantes falava nas tais explosões, havidas em São Paulo. Houve delas no país inteiro, mas precisou acontecer no centro de São Paulo para ser relevante. E, lá pelas tantas, a apresentadora diz: segundo especialistas, essa é a forma escolhida pelos ladrões porque conseguem dinheiro com menos riscos.
Segundo especialistas? Quais especialistas são tão especiais para dizer-se uma obviedade dessas? Todos os crimes que visam a dinheiro e são praticados por ladrões um pouco acima da barbárie total visam a dinheiro e aos menores riscos. É claro que o meio foi escolhido por ser o mais eficaz, ou seja, o de maior retorno com menos riscos.
Precisava de um especialista para diagnosticar essa evidência? Sim, porque há especialistas para tudo, incluindo-se o óbvio mais óbvio. Aquilo que qualquer pessoa sabe, ela deixa de saber, porque está acertado que é assunto para especialistas, como tudo. Não se ousa dizer que uma coisa é como sempre se supôs que fosse, porque será âmbito de alguma especialidade e, portanto, ninguém deve aventurar-se nela como se fosse coisa comum.
Claro que o óbvio continua a ser a maior parte das vidas. Em conversas particulares, de cafés e bares e locais de trabalho, o óbvio está impregnado como o óleo nas engrenagens de uma caixa de mudanças. Mas, as mesmas pessoas que obviam suas vidas nas conversas comuns, aceitam que as obviedades sejam subitamente elevadas a coisas de especialistas, nos jornais televisivos e solenes.
Os pontos de vista mudam. Alteram-se na passagem do à vontade para o à sério, embora ambos girem em volta da mesma coisa, uma obviedade! Ela consegue ser duas, sendo uma e só uma, conforme seja trivial ou seja adornada de circunstância por um agente dador de seriedade, o especialista.