Aconteceu qualquer coisa entre Dominique Strauss-Khan e a camareira Nafissatou Diallo, no hotel de múltiplas estrelas novaiorquino. Um estupro, um quase estupro, violência física… Há um processo pára apura-lo, porque acredita-se em processos para se descobrirem as coisas, embora sirvam pára construi-las e condenar alguém, que pode ser o autor ou o réu.
De início, Strauss-Khan foi submetido à indignidade pública, o que foi visto como vingança social, porque a indignidade momentânea de um poderoso foi vista como contrapartida da servidão histórica da outra, a vítima.
Houve as suposições habituais, quase todas esquizofrênicas e a girarem em torno ao mesmo ponto central do modelo. Para uns, os absurdos de um poderoso encontravam, enfim, punição no linchamento moral nada súbtil, mas imediato, transmitido direto para meio mundo. Pára outros, houve um golpe orquestrado cuidadosamente, com base em interesses escondidos e a servir-se de uma oportunista relacionada com pequenos criminosos.
A segunda idéia veio a parecer mais sagaz, para os que se querem sagazes. Depois que se descobriram contatos da vítima com criminosos comuns, estabeleceu-se que ela não era vítima. Esqueceu-se – a partir de alguns fragmentos de informação – que a reputação da vítima nada tinha com a ocorrência ou não da agressão.
A reputação da vítima, coisa elaborada segundo os critérios do agressor, tornou-se no ponto chave do caso. A vítima comunicava-se com pessoas suas semelhantes, étnica e socialmente. A vítima já se tornava culpada de ser quem era e de estar onde estava. A agressão desapareceu…
Isso vai muito além do antigo argumento tu quoque, que permite a dois bandidos igualarem suas situações, porque já fizeram o mesmo.Vai além, porque o mesmo só acontece em situações similares. É o argumento de dois frequentadores de Eton, que quebraram lojas, depois de bebedeiras, afastaram-se ligeiramente na política e reencontraram-se no parlamento, a responderem por delinquências comuns à classe.
Agora, diz-se que o laudo médico-legal aponta a existência de agressão física a Diallo, por Stauss-Khan. O tal exame não diz que Diallo amiga de fulano ou sicrano, encarcerado por isso ou aquilo, foi agredida e violada por Strauss-Khan. Diz que ela foi vítima de agressão, narra a existência de traumatismo na região pélvica…
Esses traumatismos físicos, essas evidências de violação com agressão física deixam de existir por conta das amizades da vítima?
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