Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Barcelona 4 x 0 Real Madrid. E os escravos tristes…

Vejo Real Madrid x Barcelona num canal de televisão que não importa dizer qual é.  O jogo é no Bernabeu e, à despeito das ausências de Messi e Xavi, o Barcelona dá espetáculo. E vence, até a hora em que escrevo, no intervalo, por dois a zero, com gol de Suárez e Neymar.

Muita gente acredita que esportes, em geral, são algo que não se politiza na imprensa. Ótimo para a apreensão do mito da imparcialidade pela imprensa. Mas, politiza-se sim e isso percebe-se pela ênfase. Trágico é que não precisa uma ordem direta de cima para baixo – como ocorre em um jornal – para essa parcialidade: o funcionário oferece-se voluntariamente.

A ênfase, o que se diz e o que não se diz, mesmo à vista duma realidade que não precisava de narrador nem comentarista, enviesa até um jogo de futebol.

Um jogo de futebol não precisa de narrador nem comentarista, nem muito menos de comentarista de arbitragem. Na forma atual, são coisas inúteis. Necessário é apenas um narrador que diga quem está com a bola, porque o espectador nem sempre sabe imediatamente quem é o futebolista. Mais que isso não precisa, porque quem vê, vê.

A construção da narrativa molda o vedor. Por exemplo, o primeiro gol do Barcelona foi belíssimo. Após gritar gol, o narrador da TV começou a falar de bobagens outras que nada tinham a ver com o gol ou qualquer importância tinham. Medidas de segurança e outras coisas mais foram comentadas e o gol esquecido, embora tenha sido bem real e belo.

O segundo gol, o de Neymar, também foi muito bonito.

Termina o jogo, o Barcelona vence por 4 x 0, com mais um de Suárez e um de Iniesta. O narrador da TV brasileira não consegue negar o evidente, mas celebra a superioridade do Barcelona com lamento. Ele diz que o Barcelona é superior com tristeza; é um dizer adversativo.

Pelas tantas, começam a buscar explicações para a derrota do Madri. Ora, só se buscam explicações para coisas improváveis, difíceis ou indesejadas. Essa busca revela uma parcialidade. Para quem pense com a própria cabeça sobre o que vê, o Barcelona ganhou por 4 gols porque jogou muito mais.

Buscar explicações não é sempre buscar conhecimento; pode ser buscar justificações. A imprensa espanhola, a TV, mente menos que os brasileiros que compram o sinal para transmitir aqui. A TV focou Rajoy com cara de tristeza na arquibancada.

Esse jogo podia ser apenas futebol, mas não é. A única coisa que o galego madridista Francisco Franco permitiu, como expressão nacional, foi a equipe do Barcelona. Por isso, tornou-se um símbolo. E tornou-se um símbolo de futebol bonito e eficaz, superando o modelo holandês dos anos 70, que era só bonito.

Em campo, é apenas futebol e bonito. Fora dele é algo mais a evidenciar a lógica deformada da dominação madridista. Ora, se a Catalunha quer se separar, que se separe!

Espanha: O rei João Carlos I fez tudo que não podia.

A estupidez é diretamente proporcional ao tamanho do alvo dos tiros…

 

O rei João Carlos costumava ter atitudes inteligentes e, pelo menos aparentemente, sensatas. Não se trata de fazer a hagiologia de Dom João Carlos e de o elevar pessoalmente à condição de salvador. Todavia, o homem desempenhava bem suas funções, tinha senso de oportunidade, mantinha as aparências, não chamava a atenção para si mais que o necessário.

Ele, sabe-se, atuou no episódio de 1981 por cálculo político, pois é provável que fosse favorável ao golpe conservador cuja ponta evidente foi a palhaçada de Tejero. Terá abortado o golpe porque foi avisado que não haveria complacência ou apoio francês, nem alemão, mas revelou-se inteligente, porque percebeu que não dava para ir adiante. Ou seja, o rei não agiu por amor a sólidas convicções democráticas – o que afinal seria um paradoxo num monarca – mas, pelo menos agiu da melhor forma. Um imbecil teria apoiado o golpe, mesmo depois de alertado que a coisa seria dramática para o país.

O rei fez lobi internacional a favor das emergentes empresas multinacionais espanholas, nas décadas de 1980 e 1990, todo o mundo sabe. Não é algo propriamente nobre, mas é comum a figura do monarca comerciante, travestido em monarca diplomata, figura mais simpática. De qualquer forma, por menos nobre, não se pode dizer que tenha sido ruim ou contrário aos interesses espanhóis.

Que o rei se tenha aproveitado dos malabarismos financeiros do seu genro ou mesmo acobertado-os, é algo que não se prova, por enquanto. Que tenha os famosos casos extraconjugais, é algo desimportante, realmente, mas a ele convém ser discreto.

Todavia, que vá caçar elefantes em Botsuana, às custas do Estado espanhol, ao tempo em que se mantém presidente de honra de uma associação de defesa dos animais e quando a Espanha está à beira do precipício econômico é profundamente estúpido.

O rei parece ter abandonado todo o rigor consigo próprio, este rigor que o fez manobrar sempre cautelosamente, sempre aparentar austeridade e simplicidade, que o fez calcular os riscos de apoiar o golpe de 1981. O abandono desse rigor calculista evidencia-se na fotografia acima. Ela é nada menos que absurda. O monarca, velho, posa à frente de um elefante abatido e arranjado cuidadosamente, escorado em uma árvore.

Um imenso cadáver amolecido dá bem a idéia de um vasto e manso alvo para tiros precisos ou imprecisos – pouco importa – desferidos por um prazer fácil de caçar um bicho em extinção… Um prazer estranho, esse de acertar um alvo grande, lento e manso, que não oferece qualquer resistência; um prazer, diria, anti-viril; um prazer assassino sem sangue.

O rei é – ou era – presidente de honra na Espanha da organização internacional WWF, que cuida de defender a natureza. Não é preciso deter-se na absurdidade de um defensor da natureza a matar animais em extinção, por puro deleite de abatê-los. E não se trata de um absurdo com efeitos conceituais, porque a nudez completa da hipocrisia do monarca tem, sim, efeitos práticos no campo político.

A monarquia borbônica beneficia-se de um axioma político cuidadosamente construído a partir de algumas eviências: que a Espanha é impossível sob a forma republicana. Realmente, as experiências republicanas levadas a cabo desde o último quarto do século XIX mostraram-se inviáveis e uma delas acabou-se numa violentíssima guerra civil.

O axioma, porém, socorre-se de pouco corte histórico e da crença na imutabilidade histórica e política, além de um sofisma cuidadosamente escondido. Assume-se que a união da Espanha só é possível sob a forma monárquica ou sob uma ditadura, o que talvez seja verdade, mas omite-se uma questão antecedente: porque a união da Espanha deve-se considerar algo desejável, a priori? Será necessariamente desejável para todos os que se consideram formalmente espanhóis?

Bem, assumido que é desejado por todos que a Espanha seja uma só e que isso somente é possível com a monarquia, chega-se à evidência de que a monarquia tem de estar à altura dessa consolidação de um desejo nacional amplo. E, se esse desejo existe, certamente ele significa um substrato de solidariedade nacional, o que tem contornos muito dramáticos em ambientes de crise e empobrecimento rápido. Aqui, pede-se do rei muito mais que a grandeza política do abortador de golpes políticos a cálculo frio; pede-se que participe da solidariedade.

Gastar dezenas de milhares de euros do Estado – que os obtém de toda a população – para ir matar elefantes na África, quando o povo empobrece, resultou efeitos previsíveis. Um partido já pede a abolição da monarquia e instalação da república. Nem é propriamente pouca gente, nem o pedido vem acompanhado da proposta de fragmentação da Espanha. Ou seja, é uma aspiração que tem sentido político e tende a obter aprovação popular.

A estúpida atitude do rei obriga o poder consolidado, que vai do PP ao PSOE, a grandes esforços retóricos para defendê-lo e a sacar do bolso, meio envergonhadamente, o argumento chantagista do perigo de desagregação. Assim, a discussão não tende a acalmar-se, senão a se reanimar, porque não é verdadeiro que todos os espanhóis queiram sê-lo.

Quando o governo impõe o saque generalizado da austeridade – que, além do mais, é a pior saída econômica – o rei vai caçar elefantes… Quando a tal austeridade implica tensões com os orçamentos das autonomias e ressuscita debates sobre as independências, o rei vai caçar elefantes… Precisamente quando é impossível esquecer-se que crise profunda e Espanha lembram guerra civil, o rei vai caçar elefantes…

A absurdidade da coisa revela-se claramente na impossibilidade de a perceber, nesse episódio, sob a perspectiva da clássica pergunta: para quem o rei trabalha? Ora, nesse episódio, fica a parecer que ele trabalha para si, apenas, e não considerou qualquer outra coisa, qualquer hipótese. Esse é o maior perigo.

Gaudí: antes de ver, fotografar!

Já nasci velho e sei bem disso. Sou muito intolerante com certas coisas, embora não seja capaz de matar por elas. Guardo minha intolerância para mim, como àlgum orgulho ou vaidade estóica.

Todavia, é irritante mesmo esse negócio de todos os visitantes d`algum lugar turístico sacarem de suas máquinas fotográficas antes de darem a mais tímida olhadela à volta, antes de mirarem a paisagem, o quadro, a escultura, o prédio, a fachada, o chão…

O tipo entra no local e fotografa! Pronto, reteve na memória digital da máquina aquilo que não parou para reter na memória cerebral dele mesmo.

Não achou belo o objeto fotografado, antes já tinham achado aquilo belo e por isso o tipo foi obrigado a visitar o ponto turístico. Aquilo estava indicado para ele, previamente, portanto era já belo, impositivo e fotografável!

O turista – que sempre é a pessoa normal na sua faceta de turista, portanto uma projeção – é o ser que não pensa. Ele é direcionado a certas coisas, antecipadamente. Não pode perder tempo, tem que cumprir um guia pre-estabelecido.

Isso de tempo até faz algum sentido, pois há que se escolherem coisas para se verem. Mas, não é sinônimo de obtusidade e espírito de manada, necessariamente.

Dou-me ao luxo de viajar sem máquina fotográfica. Minha mania são os mapas. Hoje, dei-me ao luxo de andar sem mapa: um teste. Resultou bem, afagou-me o ego a idéia de ter algum senso de orientação e de ter apreendido bem o mapa atentamente lido na véspera.

Subíamos o Paseig de Gracià. Era óbvio que, cedo ou tarde, veríamos a Casa Batlló. Óbvio, ainda, que mais adiante, sempre para cima, para o norte, veríamos a Casa Milà. Pois bem, as vimos, entramos nelas, percebemos que são lindas, realmente.

O arquiteto Gaudí e a burguesia florescente de Barcelona do princípio do século XX eram grandiosos. Gaudí não fez apenas a reinvenção do gótico, como fez arte-nova peculiaríssima. O homem não se limitou a copiar Paris; ele é melhor que o art-nouveau francês.

Ninguém m´obrigou a entrar nessas casas. Julgava que eram bonitas, por fotografias muitas já vistas. E são belíssimas…

Na Batlló, há efeito semelhante à altura do gótico, ou seja, os pátios internos à volta do elevador obrigam a olhar para cima. Quem olha é recompensado com tonalidades de azul variadas, nos azulejos.

Quem olha para cima é recompensado pelo esforço. Gaudí fez a proporção para que o cérebro do olhador não se baralhe. Ele fez a perspectiva no espaço pouco! As janelas vão se reduzindo à medida que se sobe. Ele criou um ponto de fuga artificial que parece real.

Queria deter-me a olhar para cima, mas vinham vagas de visitantes ansiosos pelo lugar que ocupava, para tirarem fotos!

Que tirem fotos, mas deixem-me olhar antes e olhem antes! No final, fotógrafos de turismos, suas máquinas viram tudo e vocês viram nada.

Paciência… Continua-se a a subir essa avenida que Madri gostava de ter e não tem. O edifício à direita, duas ou três quadras adiante, é um prédio de apartamentos que poderia ser belo de vulgar beleza, como vários ao redor.

Mas, é a Casa Milà, a Pedreira. É, em suma ordem social e econômica, um prédio vulgar: um prédio de apartamentos para as classes altas do início do século XX.

Mas, não é um prédio vulgar porque é novo, diferente de quantos prédios ricos há à volta, todos muito canonicamente belos, mas vulgares…

Não se trata apenas de curvas e de formas naturais ou inspiradas na natureza. Trata-se da inteligência do arquiteto. A natureza – assim simplesmente, como se diz – apareceu para todos, mas poucos foram chamados…

Bem, eu paro a olhar as chaminés no teto da Casa Milà e o que acontece? Acontece que estava parado a olhar e percebi que uma mulher posava para fotografia e seu marido esperava três degraus abaixo, com a máquina pronta, que eu saísse do campo de apreensão da imagem divina.

Não ponho obstáculos às fotografias dos outros, mas o fotógrafo e seu modelo tinham ou julgavam ter direitos sobre minha inclinação contemplativa. Isso assustou-me. Não me meteu medo, mas assustou-me. Fiquei-me, como se lhes dissesse: fodam-se!

O direito do turista a fotografar vem antes do direito do turista a olhar, é isso.

A vida como ela é… Na Espanha do PP.

Pra quem acompanha o blog há pouco tempo, eu estou fazendo doutorado em Direitos Humanos na Espanha, junto com Thiago Loureiro, desde 2009, pois bem…

Em 2009, quando chegamos aqui, existia um governo “socialista”, o governo do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), a Espanha já estava em crise, não obstante, os serviços públicos, tinham fama de bons, tanto a escola pública, como o sistema público de saúde, e etc. Além disso, tinha-se um governo progressista, um dos primeiros na Europa a liberar o casamento civil homossexual, estava permitido o aborto, e a discussão em questão era se meninas de dezesseis anos poderiam ou não abortar sem consentimento dos pais, acredito que fizeram poucas mudanças no ensino, e aqui falo com um desconhecimento de causa gigantesco.

Mas uma dessas mudanças foi a nova matéria escolar Educación para la ciudadanía y los derechos humanos“, cujo nome fala por si, mas que versava sobre alguns conteúdos controversos, como educação sexual, tolerância de credo, sob uma perspectiva laicista, famílias monoparentais, e famílias homossexuais. Enfim, sob minha ótica, seria uma disciplina que tinha um bom conteúdo e estava bastante bem. Seria algo bastante parecido a algo que se queria fazer no Brasil, e que foi negado por alguns… Mas não é hora de entrar nesse assunto…

Pois bem, agora em 2012 retorno, agora com a Espanha sob o governo do Partido Popular (PP), e aqui se faz necessária a explicação das aspas no socialista do começo do texto. Em qualquer lugar, qualquer pessoa que acompanhasse a política daqui, diria que seria a mesma coisa um governo de esquerda e um de direita. Eu estava entre esses, e estava entre eles porque dizia-se que as medidas econômicas tomadas pelo governo de esquerda, do PSOE, eram as mesmas que o PP, partido de direita, adotaria. Se dizia então que tanto faria o governo, se o governante continuaria arrochando o povo, e por consequência, a classe média. Logo, o governo seria socialista, entre aspas.

Agora mesmo, faz muito pouco tempo que teve início o governo do PP, que aqui na Espanha foi votado, porém, não fariam falta os votos, já que Mariano Rajoy governaria de qualquer modo, por ser o escolhido do Banco Central Europeu, e para quem duvidar, basta abrir os olhos e observar o golpe de Estado dado na Itália.

Pois, primeira medida educativa, tirar a matéria Educação para a Cidadânia e Direitos Humanos, e substituir por outra, “Educación Cívica Constitucional”, que estaria livre de conteúdos controversos, e não “doutrinaria” “as crianças”.

Aqui a educação básica (Educación Secundaria Obligatoria – ESO – nosso ensino fundamental), é até os dezesseis anos, e o equivalente ao nosso ensino médio, o bachillerato, tem dois anos. No entanto, há um deficit de gente formada na educação fundamental, o PP resolveu o problema da seguinte forma, diminuiu-se um ano de ensino fundamental, e aumentou-se um ano de ensino médio, como a educação obrigatória é até os 16 anos, então as pessoas que não aprovavam no último ano de estudo, e depois paravam de estudar, agora vão ter obrigatoriamente de estar no mínimo mais um ano no colégio, e talvez até, fazendo uma coisa que não querem (já que ao acabar o fundamental, aqui, há vários cursos técnicos, inclusive superiores, e várias pessoas optavam por eles, que não podem ser feitos ao mesmo tempo em se faz o ensino médio), logo sem investir um centavo, vão aumentar o número de aprovados no ensino fundamental, me arrisco a dizer que vai virar estatística, e consequentemente propaganda de governo.

Bom, todo esse floreio sobre a tal disciplina escolar, é apenas mote, para as medidas mais perversas, eu falei antes que não investiram um centavo, na verdade, cortaram verba, e diminuiu-se o numero de professores, e os forçam a assumir disciplinas diversas, assim há (num exemplo esdruxulo, mas não sei até onde) professores de matemática, ensinando português e matemática, com um salário já mais baixo do que quando o governo começou, e escolas sem dinheiro suficiente para pagar a calefação durante todo o inverno, há cidadezinhas, onde os alunos vão as aulas com mantas, para se cobrir durante as aulas, alguém acha que dá pra prestar atenção e fazer anotações numa aula, a zero grau, mais ou menos, onde você tem que estar enrolado num cobertor?

Há, só mais uma coisa…

Para mudar um pouco da educação, vem a notícia quase absurda: todos os casamentos homossexuais realizados, estão em vias de ser anulados, e a lei que os permitia, em vias de ser revogada pelo tribunal constitucional, o equivalente ao nosso STF.

Esse é o governo de direita na Espanha, do PP, e a saúde pública… Bom, a saúde pública fica pra outro post…

 

El Cuento Del Malvado Funcionario.

Eis que chegou a mim, um conto sobre o pensamento geral da Espanha, sobre seus funcionários públicos. Detalhe, aqui eles ganham em média de 1.500,00 a 2.000,00 €, que nem de longe chega perto de nossos queridos empregados, os juizes. Segue:

“Érase una vez, una nación dónde todo el mundo era feliz, donde un nene semianalfabeto sin la ESO se ponía a apilar ladrillos y ganaba 4.000 euros al mes, dónde los ministros se entretenían encargando estudios estúpidos sobre la reproducción de la lagartija espongiforme, dónde a la oposición le regalaban trajes y se iban a puticlubs a gastos pagados por el ayuntamiento de turno, dónde en el Senado se ponían traductores, dónde el mago bueno ZP cuidaba de todos, dónde todo era feliz y feliza (por aquello de la igualdad).

Pero en este bonito país no todo era perfecto, había un malvado llamado “El funcionario”, vago entre los vagos, tomador de cafeses y fumador de cigarros, de trato desagradable, forrado y sinvergüenza, que vivía de lo robado a los honrados banqueros y políticos, a los honrados curritos que no defraudaban (sólo preguntaban con IVA o sin IVA).

Pues bien, nuestro protagonista el albañil era un tierno obrero salido de un instituto con 18 años sin aprobar ni el recreo, llamado Jonathan, volvió un día del tajo y decidió comprarse un BMW serie 3 con el Pack Sport, llantas, y le puso fluorescentes y un equipo de música con subwoofer y una casita pareada.

En el banco, el señor director, muy amable le prestó el dinero sin ningún problema, mejorando su petición con más dinero que también le prestó para que se diera un homenaje en la Riviera Maya.

Pasó el tiempo, y un mal día a Jonathan lo echaron del trabajo, ¿con qué iba a pagarse sus vicios? Y sobre todo, ¿su BMW? Apurado fue a ver al Sr. director del banco, que, muy simpático él, no pudo ayudarle, a pesar de que se desvivía por los necesitados. El Sr. director, compungido, al ver que Jonathan no podía pagar, y que el no cobraba, fue a ver al mago bueno, a ZP.

Mientras…. el malvado funcionario seguía trabajando en la sombra, envidioso él de nuestro amigo, que no tiene estudios y dilapidaba los euros que ganaba.

Un buen día, a nuestro mago bueno ZP, lo llamó papá Obama y mamá Merkel y le dijeron que esto no podía seguir así.

La solución estaba clara, salvar a Johnny y fastidiar al malvado. Le bajamos el sueldo al despreciable funcionario y ya está.

Consecuencia: Jonathan no paga lo que debe al banco, el banco no cobra, el banco le pide pasta al Gobierno, el Gobierno se la da quitándosela al funcionario; o sea, el BMW y la casita lo paga el funcionario con su 5%. Y colorín colorado, este cuento se ha acabado.”

Uma noite na Praça da Constituição.

No ultimo domingo, dia 22 de maio, aconteceram as eleições municipais e autonômicas da Espanha. Desde algumas semanas antes, se iniciara um movimento, talvez pelo Facebook, talvez pelo twitter, que logo vi, mas pouca importância dei, talvez por estar desde sempre acostumado a não prestar atenção, nem participar, dos poucos movimentos que há onde eu morei.

O nome do movimento era movimento 15 de maio, e chamava todas as pessoas a irem para as ruas no referido dia 15, então uma semana antes das eleições, para demonstrar insatisfação com a situação política atual. Aqui um parêntese, a insatisfação não era contra o governo atual, e sim contra a situação política.

Além de muitos casos de corrupção, dos quais não me inteirei, as pessoas que fariam parte da manifestação, não se sentiam representadas por nenhum partido político espanhol. E aqui, outro parêntese, há mais de vinte anos, só dois partidos políticos tem chances reais de governar o país, o PSOE – Partido Socialista Obrero Espanhol, e o PP – Partido Popular. Não entro em detalhes maiores sobre os partidos, até por desconhecimento, mas como se pode observar com uma leitura primária, o PSOE é de esquerda, e o PP de direita, em alguns casos, com alguns remanecentes da ditadura de Franco que governou a Espanha de 1939 até 1975, quando morreu.

No dia 15, então, começou o movimento, e muita, quando digo muita, não tenho a mínima idéia de quantos foram, mas foi muita gente que participou. A rigor, em Madrid, na Porta do Sol, região central da cidade. A polícia tentou reprimir, no que inicialmente, logrou algum êxito, mas logo a multidão tomou a Porta do Sol. Essa manifestação, que propunha um acampamento na região central da cidade, seria só em Madrid, ou nas maiores cidades, digo isso, pois foi extremamente pouco divulgado nos meios de comunicação em geral, só passando a ser mais divulgado, quando se tornou algo, que mesmo nas menores cidades, já existia.

Na quinta-feira, estive no acampamento de Salamanca, que havia começado na terça-feira… Onde filmei esses 2 pequenos vídeos:

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Nadie entiende la Puerta del Sol!

É fantástico, estão todos perdidos e os socialistas mais.

A direita falangista não está preocupada em compreender coisa alguma e, ademais, as gentes que estão na rua e na Porta do Sol não são seu público.

Eles do PP devem somente lamentar não poderem mandar a polícia descer o pau no lombo de todo mundo e manda-los para as casa, restaurar a ordem – como gostam dessa palavra! Calçadas livres para senhorinhas passearem até ao Retiro…

O PSOE percebeu que é o grande perdedor nessa estória. Sim, porque as gentes que agora protestam poderiam, teoricamente, sentir-se representadas pelos socialistas, se estes não se tivessem convertido simplesmente em empregados de bancos, apenas mais simpáticos e menos violentos que os falangistas.

Alfonso Armada e uma característica sempre presente.

Em 1981, o tenente-coronel da guarda civil Tejero tentou um patético golpe de estado, na Espanha. Tejeros são assim, atrapalham os Armada, embora ambos sejam tipos infames. Hoje, trinta anos depois, ainda se tentam reconstituir os detalhes e encontrar melhor definição dos papéis no golpe.

O general Alfonso Armada foi preceptor do Príncipe João Carlos. Parece que exagerou a crença na influência que teria sobre o Rei João Carlos, o que o levou a tentar um golpe bem armado, aparentemente constitucional e com a benção real. No fim e ao cabo, o Rei mostrou-se um homem grandioso, adequado perfeitamente ao seu papel; está evidente que não há Espanha sem João Carlos.

O golpe planeado por Armada era de tipo clássico e tinha cores institucionais suaves, ainda que se baseasse nas inclinações e insatisfações de antigos e declarados falangistas. Essa gente não aceitava a democracia política e as autonomias regionais e ainda velava o corpo de Franco.

Esse tipo de manobra passa sempre pela exageração de um estado de crise. Ou seja, é preciso dizer e repetir que há tensões, que as tensões estão a ponto de gerar rupturas e que essas rupturas só podem evitar-se com um governo de concertação. É preciso dizer que as forças armadas enxergam essa tensão, preocupam-se com ela e dão fiança ao postulante a líder da concertação.

A partir desse estado de ânimo, uma figura militar de prestígio insinua-se como disponível para a árdua missão. Faz lembrar a todo tempo a proximidade do Rei e insinua – o mais discretamente possível – que tem decisiva influência sobre o monarca, quase a ponto de dar-lhe as ordens.

Como não era burro, Armada queria um golpe institucional, ou seja, queria criar o vácuo de poder parlamentar e apresentar-se ao  congresso para ser votado presidente de governo. Claro que o congresso faria a escolha sob pressão militar e da percepção exagerada de crise e claro que a manobra pressupunha que o Rei fosse meramente decorativo.

Mas, nesses movimentos, os elementos de baixo nível e mais ignorantes atrapalham o andar dos planos. Não compreendem as sutilezas. Tejero não compreendeu que era inviável uma volta pura e simples à ditadura e não percebeu que o Rei não podia prestar homenagens a um golpe contra a constituição. Não percebeu, enfim, que são possíveis golpes aparentemente dentro da constitucionalidade, embora esses não se façam com Tejeros.

Reuniu uns guradas civis, alguns militares, acreditou no empenho de um e outro comandante e partiu a invadir o parlamento e a dar tiros para o alto. Aí, o golpe já estava perdido para ele e, mais ainda para o General Armada. Para este último, a tejerada foi uma tragédia.

Imagino que ele, Armada, tenha estimulado discretamente o coronel Tejero, mas que não tenha imaginado que o golpista vulgar se precipitasse tão escandalosamente. Um erro de cálculo de quem não podia errar, porque o erro foi traição à monarquia e cobrou-lhe um preço.

Alfonso Armada teve ocasiões de falar do episódio, passados vários anos. O tempo, para pessoas sem honra, tem poucos efeitos, além de fortificar o sabor a infâmia do que dizem. Sustenta que na época dispunha-se a sacrificar-se e ainda insinua não compreender a posição do Rei, como se este fosse seu cúmplice e o tivesse traído.

O sacrificar-se foi que me chamou bastante a atenção. Quase todos os patifes que aspiram com toda a vontade a um posto de comando dizem que se oferecem a um sacrifício. Isso ocorre desde as chefias mais desprezíveis àquelas mais importantes. O aspirante não diz que quer, com toda a vontade, por orgulho vaidade ou crença na possibilidade colaborar, diz que se dispõe a um sacrifício, como se não quisesse.

A reforçar esse traço distintivo dos patifes, basta lembra-se que podiam simplesmente ficar calados, ou seja, querer sem dizer o porquê. Ou podiam dizer que aspiram à chefia porque se acreditam melhores preparados para exercê-la, mas não, o rompimento com a hipocrisia teatral não ocorre.

Nunca ocorre, realmente. O tipo de aspirante a que me refiro sempre é o inqualificável sujeito que se dispõe a um sacrifício, como se fosse extraído de um número diferente daquele dos demais homens, como se não estivesse no plano comparativo das habilidades maiores ou melhores.

E, nada obstante, sua fervorosa vontade, seu desejo irreprimível é simplesmente evidente para todos, como uma tara que o tarado pensa ser totalmente despercebida. É um traço estranho esse, porque revela uma vontade de disfarce tão grande que flerta com a ignorância.

Ratzinger faz política na Espanha.

O Bispo alemão de Roma está na Espanha. Hoje, em Santiago de Compostela, amanhã estará em Barcelona, para consagrar a Sagrada Família, a obra bela e nunca terminada de Gaudí.

Ele reclamou de um secularismo agressivo que haveria em Espanha, um comentário, a princípio, sem qualquer sentido. Se com isso quis dizer que o número de fiéis católicos praticantes recua muito, a declaração começa a ser perceptível, pois é uma constatação.

Todavia, resta algo de estranho na declaração, pois a melhor forma de seduzir não é reclamar da falta de seduzidos e, sim, buscá-los. Fica a parecer excesso de arrogância, como se estranhasse que os espanhóis estivessem a afastar-se, movidos por burrice, supõe-se, daquilo que seria uma adesão óbvia.

Pode ser abordada por outro viés, também. O Bispo de Roma pode estar a reclamar do Estado e do Governo espanhóis, que ele acha obrigados a promoverem uma certa religiosidade. Sucede que o Estado espanhol é laico e assim a declaração é puramente política. Sendo política e vinda de um estrangeiro e ademais ele mesmo Chefe de Estado, parece uma intromissão indevida nos assuntos espanhóis. Uma intromissão contrária à própria ordem constitucional, inclusive.

Talvez fosse melhor o cardeal Ratzinger limitar-se a uma das esferas, a religiosa ou a política. Poderia tentar a sedução da religião que representa, pois há elementos realmente sedutores nela. Poderia transcender-se, ou seja, ao político culto que é, e voltar-se para a promessa da imortalidade, que é muito superior à da justificação e teve em Espanha seguidores profundos.

Poderia falar em Teresa D´Ávila ou em João da Cruz, poderia falar na extrema poeticidade desses místicos ávidos de imortalidade. Poderia falar da ressurreição dos vivos, da transformação, da graça, da escolha, do reino de Deus.

Poderia, por outro lado, ser apenas político e chamar seus seguidores a pressionarem o Governo a dar-lhes apoio explícito e formal e a por na ilegalidade as diferenças. Criaria mal-estar por conta da flagrante e indevida intromissão, porém contaria com o provável silêncio complacente do Governo, desde que não se excedesse muito.

Não devia era lastimar-se de uma secularização agressiva, coisa intangível se dita assim de maneira ambígua. Quer parecer que a religiosidade católica é alvo de alguma perseguição? Buscam tomar-lhes os bens? Afinal, de quê reclama Ratzinger, da perda de fiéis ou da perda de privilégios estatais?

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