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A revolução da construção, a autopista e quando o baixo não é mais a base de uma música.

Um texto de Alcides Moreira da Gama.

Existe algo de fascinante nas músicas, mesmo naquelas que pessoalmente não apreciamos, porque, sem explicação, ela consegue mexer conosco. Mais fascinante ainda são as pessoas cujos dons musicais comovem. Não tenho dúvida de que já nasceram com esses dons.

Um instrumento musical que consegue me impressionar é o baixo. Normalmente ele é utilizado para dar base às músicas. É como um alicerce cujas paredes e teto são construídos sobre ele. Previsivelmente, é isso que se espera de um baixo: a música é montada tendo-o como base. Quando são medianamente tocados, suas notas são previsíveis. Supõe-se que, quando é tocado sem muita expressividade, ao ouvirmos uma música qualquer, já deduzimos em qual tempo e tom a nota será emitida. Mentalmente e quase inconscientemente já antevemos e aguarmos aquela nota que será tocada, até que ela é emitida, confirmando o que já era esperado.

Mas há casos que extrapolam a normalidade, e a surpresa de cada nota milimetricamente tocada no devido tempo musical é um espetáculo à parte. O que era uma previsibilidade quase monótona – o que se espera de um baixo tocado sem muita expressão – é um espanto e sobressalto a cada nota musical lançada. O ouvinte fica pasmado, quase congelado. A imprevisibilidade e eloquência das notas do baixo assim tocado tomam conta de todo o enredo musical. É um prazer inesperado para o ouvinte, que tem a sensação de que, embora cada nota seja temporalmente calculada, a imprevisibilidade impera.

É o que se pode dizer de revolução na construção: é quando o alicerce deixa de ser alicerce, e as paredes e teto passam a ser a base; é quando o baixo deixa de ser a base da música, e a música se torna a base para o baixo; é quando a música serve de autopista para o baixo desfilar sobre ela. Aí está a demonstração:

O forró, o “for all” e a kizomba.

De uns anos pra cá, geralmente na época do São João, surge uma estória de que o nome “forró” seria o aportuguesamento de “for all”, e que seria usado por soldados americanos para falar de festas “para todos” (tradução ao pé da letra de “for all”) onde tocava a música que hoje se conhece por forró… Logo o nome do nosso estilo musical nordestino, nos teria sido presenteado, até isso, pelos americanos.

Acho que além de inverídica, para não dizer estapafúrdia, a estória contada nos deprecia… O que se chama de cultura, e nos chega desde os Estados Unidos da América, não é exatamente algo que eu diga que tenho orgulho da influência, em nossos regionalismos, sabendo que, hoje em dia, há até mesmo cópias de músicas em inglês, adaptadas apenas ao nosso ritmo. Esse tipo de estória aparece, e fica nessa obscuridade, até por improbalidade, não se pode provar o contrário, e talvez por isso mesmo, ganhe ares de coisa séria.

A kizomba é uma dança africana, de Angola, onde há um baile muito parecido ao de nosso forró, apesar do ritmo ser bastante diferente. Isso é fácil de ver e provar. Mas penso que dizer que forró é “for all”, e que veio dos EUA, gera, para algumas pessoas, mais estatus, do que dizer que aprendemos a dançar com os africanos e que o forró parece MUITO com a kizomba!

Deixo vocês com uma pequena aula, olha só o “passo base” e diz se não é forró direitin! =)

The Beatles – Rocky Raccoon.

Não por acaso, Rocky Racoon é a ultima música que entra na lista, é que tambem é pra ela que eu mais gostaria de chamar a atenção. Pra galera que diz que Beatles é iêiêiê, de forma pejorativa… Triste… =)

http://www.youtube.com/watch?v=wNRH7_Kd5Yc

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