Rafael Correa, Presidente do Equador.

Não julgue qualquer outro povo não-hispano ser fácil compreender uma quartelada sul-americana em algum país falante de castelhano, ainda que seja juntamente a outras línguas.

A quartelada da polícia equatoriana, visando a dar um golpe de estado e depor o Presidente legítimo Rafael Correa fornece quase todos dos mais significativos e raros elementos dessa espécie de manifestação.

As motivações declaradas, quando não são puramente falsas, são pueris. A polícia sublevada e amotinada declarou que a manifestação devia-se a salários. Seria uma boa anedota se não se tratasse de homens armados pelas ruas, se não fosse evidente a desproporção entre o que fizeram e o que se faz habitualmente em busca de salários e se esses mesmos salários não tivessem aumentado significativamente a partir do Governo de Correa.

Os líderes desses episódios, tanto do lado golpista, quanto do lado governamental, costumam ser de uma dramaticidade patética. A hubris do hispano-americano é algo tremendamente confusa e carrega potencialidades imensas. Quando deriva para o patético, fá-lo sem limites. Quando deriva para a coragem sem representações, é assombrosa.

Rafael Correa dirigiu-se ao regimento de polícia de Quito, para falar aos amotinados. Recomendo cuidado aos superficiais para não minimizarem as coisas, por tolice, ignorância, má-fé ou politiquice. O presidente foi ao encontro dos policiais, sem acompanhamento das forças armadas! Poucos têm coragem de representar em uma situação dessas. Poucos diriam matem-me, se lhes dá ganas.

Falou-lhes e foi repelido e agredido. Disse-lhes: Não darei nem um passo atrás, se querem tomar os quartéis, se querem deixar os cidadãos indefesos e se querem trair sua missão de polícias, traiam-nas. Senhores, se querem matar o Presidente, aqui está: matem-me se lhes dá gana, matem-me se têm valor, em vez de estarem na multidão, covardemente escondidos.

Foi levado a um hospital. Foi sitiado durante toda a noite pelos amotinados, que cercaram e tomaram o hospital. As forças armadas, leais ao Presidente, assaltaram o hospital e, depois de um tiroteio de meia hora, conseguiram retirá-lo do hospital em uma cadeira de rodas, que fora operado de um ferimento na perna, e levá-lo ao Carondelet, Palácio Presidencial.

Foi direto ao balcão falar às pessoas que se aglomeravam na praça em frente e agradecer-lhes e aos líderes internacionais que o apoiaram, destacadamente a todos os sul-americanos e aos Presidente de Governo Zapatero.

Anunciou que haverá uma profunda depuração na polícia e que não haverá perdão, nem esquecimento. O procurador geral do Ecuador anunciou que haverá uma investigação do que houve por trás dessa sublevação que, evidentemente, não se tratou de uma legítima reclamação salarial, senão de um claro exemplo de conspiração.

Aqui o link para a notícia no El Pais:  http://www.elpais.com/articulo/internacional/Correa/retoma/control/Ecuador/promete/depuracion/policia/elpepuint/20100930elpepuint_5/Tes