Não utilizo a palavra chantagem, no título, para escandalizar com bobagem terminológica. Utilizo-a porque é precisamente de chantagens várias que são feitas as relações políticas internacionais, embora sob disfarces e com aparência de submissão a regras invioláveis.
O caso é que o governo brasileiro concedeu asilo a Cesare Battisti e, consequentemente, negou a extradição dele, pedida pela Itália. Esse pequeno texto não visa a expor posição sobre o caso, por isso limito-me a dizer que me parece errada a posição do governo brasileiro, porque reputo comuns os crimes de Battisti.
O que chama atenção, abstraindo-se do caso em si, é que a Itália percebeu a inviabilidade de chantagear comercialmente o Brasil, como forma de pressionar pela extradição, ou de retaliar pela não concessão dela. Ou seja, o Brasil tem um peso econômico que não recomenda a travagem de relações comerciais ou a imposição de barreiras fiscais.
Esse é o fato novo com relação ao Brasil: seu peso econômico mundial e os reflexos nas relações com os estados soberanos. Por um lado, o fato parece ser melhor percebido fora do país que dentro dele. Assim, excepto por alguns grupos e pelo governo, a maioria do povo está alheia a essa entrada no protagonismo internacional.
Tal alheamento é resultante de falta de educação formal, de falta de tempo para ocupar-se com coisas outras além da sobrevivência e da massiva desinformação promovida por setores da imprensa que jogam pela tese da dependência.
O problema da idéia da dependência é que ela propõe a impossibilidade de rompimento desse tipo de relação, ou seja, é uma tese que se retro alimenta. Assim, é mais uma proposição política que uma teoria científica das relações internacionais.
O país necessita compreender bem a situação que ocupa e ocupará cada vez mais, para não ser aquilo que os argentinos diziam e ainda dizem: um elefante desgovernado. Precisa compreender quais vantagens pode retirar do seu crescente peso econômico e político internacional, para não subestimar, nem superestimar a realidade.