Para qualquer corpo social, uma nação, por exemplo, fazem algum sentido as datas comemorativas cívicas. O dia de independência, o dia da deposição duma ditadura, o dia de proclamação de república, são coisas que convém manter na memória coletiva.
Contrariamente, as celebrações oriundas dos interesses do comércio, em que todos sentem-se obrigados a darem presentes ao celebrado, não têm qualquer espontaneidade subjacente à sua instauração. Essas são as datas arbitrárias que se convencionaram como dias de mães, de pais, de crianças, de namorados, disso e daquilo.
Pouca atividade neuronal é necessária para compreender que esses dias são artificiais construções que não elevarão alguma estima que haja, nem farão surgir a estima faltante. Essas coisas vulgarizam a gentileza e o afeto, posto que lhes reservam um dia especial, como se todos os dias não prestassem.
Interessante é notar que as grandes insinceridades quase sempre deixam-se revelar pela frieza ou pela artificialidade indisfarçável, por um lado, e pela intensidade das gentilezas que se fazem fora das datas convencionais, por outro.
Dar presentes por obrigação é algo destituído de qualquer sentido, mesmo de sentido afetivo. O inverso confirma isto: as grandes ofertas, as grandes gentilezas se fazem totalmente independentes de obrigações e de datas fixas.