Costumava ver mais futebol que atualmente. Isso era de 1998 para trás, no tempo em que era vivo um tio que gostava muito de futebol; na casa dele eu estava frequentemente e víamos muitos jogos pela televisão.

Lembro-me de Luis Figo a jogar desde antes de 1998. Não há qualquer erro de datas, porque o futebolista é dois anos mais velho que eu e estava já em evidência, no Barcelona, quando eu assistia o campeonato espanhol assiduamente.

Minha primeira impressão foi que era um jogador muito habilidoso nos espaços curtos e médios. Depois, que era um jogador relativamente forte, com o centro de gravidade baixo, ou seja, difícil de derrubar.

Não como Maradona, o paradigma do jogador baixo, forte, habilidosíssimo, da bunda grande, pernas abertas, a bola colada aos pés, dificílimo de por no chão exceto com grande violência, mas Figo fugia ao comum.

Comecei a suspeitar que Figo driblava muito para trás aqueles dribles largos e aparentemente fáceis. Mais depois e quase contemporaneamente, percebi que o passe depois do drible para trás era sempre certeiro, para o meio e para um companheiro que tinha obtido espaço por conta das firulas do Figo.

Adiante, percebi que o homem chutava muito bem a gol. Chute forte, tiro tenso, a longa distância. Nada como Cristiano Ronaldo, mas tampouco desorezível em alguém com outras qualidades. Percebi o óbvio, que Figo corria o jogo inteiro.

A síntese da minha penúltima consolidação de pensamento foi que ele era laboriosíssimo, ou seja, que era um jogador muito disposto e trabalhador para a equipe. O homem corria o jogo todo, não considerava perdidas certas bolas e ainda conseguia ver onde estavam os companheiros a receberem passes certeiros.

Por fim, percebi que Figo era um excepcional jogador, precisamente por ser tudo que vinha percebendo aos poucos: habilidoso, dedicado, corredor, bom passador, difícil de parar com falta, bom chutador, organizador do jogo, cadenciado.

Com ele, aposentou-se o elemento fundamental da equipe portuguesa. Aposentou-se a inteligência.