Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Tag: Entreguismo

Entrega total e democracia seletiva.

O golpe de Estado acontecido no Brasil, agora que consolidada a fase da deposição da Presidente legítima, visa a dois objetivos primordiais: 1) a liquidação dos serviços privados e públicos nacionais, a liquidação das grandes empresas de infraestrutura nacionais, a liquidação de direitos sociais e a venda das jazidas de petróleo; e 2) a inviabilidade de eleições posteriores de quantos forem contra os objetivos descritos no item 1.

Como alguns perceberam e apontaram, o grupo golpista joga na emergência e na conhecida janela de oportunidade de mais ou menos seis meses para a adoção das medidas mais drásticas e nocivas. Há muita pressa para fazer a entrega e o desmonte do Estado enquanto ainda se vive a confusão pós-golpe e o público está inebriado com o discurso histérico de que o mundo está a acabar-se.

Há, todavia, complicadores internos ao grupo que assumiu o poder, posto que não é homogêneo. A interlocução direta com os interesses externos é exclusiva de uma parte da nova sociedade instalada no poder governamental e esta parte, precisamente, quer as privatizações de riquezas e serviços, a quebra das grandes companhias nacionais e a liquidação dos direitos sociais o mais rápido possível.

Este grupo que tem entrada franca em Washington e nas diretorias do grande capital externo não tem a maioria parlamentar, nem consegue seduzir a maioria do povo votante, embora disponha do aparelho mediático e de parte das corporações judiciárias. Os outros sócios do novo poder conseguem fazer maiorias parlamentares e dispõem-se a jogar no tabuleiro da democracia formal.

Em suma, o desmonte do Estado, a entrega das riquezas minerais e o desmonte do sistema de garantias sociais mínimas não interessa na mesma proporção aos dois grandes grupos sócios da tomada do poder governamental. Mas, por um dos grupos deter a imprensa tradicional e o suporte do capital estrangeiro, o balanço de forças mostra-se assimétrico. Assim, o grupo provindo do maior partido político do país vê-se compelido a seguir os ditames dos outros sócios, sob pena de ataques mediáticos  e judiciais insuportáveis.

Ao contrário do que alguns supuseram, a máquina de inabilitação política judicial não estancou, nem estancará agora que se consumou o golpe, pois ela não perdeu a serventia. Essas ameaças continuarão a pesar sobre os integrantes do maior partido, a lembrar-lhes que devem conduzir e implantar as medidas mais duras, impopulares e de lesa-pátria, porque há o risco de serem também expurgados política e criminalmente.

Essa situação leva a concluir que a recolonização do Brasil será, sim, rápida e devastadora, porque o grupo que a queria mais suave não terá como resistir às chantagens dos interlocutores preferenciais dos interesses entreguistas. Nesta perspectiva, apenas reações populares intensas e insistentes poderão travar ou retardar esse processo destrutivo do país minimamente soberano, se houver quem confira coesão à reação.

A par com a chantagem de contenção, feita por um grupo golpista a outro, continua a caça ao ex-Presidente Lula, para inabilitá-lo politicamente e afastá-lo de eleições em 2018, pois teria chances boas, mesmo tendo sido alvo da maior campanha mediática de difamação da história do Brasil. Assim, qualquer candidato que se ofereça para as eleições contra o modelo entreguista que se instalou, deve fazê-lo cautelosamente e a pouco tempo do certame eleitoral, para dificultar a tentativa de destruição de sua imagem ou inabilitação judicial.

 Também é plausível que o novo modelo instalado após o golpe reduza a democracia apenas ao nível formal mais puro. Ou seja, ante o risco de perda eleitoral – porque as propostas são impopulares demais até para quem detém a imprensa – pode-se instalar um sistema seletivo, em que as candidaturas sejam ceifadas judicialmente conforme o risco que apresentem à manutenção do sistema recolonizador.

Assim, a aparência de democracia poderia ser mantida, ou seja, mantidas eleições periódicas em que só concorreriam os previamente autorizados. Seria uma forma clássica de oligarquia de aparência democrática, como nos EUA, por exemplo, em que as restrições de acesso ao poder fazem-se por filtros prévios ao acesso à disputa.

Ódio golpista e diferenças relativas de classes.

A imprensa conseguiu enfim criar níveis de ódio suficientes para se levar à frente o golpe de Estado fundado na difusa histeria moralizante. Semeou no terreno mais fértil: a classe média.

O interessante é que os sujeitos a serem instalados no poder estatal pelo golpe não são de classe média, nada devem a esse estrato social e nada farão por ela. A classe social onde fermenta o ódio golpista à maior temperatura perderá com o que patrocina.

Cega, não percebe ser instrumento de algo que beneficia a meia dúzia. Todavia, há algo sutil a ser notado. Mesmo que entre a névoa alguns consigam perceber que economicamente nada ganharão com o golpe entreguista, persistem a querê-lo. Por que?

Porque a classe média aceita piorar sua situação econômica desde que os pobres piorem mais. Desde que volte a ter servos mais baratos, que volte a sentir-se segura numa relação esclavagista, que volte a frequentar aeroportos e restaurantes vazios, ela aceitará retroceder também.

O cerne da coisa é a percepção da redução das diferenças relativas. Muita gente não apenas começou a consumir e a frequentar espaços nunca franqueados, como reduziu a atitude mental do servo. Ou seja, passou a perceber-se como gente, como cidadão.

Reduziu-se o número dos que por uma refeição ou roupas velhas empenha gratidão tão cara ao médio classista, que precisa deste conforto. Isso, essa redução das diferenças – não só econômicas, como sociais – o médio classista não perdoa.

Ele entra pra ajudar um golpe entreguista, certamente perderá, mas saíra contente desde que os pobres percam mais e retornem aos seus lugares de serviçais prontos a copiosos agradecimentos por uma refeição.

A Petrobrás e os entreguistas.

Por que a imprensa vendida brasileira precisa dar combate sem cessar à Petrobrás?

Porque essa imprensa representa aquilo que não será chamado, nunca, por nome mais adequado que entreguista. Eles são entreguistas mesmo e trabalham por tudo, menos pelo Brasil.

A Petrobrás, esse gigante exitoso, faz atualmente a maior licitação do mundo. Sim, o maior concurso público para aquisição de sondas de perfuração em águas muito profundas.

Trata-se da contratação de 33 sondas ao preço de 80 bilhões de dólares norte-americanos. Todas as sondas serão produzidas no Brasil!

Uma coisa dessas implicará a construção de 5 novos estaleiros, o que não é propriamente brincadeira de crianças. Esse dinheiro será gasto no Brasil e gerará milhares de empregos.

Eis porque os entreguistas – sim, usemos o nome sem vergonha de aparente anacronismo – têm que se voltar contra a Petrobrás. Sim, porque eles queriam vende-la a preço de bananas.

Serra e o entreguismo escancarado.

Essa maravilha que são os vazamentos do Wikileaks deixou claro que o entreguismo era a força motora da campanha de José Serra, o corretor do Brasil.

Uma comunicação diplomática de dezembro de 2009, revela que a executiva da Chevron Patricia Pradal conversou com o então candidato José Serra sobre o modelo de exploração do petróleo brasileiro. E que o candidato assegurou-lhe que mudaria o modelo novamente, para diminuir a participação da Petrobrás e, evidentemente, leiloar a festa entre as petroleiras estrangeiras.

A representante da Chevron relatou as conversas ao Cônsul norte-americano no Rio de Janeiro, que as repassou ao Dep. de Estado. A preocupação dessa gente é o modelo de partilha, adotado para a exploração das imensas reservas do pré-sal brasileiro. Eles temiam que a Petrobrás assumisse papel muito destacado na exploração e queriam, como sempre querem, espaço para o saque.

Que José Serra representou os entreguistas, todos sabem, embora nem todos queiram aceitá-lo. Agora, o que sempre se soube está documentado sem eufemismos em uma correspondência oficial da diplomacia norte-americana, com aquela clareza de identificar os nossos e os outros.