Quando recebemos nosso amigo Thiago em Braga, em setembro de ano passado, quisemos agradá-lo com algo que ele não saboreava há muito, pois estava em terras castelhanas: cuscuz.

Não sabíamos que o cuscuz estava entre as imensas saudades de Thiago, o que valorizou a idéia. Daí, entregamo-nos à comezaina de cuscuz com porco guisado – esse porco não ficou lá grande coisa, obra minha – à noite e, no dia seguinte, cuscuz com ovos mexidos. Um regalo cuscuzeiro!

Fizemos agora uma extravagância gastronômica, o que me lembrou das saudades do cuscuz, de Thiago. Tomamos uma peça de picanha de porco, cortamos-la em fatias e deixamos-la numa marinada com azeite, gengibre, muito alho, cebolinha e coentro. Essa maravilha da anatomia porcina dormiu banhada nesses ingredientes dos deuses, que lhe penetraram as entranhas lentamente, a noite toda.

Hoje, essas fatias de suíno marinado foram ao forno, em lume baixo e lento. Entretanto, a farinha de milho em flocos – o que vem a dar no famoso cuscuz, repousava alguns minutos, depois de levemente humedecida e salgada. Foi à panela – aquela panelinha que faz cuscuz em forma de peitos – e saiu de lá dourada e fumegante.

Cuscuz nos pratos, desenformados e espalhadinhos, pusemos o molho resultante do assado do porco por cima, com os dentes de alho assados dentro da piscina de azeite, ao lado. Mais ao lado, as suculentas fatias da picanha suína cozinhada em líquido e assada em lume baixo.

Na falta de jovens vinhos durienses a preços razoáveis – pois aqui qualquer vinho português é caro – recorremos a um honesto chileno tinto. Um vinhozinho do Vale do Aconcagua, feito só de uvas Syrah, jovem, pouco complicado e pouco agressivo. Uma pechincha de dezenove reais. Por três euros beberíamos vinho melhor, mas estamos no Brasil…

Depois desse repasto delicioso, laranja cravo para a sobremesa. Essa tangerina pequena e doce é coisa bem nossa, como cuscuz. E ajuda a digestão das gorduras suínas. Depois disso, certo de ter despertado grandes saudades culinárias no querido Thiago, um cochilo!