Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Entreguismo e a mudança que não foi.

Tornou-se lugar-comum nas discussões políticas brasileiras o tipo que foi, supostamente, esquerdista, no período inicial da ditadura inaugurada em 1964, e que, depois, mudou de idéia, porque viu a luz na estrada de Damasco.

Essa gente diz que teve um dia posições de esquerda, mas que, depois, chamados a ocuparem os postos-chaves do Estado, tiveram que assumir compromisso com a verdade única e religiosa que se travestia em economia.

Ou seja, já governantes, governaram para todos os interesses alheios aos do seu país, porque isso era inevitável e mais, porque isso seria bom inclusive para o próprio país. Revela uma capacidade de mentir extraordinária.

A insistência no destino imutável é de se notar. Imutável e impossível de ser diferentemente era tudo aquilo que seus patrões lhes impunham e que eles se empenhavam em vender ao público pagante, com a ajuda sempre preste de uma imprensa voltada aos mesmos fins.

Casos clássicos são os do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro e ex-governador de São Paulo José Serra.

Essa mudança não houve, nem como aceitação póstera de suborno. O suborno foi aceito desde o princípio de suas atividades políticas e acadêmicas. Acadêmicas, aqui, vale apenas para Fernando Henrique, porque José Serra não se graduou em coisa alguma.

Eles contaram com financiamentos da Fundação Ford e da CIA, desde os inícios, como é o caso do CEBRAP. Foram comprados desde o início e muito significativo é que seus esquerdismos não tenham causado grandes embaraços a eles, em plena ditadura de extrema direita.

Essa gente não mudou, ela sempre foi a mesma coisa, apenas disfarçada ao início…

Posso chamar Fernando Henrique Cardoso de patético? Ou de farsante?

Não o posso chamar de ladrão – e não o faço aqui – porque não tenho provas e porque seria um tanto vulgar além da medida. Mas, de patético ou de farsante, posso?

Bem, o sujeito é acadêmico das academicices franco-brasileiras. O termo qualificativo, assim junto, é de significação complexa, pois vai além da mistura dos dois adjetivos gentílicos.

Se fosse só acadêmico francês, na idade dele, poderíamos supor leituras de Levi-Strauss, de Lefebvre, dos franquefurteanos tão aparentemente franceses; poderíamos supor um grande intelectual, contemporâneo de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault. Poderíamos até decepcionarmos-nos por não ter resultado em obras como as desses últimos. Poderíamos achar natural uma e outra cópia, que esses franceses copiavam-se muito…

Se fosse só acadêmico brasileiro, com a idade dele, com o prestígio biográfico que tem, poderíamos supor que serviu ao governo de João Goulart, ou até, por precocidade que a grandeza permite imaginar, ao de Juscelino. Mas, não.

Se fosse só o filho do General Leônidas Cardoso e sobrinho do General Felicíssimo Cardoso, Fernando seria mais facilmente apreensível. Quanto a isso, quem quiser procure saber o que os tais Generais achavam de filho e sobrinho, em episódio sobre a campanha O Petróleo é Nosso.

O problema é que Fernando Henrique era e é precisamente um acadêmico franco-brasileiro, assim mesmo com o qualificativo gaulês na frente. Curiosamente, tanto francês, como brasileiro, revelam seu embuste, sua inclinação para a farsa calcada na superficialidade intelectual paralela à extrema objetividade política. Ele é cálculo, e tão bem-feito, que não foi para Harvard ou Yale. Só tinha que ser em Paris!

Muita gente sociologizava e filosofava nas grandes universidades brasileiras, antes do golpe militar e civil de 1964, que instaurou uma ditadura reticente em aceitar o nome. Antes do golpe, essa gente falava e escrevia coisas que seriam repudiadas pelo pessoal que se instalaria no poder, por vinte e um anos. Parte deles ficou no país, parte saiu. Uns, saídos, voltaram logo. Dos que voltaram logo, muitos apegaram-se ao fato de terem saído, após a chamada redemocratização: era uma boa marca a se vender.

Alguns saíram porque podiam, e era mais aprazível viver em Paris ou em Boston que aqui. É difícil imputar certos comportamentos apenas ao cálculo, porque significaria supor inteligências maiores que eles mesmos acreditam ter e fizeram o público crer. Mas, sinais de farsa não faltam.

Fernando Henrique era o sujeito que voltou ao Brasil com a lei de anistia, a lei de auto-anistia do regime ditatorial. Caberia pensar se teria saído obrigado, ou se apenas foi viver em locais mais agradáveis, ou acrescentar ao seu currículo trabalhos em universidades mais famosas. Mas, o principal é que era um retornado e isso contava pontos.

Era, mas deixou de ser, rapidamente. Ele rompe com a imagem do esquerdista que foi banido pela ditadura e assume as vestes do moderno sem coloração ideológica. E, fá-lo antes do tempo em que isso era óbvio politicamente. Nisso, é profundamente sagaz.

A sagacidade na escolha do disfarce revela, todavia, um sujeito sempre pronto à mutação. Ou, talvez, ao retorno sem riscos à posição de sempre ou, quem sabe, revela o que teriam achado pai e tio…

Pois bem, Fernando Henrique foi grande acadêmico franco-brasileiro, foi morador de Paris, é filho e sobrinho de Generais do Exército Brasileiro, foi político que se aproveitou do ter-se exilado e foi Presidente da República. Neste último posto, disse que introduzia o Brasil na modernidade do capitalismo que não precisa de Estado. Vendeu o que deu tempo de vender.

Faz nove anos que Fernando Henrique deixou de ser Presidente da República. Está pelos oitenta anos, pois nasceu em 1931. Podia estar quieto, não pela idade, mas pelo tempo, que são coisas diferentes. Mas, não.

O ex-Presidente escreve um livro chamado A Soma e o Resto, que é uma biografia dele, por ele. Curioso, Henri Lefebvre escreveu uma autobiografia chamada La Somme et le Reste, em 1958. Uma coisa é certa, Fernando Henrique sabe francês…

Fernando Henrique Cardoso não conhece Biotônico Fontoura!

História realmente deliciosa, contada no site de Luis Nassif, que afirma tê-la ouvido um dia desses. Dá idéia da tartufice e da artificialidade de Fernando Henrique Cardoso. Fantástica, mesmo.

Um homem absolutamente incapaz de perguntar o que era aquilo que lhe serviam, porque evidentemente o sabia, embora não o soubesse. E absolutamente convicto de que o levam a sério. Notável! Fernando Henrique não pode desconhecer algo, não pode deixar de estar seguro em qualquer situação. Afinal, Fernando Henrique não sabia o que era Biotônico Fontoura, não deve saber o que é um Porto Cansado e nem o que é o ridículo.

História deliciosa que ouvi dia desses.

Na campanha de 1989, FHC correu toda a região da Bragantina, em campanha. Teve um encontro com correligionários na chácara de meu então sogro, seu Aguirre, em Bragança. Na caminhada, foi a Monte Verde que, embora em Minas, tinha uma chácara com amigos paulistanos. Chegou lá e só estava a filha do dono. Com a despensa vazia a moça procurou algo para servir. Viu um frasco com um licor, bem vedado com durex. Abriu e serviu.

FHC sorveu o precioso líquido e identificou logo o sabor: “Parece um Porto cansado”, referindo-se ao vinho do porto, devido à nata depositada no fundo.

FHC elogiou tanto que a moça temeu ter servido algum licor precioso que a mãe tinha guardado para ocasiões solenes. Voltando para casa, a moça foi se desculpando com a mãe, por ter violado a preciosidade.

E a mãe: “Mas, minha filha, aquilo era Biotônico Fontoura que eu coloquei no frasco para enfeitar a cristaleira”.

Fernando Henrique Cardoso, maconhófilo.

Agora eu percebo as coisas. Fernando Henrique Cardoso, o Sábio, falava sempre em código, por Sábio, naturalmente. Deixava caírem gotas de sua sapiência, a serem recolhidas somente por iniciados que participassem do mundo da sabedoria e, portanto, pudessem decodificar a mensagem.

Fernando Henrique é a figura que escreveu dois ou três livros postulando coisas difíceis de entender, talvez porque não dissesse nada, afinal.

Passados anos, faz-se presidente da república e clama pelo esquecimento de tudo quanto escrevera, talvez em estalo de arrogância, a supor que muitos o haviam lido.

Presidente por oito anos, Fernando Henrique alinhou-se à política de war on drugs, aquele embuste norte-americano que serve às companhias de armas e de serviços mercenários. Além de ter destruído vastas plantações de milho e batatas, na Bolívia, no Peru e na Colômbia.

Agora, nove anos sem ser presidente, Fernando Henrique surge como um grande maconhófilo, defensor da liberação ampla e irrestrita dos entorpecentes ilícitos!

Não vou mentir, estranhei e inclinei-me a crer que era pura e simples impostura. Mas, nada que um pensamento mais calmo não afastasse.

Percebi que duas coisas se ligavam, na obra e trajetória do Sábio. Ligavam-se por fios tênues e sutis, como são as coisas sábias.

Quando Fernando Henrique dizia que esquecessem seus escritos, já estava aí o Fernando Henrique maconhófilo! O grande homem já nos dava o enigma e a chave dele!

Fumem maconha, relaxem e esqueçam o que escrevi, era a mensagem que só hoje, tardiamente, percebo…

Fernando Henrique Cardoso está senil?

Não me conto no número dos que se envergonham de usar os termos direita e esquerda. E também não estou entre aqueles que evitam os termos classe dominante e dominada.

Com relação a esquerda e direita, além de tratar-se de coisas distintas, é qualificação útil para falar-se de política, independentemente de qualquer carga valorativa. Ou seja, existem os lados de esquerda e de direita e isso não significa que existam os lados bom e mau, que isso é lógica binária de pastor evangélico.

Dominantes e dominados é uma díade muito mais interessante, porque atravessa um largo espectro social e econômico.  Os dominantes no topo da sociedade tentam impor a não utilização do termo, porque a dominação mais efetiva impõe o próprio disfarce.

No sentido contrário, é válido afirmar que quanto mais ostensiva uma afirmação de domínio, menos efetiva ela é. O domínio profundo é aquele que se nega, que se esconde, que não se vê e não se percebe muito claramente. A ele convém ser assim nebuloso, porque o que não se vê não se ataca.

De uns tempos para cá, uma parte mais restrita da classe dominante brasileira, a parte mais aparentada ao financismo, enfrenta dificuldades em fazer a maioria da população comportar-se explicitamente contra si própria. Ou seja, perdeu um pouco a capacidade de enganar os dominados.

Assim, perdeu também três eleições presidenciais. Estranhamente, dá sinais de não perceber as razões disso, o que é deveras preocupante, como o viciado em estupefaciantes que não percebe o vício. Nada obstante, em lamentável falta de pudor, expõe sua incompreensão publicamente, como um lamento de ideólogos.

Essa indignação não tem mesmo razões para ser tão profunda. O povo não se tornou, de uma hora para outra, conhecedor das coisas, instruído ou liberto das amarras e disfarces que lhe turvam a visão. É, basicamente, o mesmo de sempre, enganado, ignorante, incapaz de distinguir o que está por trás do jogo mediático e político; premido pelas circunstâncias do dia-adia.

O que aconteceu, para que o povo não escolhesse os maiores dominantes, ou seja, para que não votasse contra si próprio novamente, foi simplesmente que os dominantes passaram dos limites do razoável na dominação. Aprofundaram o que já era muito profundo.

Acreditaram que era possível seguir aprofundando desde que as Globos, Vejas e Folhas seguissem seu bombardeio de mentiras e desinformação. Há precedentes desse tipo de engano. Adolfo Hitler acreditou em Göering, quando este assegurou que a Luftwaffe abasteceria as tropas da frente oriental. Ele precisava acreditar!

Mas, não deu. O modelo da gente representada por Fernando Henrique é concentrador demais, exclusivista demais, menos intelectualmente requintado do que pretende, mais vil do que uma e outra privatização sugere. É absurdo que um modelo de predação – quase aleatório – tenha chegado a crer-se um projeto de poder de longo prazo, o que evidentemente não era.

Que um e outro ideólogo forjado na ditadura mergulhe na impostura de reclamar do sistema político, como se fosse um democrata visceral, não surpreende. Não há o direito a enganar-se ou surpreender-se com farsantes que estiveram, em determinado momento, no lugar de evidência política, a revelar nada mais que oportunismo.

Todavia, que Fernando Henrique Cardoso tenha atitudes que permitam questionar sua inteligência é de surpreender mesmo. Não que seja o autor que ele, Fernando Henrique, supõe-se. Mas, o homem foi presidente da república por oito anos, foi o corretor – mor de venda do país por oito anos.

Ele foi ungido pelos dominantes e por significativa parte dos dominados. Não é um qualquer, portanto. Ele é o chefe de um partido, o representante na política de grande parte da classe dominante brasileira. Ele representa, no Brasil, interesses estrangeiros os mais variados. Ele costumava ser um homem de bons modos, de gestos corteses, de fala mansa, embora balbuciante e repleta de erros que nunca reconhecerá.

Pois Fernando Henrique diz que seu partido político – em provável marcha para a extinção – deve apoiar-se nas classes médias, deve identificar-se com elas, defender seus interesses. Que não deve preocupar-se em manter alguma interlocução com o povão. De minha parte, agrada-me bastante que sigam essa receita, pois assim precipitam-se de vez.

Fernando Henrique deve ter conhecimento bastante de que as classes médias são o que há de mais próximo, em termos de sinonímia, de ingratidão. Não há uma classe ou estrato social menos confiável que a média, nem menos dotada de honorabilidade.

A razão disso é que se julga meritocrática, ou seja, que se julga devedora de ninguém. Acredita que as migalhas que recebe de cima, ganhou-as por direito próprio ou divino. Acredita mesmo! É absolutamente incapaz de reconhecer sua incapacidade, sua pequeneza, suas dívidas sociais.

Crê-se plena, suficiente, devedora de si própria, apenas. Todavia, vende-se por qualquer coisa e depois não se considera corrupta ou corruptível. Ou seja, se fosse uma pessoa só seria o tipo do perfeito patife que ganha algo, mata o doador, sai a difama-lo e a elogiar-se a si próprio.

Fernando Henrique acha mesmo que um projeto político sério e grande pode apoiar-se nas classes médias brasileiras? Elas não admitem recuos em termos sociais e econômicos, porque crêem que suas posições são estáticas e imutáveis. Sua visão não é dinâmica, porque tomam o ponto de referência como ponto de partida.

Fernando Henrique não ganhou a terceira eleição presidencial exatamente porque levou a concentração a nível tal que implicou perdas para as classes médias. Elas não perdoam! Agora, ele convida seu partido a ser o representante das classes médias! Pode ser efeito da senectude.

 

 

 

Fernando Henrique Cardoso e o doente imaginário.

Na magnífica peça O doente imaginário, de Moliére, o médico tinha sempre a mesma receita para todos os males: purgar, dar clister e sangrar. Pouco importava a doença ou mesmo se ela existia realmente.

Advertido pelo Julinho da Adelaide, em comentário à postagem Europa: baixar salários e aumentar impostos. Eles só pensam nisso?, percebi que alguns grupos atuam segundo a lógica do médico da peça de Moliére.

Fernando Henrique Cardoso, o erudito iniciado nos mistérios eleusinos, foi esse médico por oito anos seguidos e ainda não despiu o jaleco. Durante seu consulado, o Brasil viu o desemprego aumentar constantemente. Ele propunha como remédio restrições aos direitos laborais e previdenciários, que seriam um arcaísmo a impedir a entrada no paraíso.

Os direitos laborais foram basicamente mantidos e os previdenciários recuaram um pouco. Agora, vigorando a mesma legislação trabalhista, criam-se milhares de empregos, a provar que o problema não eram as leis. Prova evidente, é bom que se diga, mas insuficiente para o médico buscar compreender outras terapêuticas.

Não me atrevo a supor que Fernando Henrique tenha a monomania do médico de Moliére por desonestidade, ou seja, por ter sido cooptado para isso. Não, ele não agiria por tais motivações, ele que é o fiador de um período em que nenhum negócio fez-se sobre que pairassem quaisquer suspeitas.

Fico constrangido de ter que flertar com a explicação que resta, ou seja, de que o homem que passeou com Aristóteles, assessorou  Constatino no Concílio de Nicéia, poliu lentes com Spinoza, esteja errado. Pior, esteja e continue a estar, refém de uma monomania de purgas, clisteres e sangrias.

Outra mania interessantíssima era que a venda de tudo quanto fosse estatal seria remédio para os défices públicos. Vendeu-se o que se pode vender e os défices aumentaram.

Recentemente, o Estado brasileiro aumentou sua participação acionária na quarta maior companhia do mundo, a Petrobrás. Foi na operação de aumento de capital realizada há quinze dias, a maior do gênero já ocorrida, convém apontar. Curiosamente, andaram juntas uma maior estatização e a diminuição do défice público.

Como é possível isso?

A indignidade de Fernando Henrique Cardoso.

Fernando Henrique Cardoso em visita à Casa Branca.

Fernando Henrique Cardoso em visita à Casa Branca.

Hoje são passados sete dias de setembro. Nessa data comemora-se a independência do Brasil, ocorrida em 1822. É preciso dizer uma obviedade: se não fora a independência, não haveria país e não haveria presidentes dele, portanto.

Pois bem, Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil por oito anos seguidos. Recentemente, ele disse que o desfile e as comemorações do sete de setembro eram uma palhaçada. Admitindo-se que o ex-presidente seja sincero ao menos nisso, constata-se que ele presidiu a uma palhaçada em oito ocasiões separadas por um ano, cada.

Pode-se dizer que a independência do Brasil foi materialmente relativa, que é um processo longo e não uma ruptura em uma data específica, que foi comprada a Portugal com dinheiro tomado emprestado à Inglaterra, que foi tardia ou prematura, conforme se a compare com as de outros países. Enfim, pode-se dizer e conjecturar várias coisas.

O fato é que comemora-se e há os comuns desfiles cívicos e militares. E não parece que a maioria dos brasileiros ache a independência uma palhaçada, embora a população toda do país não acorra aos desfiles.

O fato é que um presidente que repute a comemoração da independência uma palhaçada pode ser um palhaço, não um presidente. Ora, a dignidade do cargo, durante e depois do seu exercício, recomendam algo semelhante à postura dos ex-presidentes norte-americanos.

Eles afastam-se a uma distância calculada dos assuntos de Estado e de governo e furtam-se à polêmica. Claro que eles mantém a influência política, mas não se envolvem no varejo político-ideológico, nem dão o cú à brincadeira a fazer declarações tolas e indignas, à guisa de estarem a serem sinceros.

Sincero consigo próprio e com as idéias que sempre foram as suas, Fernando Henrique foi todo o tempo, nomeadamente assumindo que o servilismo era inevitável e pondo-se como corretor de venda do país. Já desempenhou o papel de preposto-mor dos interesses estrangeiros no país, não precisa seguir adiante na tartufaria. Mas segue…

Fernando Henrique por João Ubaldo: o senhor é um sociólogo medíocre.

Um amigo (não lhe perguntei se poderia dar a autoria da indicação) indicou-me a leitura de um artigo de João Ubaldo Ribeiro, publicado em 25 de outubro de 1998. Na ocasião, Fernando Henrique Cardoso acabava de vencer o pleito eleitoral em que reelegeu-se presidente da república brasileira.

Então, dois fatores mostraram-se essenciais para esse sucesso eleitoral. Primeiramente, o congresso nacional aprovara, às pressas, uma emenda constitucional que permitia a reeleição. Fala-se – não à boca pequena, mas explicitamente – que o congresso foi seduzido materialmente pelas hostes fernandinas. Em segundo lugar, o presidente manteve, à custa de caros empréstimos externos, a moeda, o real, artificialmente valorizado, criando artificial riqueza. Pouco depois, a realidade apresentou-se e o real desvalorizou-se!

O artigo voltou à tona, porque cogita-se que a vaidade fernandina vai levá-lo a postular uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Realmente, como aponta Leandro Fortes, de cujo site copiei o texto de Ubaldo, não é escândalo grande a eventual entrada de Fernando Henrique nesse clube de muitos iletrados. Segue o artigo:

Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro

25 de outubro de 1998

Senhor Presidente,

Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.

Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.

O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.

Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.

Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.

Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.

Remissão ou fim do mundo?

O Chile foi palco de outro terremoto devastador, digo outro por dois motivos, primeiro porque na década de 60 ocorreu lá, o mais forte terremoto registrado, de 9,5 pontos na escala ritcher. Segundo, porque esse ano houve já, um grande terremoto de dimensões catastróficas, no Haiti.

A notícia que correu o mundo ontem, foi provavelmente a notícia do terremoto do Chile, com vídeos no youtube e cobertura online dos quatro cantos do mundo, afinal tragédia alheia vende pacas, e eu fui um dos que comprou, talvez não bastante, mas o suficiente. Mas além dessa, houve outras, não tão quentes, mas reveladoras.

Duas dessas notícias eu li porque, por acaso, caiu em minhas mãos um Jornal do Comércio, a primeira é que fernando cardoso, num desses eventos criados para sua presença (provavelmente), fez, a meu ver, uma coisa inusitada, defendeu a descriminalização não só da maconha, como de outras drogas, pois “a política de guerra às drogas não está funcionando”. E ainda chamou reacionários aos que são contra a idéia, especificamente setores da ONU que são contra essa posição na américa latina. Está na página 11 do caderno Brasil do JC.

Não bastasse essa notícia, no mesmo caderno na página 16, diz que a Corte Constitucional Colombiana, rejeitou proposta feita por Uribe, aquele mesmo do futebol de cabeças, para realizar um consulta popular a respeito de um possível terceiro mandato. O impressionante na matéria, é que ele aceitou a decisão da Corte, e segundo está escrito, disse que era “preciso respeitar a norma legal”.

Quando soube da catástrofe no Haiti, torci para a natureza subir, leia-se, um furacãozinho nos Estados Unidos, ou algo parecido, quem sabe o segundo grande terremoto do ano ser lá??? Não deu certo, desceu, veio pro Chile, e depois dessas duas notícias fico pensando, será que o fim do mundo começou por aqui (como se já não tivéssemos problemas suficientes)? E se não, porque  será que esses dois estão buscando? Remissão? Redenção? (Enganação?)

Ai fico danado lembrando da letra dos “Strokes“, o fim, não tem final

Severiano Miranda