O governo norte-americano vive aqueles deliciosos momentos precedentes a uma grande guerra, que se fará nos interesses de Israel e de meia dúzia de banqueiros, fabricantes de armamentos e vendedores de petróleo. Deve ser algo muito excitante, realmente, isso de gozar os momentos que antecedem à declaração, ao bombardeio mediático, aos bombardeios explosivos, à matança generalizada. Sangue! É bom, todos que comeram uma picanha mal-passada sabem-no.

Que os países façam guerras, é coisa que se explica pela lógica da dominação e da permanência; pela lógica da dominação interna por certos grupos; pelos interesses econômicos de alguns. Mas, dizer que uma guerra é justa, ou qualquer outra tolice desse tipo, que visam a inserir explicações analógicas para uma questão de interesses, é agressivo e revelador.

A guerra precisa de justificativas. Ela, que é o rompimento com as explicações, as regras, a civilidade, precisa de justificativas. Ela levou as pessoas ao paroxismo de teorizarem um direito a ela próprio! Um direito da guerra é das maiores contradições em termos que se podem conceber, porque a guerra é a superação de qualquer direito.

Os EUA precisam fazer a guerra, como precisaram todos os impérios. O povo também precisa dela, porque as migalhas que lhes restam caem das mesas dos que ganham muito com o belicismo contínuo. Não há inocentes, embora haja enorme diferença na apropriação dos ganhos e na composição das infantarias.

É preciso dizer que se vai matar os outros porque eles são inferiores. E, não basta que sejam inferiores tecnicamente, eles têm que ser inferiores segundo o mais intangível dos critérios: eles são inferiores moralmente. São maus, os inimigos, e guiam-se só e só por instintos malvados; não são apenas diferentes nos interesses, falar e trajar, são maus em oposição aos bons.

Eu mato e mato e mato porque sou bom, porque os mortos são ruins, porque, afinal de contas, sou ungido de Deus e ele deu-me licença absoluta para, em nome Dele, matar. Eu não mato porque quero enriquecer ou submeter o outro à escravidão, apenas porque sou o intérprete juramentado da vontade divina e posso fazê-lo.

O signo da minha superioridade, da minha ascendência divina, é minha riqueza e meu domínio militar. Assassino a lógica mais elementar sustentando essa tese de que sou rico e poderoso porque sou filho autorizado de Deus. Observem que se os termos forem invertidos o resultado é diverso! Não sou filho de Deus – e único – porque sou rico; sou rico e potente porque sou o escolhido Dele!

Tudo bem, seja assim. O problema é que a minha filiação divina precisa ser atemporal, ou seja, sempre fui. Ora, se sempre fui – e por isso sempre pude matar e sempre fui poderoso – como posso explicar ter sido pobre e não ter podido matar sempre, impunemente e com aprovação das massas? Como posso estar na história, se meu postulado é essencialmente anti-histórico?