Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Detalhe chinês.

Era comum, quando se mandava um carro para ser lavado, polido e aspirado por dentro, que ele voltasse com folhas de jornal a recobrirem os tapetes. O hábito, arraigado, tem sido abandonado aos poucos, mas ainda persiste aqui e acolá.

Onde levo o meu carro para lavar, a folha de jornal sempre está lá, a cobrir pelo menos o tapete do assento do motorista. Nem me agrada, nem me desagrada, embora sempre tenha pensado na inutilidade do jornal, que deve ser logo retirado, pois é um incômodo e pode causar um acidente. Não é indicado dirigir um carro com enorme folha de papel a escorregar a cada mudança de marchas, a cada pisada nos pedais.

Imagino que a raiz desse costume está na indicação de que os tapetes de borracha foram realmente lavados e para evitar que se sujem imediatamente após limpos. Bem, eles ficarão sujos de qualquer forma…

Hoje levei o carro para lavar, porque estava imundo e não posso fazer isso no prédio, embora fosse dos meus prazeres mais triviais de fim de semana. E ele estava lá, com o indefectível jornal a proteger o tapete recém lavado. Baixei-me para apanhar a folha, fazer dela uma grande bola e jogá-la do outro lado, o do passageiro.

Surpreendi-me com uma folha de jornal inteiramente em chinês! Se alguém indagar-se como posso distinguir entre caracteres chineses e japoneses esteja certo que não posso, é uma simples questão de probabilidade.

Que há chineses em toda parte é algo óbvio e sabido por quantos vejam e escutem as coisas nos centros das cidades. Mas, esta é uma cidade de 380 mil habitantes, no interior do nordeste brasileiro. Não é pequena, evidentemente, mas não é grande para padrões brasileiros, nem o lugar mais provável para se encontrarem folhas de jornal chinês.

Jornal chinês não tem outro público senão aquele apto para ler no idioma e não é algo que venha de muito perto, até porque não são publicados aqui. A conclusão é que já há chineses em número suficiente a justificar a importação de jornais, o que me parece excelente.

Muito longe de ter fobias com estrangeiros, lamento muito que sejam em tão reduzido número por estas bandas. Há um e outro português, a arriscar-se no comércio e principalmente com negócios de restaurantes e bares. Há um punhado de indianos, professores de física, engenharia e matemática na universidade federal. Há os novos chineses, todos comerciantes. E deve haver meia dúzia de pessoas de outras nacionalidade.

É auspicioso que venham pessoas de fora para um lugar como este, sempre muito fechado sobre si mesmo e desconhecedor profundo de tudo quanto sejam costumes e formas de viver diferentes dos modelinhos de sempre.

As famílias brasileiras: metonímia involuntária e reveladora.

O jornal de domingo às vezes dá o que pensar, daquele pensar sem ser contra, nem a favor. Ou seja, ainda vale a pena ler o jornal, por mais superficial e ruim que se venha tornando, sempre e sempre. Em geral, as notícias são as mais desimportantes e ligeiras, os editorias os mais partidários e acusativos e as reportagens pecam por agredirem a língua insistentemente.

Todavia, reportagens há delas que mesmo superficiais e mal escritas fazem pensar e revelam posturas bem estabelecidas. Algumas interessam pelo que há por trás e ao lado delas, pelo que não querem dizer. Não falo necessariamente do que elas escondem propositadamente, mas do que esconde-se por baixo do que são seus objetos principais declarados. Podem ser ponto de partida da percepção de anseios conservadores talvez involuntários.

Há poucos anos, a Folha de São Paulo saia-se com uma matéria que tratava da dificuldade das madames das classes médias e altas encontrarem serviçais domésticas. Era um lamento bastante direto e uma acusação mais ou menos indireta dos programas de apoios sociais governamentais, que aumentaram discretamente os preços dos escravos domésticos. Era, também, um caso de desonestidade intelectual, porque o problema anunciado não era daqueles abertos e insolúveis. Bastava às senhoras pagarem mais…

Hoje, vejo uma reportagem meio ingênua, no Diário de Pernambuco, sobre vantagens e desvantagens de as famílias terem empregadas domésticas ou contratarem serviços domésticos autônomos e eventuais. O texto não escorrega para o lamento puro e simples do aumento dos preços desses serviços semi-escravos, ele passeia ao redor de análises de custo e benefício de uma e outra alternativa.

Interessantíssimo que os pólos da relação sejam, de um lado, as famílias contratadoras e, de outro, as serviçais contratadas. A primeira coisa a vir a tona é que – para o texto – as famílias são aquelas das classes mais bem aquinhoadas, o que leva a concluir que do lado das contratadas não há família. Só há família de um lado, pois do outro está a empregada, constante ou eventual.

Família é usado como termo unívoco, o que só é possível rigorosamente se o compreendermos com os qualificativos ali suprimidos: de classe média, média alta ou alta. Famílias, assim sem qualificativos, são todos os grupos reunidos a partir de vínculos de parentesco ou de afinidade, e que vivam juntos na mesma moradia. Ou seja, as serviçais também podem ser parte integrante de famílias.

Porém, a reportagem não usa a distinção identificadora de quais famílias sejam as que contratam serviços domésticos, o que revela que toma a parte pelo todo de forma provavelmente involuntária. O autor do texto não sente necessidade de qualificar família porque isso para ele só pode ser um tipo de família. A figura de estilo aqui deixa de sê-lo, propriamente, porque o autor realmente pensa que a parte é o todo.

A família, na sociedade brasileira, é conceito de resistência. Mais que o significado claro que tem na teoria econômica, no imaginário do conservadorismo ela é um núcleo que supera o conceito de indivíduo e de linhagem e grupo amplo ligado por parentesco.

No sentido que as classes dominantes fizeram o termo ter, família liga-se à estabilidade social e econômica que implica morar em certos tipos de habitação, em certos locais da cidade e a poder ter a serviço empregados domésticos. Esse grupo pode compor-se de casais homo ou heterossexuais, com ou sem filhos, monoparentais com filhos e outros muitos arranjos.

Apenas não pode ser composta por grupo que somente alugue seu trabalho. Ela, na compreensão do tipo expressa no texto da reportagem, tem que ser um grupo que potencial ou efetivamente alugue serviços domésticos. O grupo pode até não querer alugar serviços, mas se o puder fazer está inscrito no âmbito de família.

O critério de pertencimento é preponderantemente econômico, pois perdeu-se a rigidez dos critérios sociais acessórios que complicavam a definição. Família não é mais necessariamente um vasto grupo sob liderança patriarcal, senão um indicativo claro de poder de compra de serviços. Foi reduzida a isso, o que, por um lado, a torna mais simples de perceber e, por outro, mais apta a trair seu real significado.

Antes, mais elementos deviam estar presentes para que um grupo, no discurso social predominante, fosse considerado família. Um pai, líder econômico e simbólico, uma mãe, líder do lar e talvez economicamente ativa, uns filhos, um avô, uma avó, talvez, até mesmo um tio, tia ou algum agregado. Isso tudo com papéis sociais bem estabelecidos e o acréscimo da moradia bem situada e dos serviçais domésticos era uma família.

Hoje, papéis sociais podem ser menos rígidos em comparação com protótipos anteriores, o número de integrantes pode ser menor, mas a possibilidade de assalariar serviçais permanece firme como critério principal para definir uma família brasileira no sentido socialmente dominante.

A linguagem, principalmente a jornalística, precisa servir aos mecanismos de conservação, por meio de seu efeito fixador de idéias. Assim, é comum usar-se termos como se fossem unívocos, quando eles precisam de qualificadores a lhes precisarem o alcance. Às vezes o termo não qualificado serve para dar a falsa impressão de ampla compreensão de todos os elementos em uma categoria, outras serve para induzir a percepção da parte como se fora o todo. Ou seja, a imprecisão é ambivalente.

Às vezes dizem que os brasileiros tiveram seu poder aquisitivo aumentado, como se isso tivesse acontecido com todos os brasileiros e ainda como se o aumento de potencialidade aquisitiva significasse também de qualidade de vida, de conhecimento, de pertencimento nacional. A proposição desse tipo supõe que os brasileiros são todos os mesmos, quando se sabe que os vinte milhões de miseráveis existentes não são brasileiros, argentinos, peruanos, venezuelanos, são nada, a nada se identificam, a símbolo homogeneizador nenhum se ligam.

Outras vezes diz-se que os brasileiros viajam mais para o exterior, quando se sabe que alguns voltaram a poder viajar e outros passaram a poder fazê-lo. Aqui, a parte pelo todo é evidente, porque brasileiros aí esconde o número dos que não podem viajar – maior que os que podem – e submerge a necessidade de qualificar quem são os tais brasileiros da proposição.

Claro que os dois exemplos anteriores são de casos voluntários clássicos de metonímias desonestas. O desonesto e o voluntário parecem-me menos interessantes que os usos consagrados e involuntários de discursos e termos de conservação, até porque menos eficientes e mais caricatos que os mecanismo inerciais não percebidos.

Afinal, milhares terão lido a despretenciosa reportagem do Diário de Pernambuco e não se terão perguntado se as empregadas domésticas, constantes ou avulsas, têm família. Dada e aceita a antítese entre contratantes e contratados, nada resta a ser pensado pelos integrantes de famílias…

Ignorância afirmativa: o que tem de argentino no Colón?

Os maiores sociólogos do senso-comum que há, nas cidades grandes, são os taxistas. Eles são conservadores, em sua maioria, mas não são desonestos intelectualmente, ou seja, não estão a representar papéis aparentemente complexos.

Táxis em Buenos Aires ainda são meio de transporte relativamente barato e, portanto, interessante para deslocamentos grandes. Para pequenas e médias distâncias, o ideal é caminhar e perde muito quem não fizer esta opção.

Quase sempre é possível conversar com os taxistas. Em outras ocasiões, gostava mais de falar de política, mas deixei isso de lado. Hoje, basicamente amenidades e futebol; é bom deixá-los falarem.

E eles são quase unânimes em insinuarem que nós brasileiros e o Brasil em geral estamos muito bem. Eles percebem as coisas muito a partir da taxa de câmbio, da quantidade de sacos que os brasileiros carregam consigo e das opiniões de quantos deslumbrados estiveram lá na tentativa de trazer tudo que for possível na bagagem.

Que nós brasileiros e o Brasil estamos melhores é óbvio, mas isso é negado, internamente, exatamente pela classe média que se comporta de maneira a afirmá-lo no exterior. A mesma gente que insiste em reclamar de tudo, em casa, dá sinais evidentes do contrário, fora de casa!

Prova que certa camada social reclama muito por reflexo condicionado ou até por reflexo totalmente involuntário e incondicionado. Por puro e simples conservadorismo político e preconceito de classe contra um certo ex-presidente da república que, o único, era de extração social realmente baixa.

A parcela da população brasileira que tem do que reclamar e o devia fazer, está em relativa letargia, infelizmente. Mas, quando derem vez ao morro, toda a cidade vai passar…

Bem, o caso é que destinos turísticos de brasileiros em Buenos Aires, de coração e sinceramente, são os centros de compras, desde as evidentes Galerias Pacifico até os centros caros de Palermo.

Mas, é engraçado como há uma pontinha de desconfiança com o entregar-se totalmente aos desejos mais puros e reais. Há que se inserir algo menos comercial ao roteiro e qualquer coisa serve.

Curiosa necessidade humana, essa de disfarçar um pouco as vontades mais verdadeiras. O sujeito, no mais das vezes, queria era sair nu pela rua, correndo, gritando, saltando, com o cartão de crédito na mão, a gritar eu compro, eu compro, como um novo eureka de um tristemente novo Arquimedes.

Bem, o caso é que fomos visitar o Teatro Colón. Este edifício é enorme e belíssimo. Mais bonito por dentro que por fora, de uma beleza suntuosa, de neoclássico eclético. Estão lá os inevitáveis vitrais franceses, os mármores Carrara, os tetos em estuque doirado, os espelhos enormes, o mobiliário terceiro império tardio. Esse Teatro é mais belo que a Opera Garnier, que certamente foi um modelo considerado na época da construção.

O Colón foi o ponto turístico – não tentarei inventar termos para fugir desse péssimo lugar-comum – onde menos avistei brasileiros, afinal não é um centro de compras. Todavia, pouco não significa nenhum. Éramos suficientes para termos direito a visita guiada por uma simpática jovem a esforçar-se por falar português.

A guia da visita dos brasileiros era simpática e servia-se de sagazes meios de agradar a platéia, como desculpar-se inicialmente pelo precário português falado – falando-o perfeitamente – perguntar aos visitantes de onde vinham e contar uma e outra anedota bem suave sobre a construção do teatro.

O perguntar de onde vêm os visitantes produz um belo efeito, pois todos anseiam por falar, mesmo que seja para dizer alguma irrelevância. A cultura da participação, ainda que se participe com um nada, é muito bem reputada.

Lá pela metade da visita, ao cimo do segundo lance de escadas, que dá acesso aos camarotes, a guia parou a explicar que a construção do teatro envolveu três ou quatro arquitetos italianos e franceses, mármores de três regiões distintas da Itália, espelhos belgas, vitrais franceses e por aí segue.

Perto de terminar a exposição, a guia foi interrompida por uma audaz e segura de si senhora do Rio de Janeiro, que a indagou o que naquele Teatro era argentino. Ó aparente sagacidade, coisa rápida que faz alguém meter-se no caminho da grosseria e da burrice…

É perverso tentar constranger pessoas que, em função do ofício, não podem responder adequadamente, embora saibam como fazê-lo. A jovem, muito delicadamente, disse o óbvio: embora arquitetos, mármores e vidros não fossem argentinos, a idéia de erguer o teatro, o sítio e o dinheiro que o pagou eram-no.

Se eu fosse um ser mais tolerante e, portanto, mais dado a provocações e ironias, teria perguntado à senhora do Rio de Janeiro o que ela acha que é brasileiro no Theatro Municipal da antiga capital do Império e da República, exceto o suor dos trabalhadores, e alguma areia retirada de Botafogo.

Mármores, espelhos, vitrais e o restante a compor um típico teatro fin-de-siècle como o Municipal do Rio de Janeiro vieram todos da Europa e nem por isso o edifício pode-se  considerar não-brasileiro.

A lógica fácil, a falta de educação, a falta de cultura formal e o estar sempre à vontade por sentir-se mais rico levam a grosserias imensas, que somente deviam ser praticadas na mesa de um bar, entre pessoas que não estão obrigadas ao silêncio por conveniências profissionais.

A coluna áurea.

O ouro a serviço da feiúra.

Não me lembro se é n´A rebelião dos anjos ou em Os deuses têm sede que Anatole France faz um personagem dizer que a burrice é pior que a má-fé, porque a primeira é incansável e dorme nunca, enquanto a segunda pára para descansar, eventualmente. Trata-se de uma fala de um diálogo, mas pode bem ser tomado por um aforismo, até porque a proposição não é inversível sem perda de sentido.

A comparação de atitudes – muito carregada de valoração, evidentemente – pode ser transposta para outras díades. Claro que se pode perceber aqui a oposição entre involuntário e voluntário e dissolver muito o sentido da proposição, na medida em que se perde o aspecto valorativo. Todavia, é de comparação de termos que andam próximos que se trata.

O caso é que pretendo dizer da feiúra que é pior que o ridículo, porque a primeira afirma-se incansavelmente, enquanto a segunda é produzida mais esporadicamente por fatores variados – incluindo-se a feiúra – e percebida a partir de um juízo não somente estético. O ridículo é cambiante segundo o tempo, o lugar e outros fatores.

É curioso que essa relatividade do ridículo seja proposta para a feiúra, o que revela a maior gravidade da segunda acusação, de que todos querem fugir. De certa forma, tenta-se aproximar muito coisas diversas, porque uma delas é mais temida que a outra. É preciso transformar tudo que se teme: absolutos em relativos e vice-versa.

O novo-riquismo é repleto, tanto de feiúra, quanto de ridículo. A primeira ele esquece, como se não existisse. A segunda ele dilui no relativismo próprio da percepção forjada de dentro para dentro. Porém, ambas estão lá, eloquentes, nos grandes símbolos em que se afirma o novo-riquismo.

O âmbito mais propício às afirmações de feiúra e ridículo do novo-riquismo é a arquitetura e sua filha menor a decoração de ambientes. Os prédios de apartamentos da classe média ascendente brasileira agridem tanto quanto convidam a pensar no que afirmam. São idéias em tijolos, concreto, aço e vidro; idéias impossíveis de se esconderem.

Um desses templos de celebração aberta de si mesmo está muito em evidência, aqui na cidade onde moro. É um imenso prédio de apartamentos para a classe média alta que se passeia nos Land Rovers que invadiram o país inteiro. É um ambiente com a ambição de ser auto-suficiente e permitir ao grupo que o habita isolar-se de tudo ao redor. Ou seja, o sonho do condomínio suburbano de casas – no modelo norte-americano – agora na forma vertical.

Prédios assim têm piscinas, academias de fazer ginástica, quadras poliesportivas, áreas destinadas às brincadeiras infantis, áreas para fazer churrasco e encher-se de cerveja, arremedos de bosques e, o principal, salões para festas.

O prédio mais em moda aqui tem um imenso salão para festas, o que é vulgar, certamente. Invulgar é que esse espaço quadrilátero sem qualquer atrativo especial tem, no centro e sem função estrutural alguma, uma coluna revestida a ouro! Sim, uma coluna, ou pilar se assim se preferir dizer, revestida de escamas áureas.

A coisa, para além de desconcertante e escandalosa, é de uma feiúra que desafia o observador a olhar atentamente a deformidade, sem tirar os olhos com medo ou repugnância. E isso precisamente é o que não pode ser dito. A coluna e seus donos aceitarão, de mau humor, é certo, a objeção do ridículo, que rebaterão com a sincera afirmação da perfeita moralidade da ostentação.

Mas, não é de ostentação que se cuida; não é de moralismo que se cuida. Da mesma forma que alguns decímetros cúbicos de Nardo perderam-se na lavagem dos pés do Galileu, alguns gramas de ouro podem perder-se no bezerro totêmico da classe média alta brasileira. Não há escândalo em pintar paredes a ouro ou mesmo em comê-lo, que isso volta ao pó.

A feiúra, todavia, não volta ao pó, porque dele não proveio. Sua origem é demasiado humana e por isso precisa não ser. É preciso sempre, para os forjadores do bezerro áureo, que seu totem seja visto por um prisma de moralidade, porque de juízo estético correm com as pernas a baterem nas costas.

O novo-riquismo aceita-se como produtor de qualquer coisa, porque acredita-se capaz de estabelecer as próprias balizas de sua interpretação. Certo que aprisionou as possíveis percepções de si e de suas criações, fica à vontade com as aparentes variações e, por isso, não teme o ridículo. As variações estão previamente dadas no âmbito quantitativo e, ao fim e ao cabo, significam nada.

O feio não é parametrizado por essa gente tão moral; ele não se aprisiona por critérios de mais ou menos auto-indulgência: é estranho a essa forma de pensar e, portanto, inapreensível. Evidentemente, o mesmo dá-se com o belo.

Um e outro espécime da fauna novo-rica percebe uma rota de fuga, embora não a consiga trilhar completamente, porque não pode seguir uma rota que conduza para fora, totalmente. Não há fora! Fora, é o perigo. A rota de fuga percebida serve-se da antinomia entre espontaneidade e simulação. Assim, a espontaneidade seria critério de análise do belo.

Acontece que o espontâneo não é o à vontade da falta de graça afirmativa. Ele é, antes, o passear nas possibilidades ou liberdade, se assim se preferir dizer, o que não existe no novo-riquismo, essa forma de ser e estar diametralmente oposta à liberdade. Mas, é preciso confundir a grosseria que se sente à vontade com espontaneidade e liberdade.

Não havia opções anteriores à edificação da coluna de ouro, porque tudo era auto-celebrar-se. Tudo estava pré-condicionado, como em uma espécie de jansenismo social em que todas as manifestações externas são uma só afirmação de meia dúzia de postulados morais de auto-piedade.

O novo-riquismo pede desculpas pelo que é, mas recusa-se a pedi-las pelo que faz. A coluna de ouro é auto-celebração e também um grito por piedade, já que o grupo não se festeja sem algumas culpas. Por serem demasiadas as culpas, não suportam a de fazerem o feio…

A Presidente Dilma e a falácia da carga tributária.

Um dos assuntos preferidos de parcela da classe média brasileira é a carga tributária, considerada responsável única pelos altíssimos preços dos automóveis no país. Assim, duas coisas caras a esse estrato social juntam-se: o desejo por automóveis e o anseio de falar mal do governo, mesmo que ele não tenha prejudicado os reclamantes.

Não seria razoável esperar que pessoas adestradas por Veja, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Globo agissem diversamente. Além do medo atávico de mudanças que lhes possam desfavorecer – o medo da ascensão das massas – elas são bombardeadas diariamente com tolices na forma de lugares-comuns repetidos à exaustão.

Carga tributária é um mantra. Repete-se até ser repetido espontaneamente pelo alvo da propaganda. Subjazem a carga tributária noções como as de Estado hipertrofiado, Estado ineficiente, inibição do mágico espírito empreendedor e outras mais, de viés oportunista.

Nunca é demasiado lembrar que o discurso anti-Estado, no Brasil, é feito preferencialmente por aqueles que mantém uma estreita simbiose com ele, que vivem da predação do público e do Estado. Não há, na verdade, discurso liberal puro neste país em que todos serviram-se do Estado para assaltar a maioria.

As camadas médias vivem à mercê do que uma imprensa de péssimo nível, parcialíssima mas sempre a falar de imparcialidade, lhes põem na cabeça. Elas não agem criticamente, nem quando isso é recomendável sob perspectiva conservadora. Não se aceitam como médios oportunistas a surfarem a onda da inércia constante, a grande invenção brasileira: o moto contínuo socio-econômico. Não, são os vitoriosos da meritocracia.

Pois bem, consagrou-se a idéia de que os carros são caros por conta da carga tributária e só. De nada adianta dizer que a carga tributária é inferior àquela praticada em todos os países europeus, onde os carros são mais baratos. De nada adianta dizer que a questão é de margem de lucro.

Esse é um mercado que se tornou grande, tem muita demanda reprimida, consumidores ignorantes – no sentido próprio do termo – e ansiosos por comprarem sem questionarem muito os preços, nem cogitarem de suas composições. Ou seja, é o ambiente ideal para a prática de margens de lucro extorsivas.

O mercado dava sinais de desaquecimento e o governo, a propósito de minimizar tal efeito, lançou medidas, ontem. Por exemplo, o IPI – Imposto sobre produtos industrializados – para automóveis feitos no país, com motores até 1.0 litro de deslocamento, foi de 7% para zero, até 31 de agosto deste ano.

Sim, o IPI dos carros com motores de mil cilindradas foi reduzido a zero! É intuitivo que as montadoras de automóveis não repassarão toda a redução aos preços, que devem cair um pouco.

O resultado será interessantíssimo: além de manter milhares de empregos, anulará o discurso imbecil da carga tributária. Ou seja, os preços não cairão na mesma proporção da redução de imposto e o governo poderá dizer que o imposto nunca foi o elemento principal dos preços altos.

Claro que haverá o pessoal da lógica do urubú com raiva do boi. Dirão que houve renúncia fiscal e que isso é ruim. Sim, mas esquecerão de dizer que o cerne do problema ficou nu, que era a avidez das montadoras a causar os preços elevados.

A má educação.

É cansativo e redundante falar em má educaçã0, pois leva, também, a confusões, equívocos e a mal entendidos. As pessoas pensam que se fala de etiqueta ou de formalismos, apenas, quando se trata de muito mais que isso. Mais que isso, mas também sobre isso.

As convenções sobre as formas de se estar e de se portar em convívio têm razão de ser. Não teriam, evidentemente, se todos estivéssemos sempre sós e se fôssemos todos destituídos de qualquer rigor connosco, mesmo estando sozinhos.

São regras – como quase todas as outras – que só visam a que não nos matemos ou agridamos tão constantemente que a convivência torne-se em algo animal entre animais que se dizem e se prontificam a reputar-se racionais.

A convivência entre os animais não humanos não precisa de regras extra-biológicas. Pode-se dizer que há modelos sociais em certas espécies e, tudo bem, elas existem. Todavia, são regras não criadas por algum consenso social racional. São regras biológicas no sentido de não derivarem de posições consensuais aparentemente racionais e, mais, conscientes.

As pessoas humanas são as páginas em branco que podem ou não receber algum escrito bom. Geralmente, ou permanecem em branco, ou veiculam um escrito ruim. Mas, fazem questão de afirmar sua realização, mesmo que ela seja uma mísera fração da potencialidade da página em branco.

A má educação – quem aposta nela sempre quererá negar o que se dirá adiante – é mais resultado da ignorância que da vontade. Por mais raiva e insatisfação que ela gere em quem a vê e sofre seus efeitos, convém lembrar que ela é algo menos voluntário que estúpido.

Uma estupidez bovina – para usar a expressão consagrada que ofende os bois – e repetida convictamente, afirmativamente, sem possibilidades de ser diferentemente. O sujeito que agride o outro com algum comportamento mal educado, contrário à minimização de atritos no convívio, geralmente fa-lo só por acreditar que não há outra formar de comportar-se.

O fulano mal educado e os fulanos todos mal educados não significam que haja uma conspiração do mundo contra quem aja preocupado em não atingir e em não impingir dificuldades aos outros.  Significa apenas que o fulano não conhece regra alguma. Não no sentido de conhecê-las e desprezá-las, mas no de não as conhecer e não ver sentido nelas, ainda que as entreveja.

Vou a um mercado, de carro, entro no parque de estacionamento, e tem um imbecil com o carro parado extamente na faixa para pedestres e no local em que se faz a curva… A coisa é absurda, pois o carro está precisamente onde não podia estar. Ali, ele impedia qualquer outro de fazer a curva, de seguir adiante para qualquer direção.

Mas, esse imbecil estava com as lâmpadas de alerta, aquelas amarelas que piscam aos mesmo tempo, dos dois lados, acessas. Ou seja, ele reputava-se em situação peculiar, fora do comum; em situação que merecia ser anunciada como extraordinária pelo uso das lâmpadas de picar amarelas.

O fora do comum, aqui, é só o detalhe e a armadilha psíquica. O parque de estacionamento estava vazio! Quer dizer que o fulano podia ter estacionado o carro sem quaisquer dificuldades, em uma vaga próxima à entrada do mercado. Quer dizer mais que isso.

Seria tolo e superficial dizer que o fulano é um criminoso com idéias pré-concebidas  e que sabia perfeitamente o que fazia. Ele sabia perfeitamente o que fazia dentro do pouco ou nada do que sabe ou acha razoável como normas de convivência.

Ele faz o maior absurdo, gera uma imensa fila atrás de si, e permanece na mesma atitude, porque ele não tem a percepção de que a conduta seja proibida ou lesiva aos outros. É algo normal, algo normal e somente passível de uma parcial desculpa ou aviso pelas lãmpadas piscantes.  Uma coisa que ele mesmo aceitaria se fosse ele a esperar por conta do mesmo absurdo; aceitaria o absurdo por conta da lógica da conivência e da ignorância.

O vale-tudo brasileiro é, no final das contas, muito mais de ignorância que de má-fé deliberada. Não significa que as punições sejam inúteis, mas que a educação é mais útil. Significa que, entre nós, o axioma jurídico de que ninguém se desculpa de descumprir a lei por desconhecê-la é uma falácia.

A lei é das muitas coisas desconhecidas. Há delas mais importantes; o desconhecimento é geral e tendente ao vale-tudo gebneralizado.

Massas e retrocesso.

Não citarei Ortega y Gasset, Tarde, Debord e outros mais que me vêm à cabeça agora e a propósito dessa puerilidade que é a crença na impossibilidade de retrocessos. O que os autores disseram, evidentemente, é citado implicitamente; sempre é assim quando se escreve: citações se fazem a todo tempo.

As massas perdem-se no aprofundamento de suas massificações, o que não tem a ver, imediatamente, com suas situações financeiras, mas que terá sim, mais tarde ou cedo, implicações deste tipo. Quero fazer a advertência nunca demasiada de que massa não é sinônimo de pobre; é algo que tem com espírito de manada e com negação da história e da vida pública, basicamente.

Há também banqueiros, para recorrer ao exemplo máximo do pertencente ao máximo grupo dominante, que são massa, porque acreditam no que fazem, ou seja, no seu contributo à massificação, e não acreditam, por outro lado, que possam ser tragados nos processos enlouquecidos que sempre culminam com catarses de violência e desgregação.

O senso comum acha que o mundo é dado, que ele, como está aí, foi dado, surgido de um nada ou, no máximo, que é resultado da gestão de meia dúzia de fatores arranjados e rearranjados por alguns vistuosos que têm total controle da gestão. Acha e vive conforme acha, e grita aqui e acolá contra alguma bobagem o grito que lhe foi ensinado ou permitido.

Acreditar que tudo aí está porque assim deve ser é negar a história e, de certa forma, pensar a partir de um minúsculo sistema causal de curto alcance. Sisteminha que considera algumas combinações possíveis e serve-se de dados embaralhados e nebulosos de pouco tempo. É, diria, um quase não-pensar, pelo tanto de negativa de potencialidades que implica. Nem resulta em criatividade, por um lado, nem é uma postura mental ao menos conservadora.

O retrocesso sempre foi discutido. E, para que se o discuta, é preciso ter em mente alguma noção de avanço ou, pelo menos, aceitá-la. Porque, se avanços não existem, se é uma idéia inválida, a discussão perde todo o sentido. Paradoxalmente, a idéia de avanço é vastamente aceita e difundida ao tempo em que o retrocesso, ou é negado, ou simplesmente não cogitado.

Ora, se se aceita que a história avança nos seus aspectos sensíveis – melhora da qualidade de vida, aumento da disponibilidade de bens, aumento de paz social, redução de atritos sociais, redução de violências – é necessário admitir que o retrocesso é possível, e mais que está sempre à espreita. O avanço pressupõe qualquer base comparativa e as comparações podem evidenciar reduções qualitativas e quantitativas de algum dos termos comparados.

Admitir o avanço e o retrocesso significa reconhecer que a vida faz-se de atos sucessivos, encadeados não necessariamente segundo alguma norma de causalidade, mas encadeados e sucessivos. A vida coletiva, pelo menos, pode ser percebida assim, embora a vida pessoal, de si para si, puramente subjetiva, se essa dissociação absoluta for possível, atenda a outra lógica.

Ora, se os fatos da vida coletiva encadeiam-se e sucedem-se está claro que o processo pode andar em qualquer direção, mesmo que não ande para trás, evidentemente, no sentido de se desfazer e voltar no tempo. Não há retorno no tempo, por sedutora que a idéia possa ser, mas há retrocesso no estágio de união social dos grupos humanos, por perda de vitalidade e de referências históricas.

Hoje, especificamente, vive-se uma crise financeira na Europa que é um retrocesso evidente no processo de construção de sociedades ricas e relativamente pacíficas. Ele é percebido materialmente nos endividamentos, no aumento da criminalidade, na diminuição das liberdades, no terror de Estado, mas os sentidos captam os sintomas ao mesmo tempo em que a desrazão não percebe o fluxo do rio. A desrazão está boiando na superfície do rio, sem saber mesmo se é rio ou mar e se sopra vento…

Um dos aspectos mais evidentes da massificação é a negação do espaço público, ou seja, a negação da política. Tenho para mim que esse ponto específico foi objeto de ações deliberadas de certos grupos dominantes, que perceberam a boa acolhida que a idéia teria nas massas. Coaduna-se a negação da política com a crença no mundo dado e com a negação do retrocesso. A política tornou-se algo inútil e reservada aos mesmos profissionais de sempre porque, afinal, tudo é e será conforme tenha que ser.

Aliás, as coisas são e serão conforme uma classe de especialistas – iniciados seria possível, também – dispuser, em atenção a métodos de gestão previamente dados e condicionados. Ou seja, o pensamento massificado é dócil à noção de falta de opções, porque já aceitou a de inutilidade do âmbito político propriamente dito, aquele que age no espaço ideológico e histórico.

Assim, o retrocesso bate nas portas de a, b e c, que o sentem nitidamente mas não no percebem como coisa histórica porque foram apagados de qualquer possibilidade de pensar que há uma história. São pontos que não se relacionam senão para formar um pequeno plano. E sempre se relacionam os poucos pontos para formar vários pequenos planos, entrelaçados como em uma novela cujo enredo vai do nascer do dia ao pôs do sol.

O pensamento massificado não consegue, nem dissociar os pequenos planos superpostos do drama cotidiano, nem associar todos os pontos que sugerem um enorme plano. Fica-se pela metade, no rancor de conversa de café e no alívio de poder gritar um pouco e ver a novela à noite. O espetáculo da realidade leva o homem-massa espectador a saber-se platéia somente e a aspirar ao impossível protagonismo a partir de um grito desde a platéia.

É situação como se houvesse um consenso sobre a existência de um consenso. Uma imagem refletida em dois espelhos perfeitamente alinhados, em que qualquer desvio é impossível e um plano superpõe-se a outro. Está ruim porque está ruim… e pronto.

Penso, nesses termos, em algo do Brasil: a discussão da evidente invalidade da lei de auto-anistia passada pelo regime ditatorial, em 1979. Tecnicamente, a lei é de impossível coexistência com a constituição passada em 1988, mas os disfarces mantém-se. Historicamente e politicamente, porém, a coisa é mais dramática que juridicamente.

Nos âmbitos hitórico e político, a questão é quase totalmente obstada pelo pensamento massificado. Ele não somente levou o senso comum a perguntar-se para quê história – que ainda seria uma pergunta, embora já respondida – como o fez não pensar em história, nem mesmo sob qualquer ótica utilitarista de superfície. Ou seja, o mais comum é nem cogitar de história e o mais sofisticado que há é a cogitação a partir de superficialíssimo utilitarismo: para quê?

Aqui age a lógica do desassunto, a coisa simplesmente não se conhece. Não é que seja algo remoto e brumoso, é que não existe para a maioria. Essa mesma maioria, quando apresentada à questão e a alguns fatos, alterna surpresa e abordagem padronizada pela sua massificação. É quase totalmente impermeável o senso comum, que não se deixa seduzir por qualquer curiosidade.

Nesse caso, operam os elevados níveis de pobreza e de ignorância formal do Brasil. Quem viveu certa época, provavelmente fê-lo em luta diária para sobreviver e desprovido de quaisquer instrumentos de pensamento e de informações. Esse esquema é o do conservantismo baseado na escravidão tão profunda que nem se entrevê nalgum momento de distenção. Aqui, o mundo não passou na janela, a janela era um espelho e o mundo passou-se de dentro para dentro.

Acontece que se anuncia uma suave descompressão, que as maiorias tornam-se um pouco menos pobres e que se vive uma aparente democracia. Mas, isso vive-se com pessoas que há muito pouco eram mais insignificantes do que são hoje. Terão memória de alguma inferioridade material passada e só. Não há articulação dessa breve memória de um menos material recente com outros menos que a ela se relacionam.

O ambiente não é propício ao avanço que consiste precisamente em saber que o retrocesso é possível. E a que se vejam claramente os referenciais históricos a permitirem saber-se quando há avanço ou retrocesso. Não faz muito sentido para as massas que convenha conhecer a história e que convenha punir delitos para que eles não tornem a acontecer porque afinal vale a pena.

Tabelinha comparativa: Fernando Henrique x Lula.

Para quem anda confuso com os 77% de aprovação da Presidente Dilma. Não é uma questão propriamente filosófica…

PIB


2002 – US$ 500 bilhões


2012 – US$ 2,6 trilhões, o que faz do Brasil a SEXTA economia do Mundo


PIB per capita


2002 – US$ 2,8 mi


2012 – US$ 13,3 mi


Ou seja, os dois casos, o Brasil se multiplicou por CINCO.


Produção de automóveis


2002 – 1,8 milhão de unidades


20111- 3,4 milhões de unidades, o que faz do Brasil o SEXTO maior produtor mundial


Safra de grãos


2002 – 96,8 milhões de toneladas


2011 – 163 milhões (campeão mundial na produção de cana e vie campeão mundial na produção de soja)


Taxa de investimento sobre o PIB


2002 – 16, 4%


2012 – 20,8%


Investimento Estrangeiro Direto


2002 – US$ 16,5 milhões


2011 – US$ 66,6 bilhões – 4o. Lugar emingressos de IED


Inflação – IPCA


2002 – 12,5%


2012 – 4,7%


Desemprego


2002 – 12,9%


2011 – 4,7 – entre 2002 e 2001 o Nunca Dantes criou 18 milhões de postos de trabalho


Formalização do trabalho


2002 – 45,5%


2011 – 53,2%


Salário Mínimo nominal


2002 – R$ 200


2012 – R$ 622 – ganho real : 66%


Coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda (quanto mais perto de 1, pior)


2002 – 0,589


2011 – 0,541 – queda de 8,9%


Taxa de pobreza (Classe “E” no total da população)


2002 – 26,7%


2012 – 12,8%


Classe C sobre total da população


2002 – 37%


2012 – 50%


Número de matrículas no ensino profissional


2002 – 565 mil


2012 – 924 mil


Percentual da força de trabalho com 11 anos ou mais de estudo


2002 – 44,7%


2012 – 60,5%


Bolsas de Mestrado e Doutorado no Capes e CNPq


2002 – 35 mil


2010 – 74 mil


2013 – 105 mil


Títulos em doutorado


2002 – 6.894


2012 – 13.304


Dívida externa


2002 – US$ 165 bilhões


2011 – US$ – 79,1 bilhões


Reservas Internacionais


2oo2 – US$ 36 bilhões


2012 – US$ 353 bilhões


Exportações


2002 – US$ 60 bilhões


2011 – US$ 256 bilhões


Juros – taxa Selic


2002 – 25% aa


2012 (31 janeiro) – 10,50% (9,75% em março)


Taxa que o Brasil paga em título vendido no exterior


2002 – 12,6% aa


Janeiro de  2012 – 3,5% aa


Dívida do setor público sobre o PIB


2002 – 60,4%


2012 – 36,9%


% da dívida indexada à taxa de cambio


2002 – 45,83%


dez 2011 – 21,89


Despesas de pessoal


2002 – 4,8% do PIB


2012 – 4,4% do PIB

A Presidente Dilma tem 77% de aprovação popular.

77% de aprovação popular, aferidos pelo IBOPE, entidade insuspeita de governismo – na verdade, sempre suspeita de oposicionismo a qualquer coisa minimamente tingida de vermelho, por mais claro que seja.

Isso, a despeito de campanha mediática diária e sistemática contra o governo, a servir-se basicamente da seletividade na ênfase que se põe no escândalo de ocasião. O grande instrumento de ataque da imprensa é a seletividade: dá-se destaque ao que interessa aos desideratos do meio de comunicação e o que não interessa não sai.

É interessante perceber como apostam na estupidez, o que fica evidente no descompasso entre matérias de TV e matérias de jornais e revistas. Supostamente – como está nos manuais – a TV é o meio para os estúpidos e os jornais e revistas para os menos estúpidos.

Assim, revistas e jornais dos grandes grupos de comunicação não puderam fazer de conta que não houve um conúbio mafioso enorme entre um senador da UDN, um criminoso conhecido, um governador da UDN e outros funcionários menores, porque deixariam a banda passar se nada dissessem. Mas, as TVs silenciaram, assim como silenciou a revista Veja, uma publicação de baixíssimo nível, que não é questão de ideologia, mas de associação criminosa mesmo.

A Presidente não é tão genial, politicamente, quanto o ex-Presidente Lula. Mas, tem a possibilidade de governar até melhor que Lula, porque é mais disposta ao confronto e menos gestada na política. Além, é claro, de ser inteligentíssima e culta. E, tem Lula para ajudá-la politicamente, o que não é pouco.

A Presidente deu uma ordem, claro que a deu, para que os dois maiores bancos públicos do país, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, reduzissem suas taxas de juros no crédito à metade! Ao mesmo tempo, reduziu a contribuição previdenciária patronal de vários setores industriais e de serviços a zero!

O que ela quer? Quer fazer um mercado interno ainda mais robusto, estimular o consumo, estimular a criação de empregos. Quem perde imediatamente com isso? 0,5% da população brasileira perde com isso: os bancos privados e seus empregados na imprensa e nos partidos políticos.

Os bancos privados terão que reduzir suas margens de lucros com empréstimos cariíssimos, que hoje os sustentam. Porque, se não seguirem o BB e a CEF, ficarão para trás. E eles os podem seguir, sem riscos de quebrarem, apenas terão que ganhar menos…

Enquanto isso, uma parte da imprensa fala mal das medidas, mesmo que sempre tenha insistido na estória dos juros serem muito altos e os impostos também. É cômico ver o pessoal dos media tentar falar mal do que sempre defendeu, servindo-se dos argumentos mais tortuosos, como se dissessem é bom mas é ruim! É o que eles pediam, precisamente, mas têm que falar mal, por questões de política golpista.

A Presidente deu à imprensa raivosamente golpista o papel ridículo, o que foi genial! Enquanto eles dizem é bom mas é ruim, o povo percebe as coisas, a despeito de ver TV e a despeito da classe média ler avidamente o lixo editorial que se publica semanalmente.

77%… Realmente, é quase nada.

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