O livrinho traz contos de humor de Anton Tchekhov e achei-o no supermercado, bem baratinho. Contos deliciosos, bastante curtos, de quando o autor era novo. O qualificativo de humor é cabível, mas implica a percepção de que humor é mais que o grotesco ou o burlesco.
O tal humor tchekhoviano insinua-se por outros caracteres, entre eles uma boa dose de moralidade.
Basicamente, os contos giram em torno à hipocrisia, à cupidez, à ambição e ao mal entendido de vontades diversas que não se entenderam a princípio e subitamente descobrem-se.
Assim, a moça pobre que não suportava a pobreza e vivia imersa em tristeza e, premida pelas circunstâncias, que a tinham feito de alma delicada e sujeita a luxos, casa-se com um velho rico general.
A jovem confessa a um escritor reputado fino psicólogo e conhecedor das personagens sociais que se casara na esperança do velhote morrer logo e deixá-la livre e com posses para buscar sua felicidade, esse objetivo sublime, tardiamente romântico.
Mas, ó desgraça, a jovem – rica e livre pela viuvez – não atingira a liberdade e a tristeza mantinha-se fiel companheira. O interlocutor da psicologia finíssima pergunta-lhe, ávido, qual era o problema, qual o obstáculo que se interpunha à sua felicidade.
Ela responde-lhe: outro velho rico.
Esse chama-se Personalidade Enigmática e faz lembrar – a mim, pelo menos – o maior contista que foi Maupassant.