Antes da crise financeira de 2008, Portugal tinha um défice público inferior ao limite da UE, que é de 03%. Superou-o uma e outra vez, assim como sucedeu com a Alemanha e com a França. Pecadilhos comuns, enfim.
Antes da crise financeira de 2008, o risco de Portugal era considerado menor que o da Itália e um pouco maior que os da Alemanha e França. Hoje, esse risco considera-se altíssimo e faz o país comprar dinheiro a bancos para pagar a bancos a 08% ao ano, patamar estratosférico de remuneração do capital.
Hoje, instalados todos os efeitos da crise financeira – para que não concorreram despesas públicas, nem programas sociais – Portugal tem um défice público à volta de 09 a 10% e uma dívida pública que representa 83% do PIB. São números elevados, mas há coisas muito piores na Europa, bastando lembrarmos-nos da Itália.
Ninguém quer chamar as coisas por seus nomes adequados e parece que não o farão nem mesmo quando os nomes não importarem mais. As dívidas que põem tudo em risco são as privadas, não as públicas. E o euro, superada a euforia do enriquecimento rápido com dinheiro emprestado, é uma trava, não uma solução. Bruxelas é a sede de um grande banco 60% alemão e 40% francês.
O parque de diversões ensolarado de alemães e ingleses não gera receitas suficientes para o padrão de consumo que esses mesmos turistas fizeram crer possível. E, a essas alturas, dá-lo em garantia só vai acarretar uma mudança: as faturas sairão com mais consoantes que vogais.
Se, juntamente com a entrega total da soberania a Bruxelas viessem as maiores plantas industriais da Volkswagen, da Siemens, da Peugeot-Citröen e da Alstom, talvez as coisas até andassem bem. Sem elas, todavia, as coisas vão andar mal, porque há doenças que evoluem melhor sem remédios que com remédios errados.
Estava, há pouco, lendo sobre as respostas e comentários que os irlandeses fizeram a um artigo do economista Kevin O´Rourke. Uma delas constitui uma jóia de serenidade em palavras vulgares. O comentarista anônimo sugeria, entre outras coisas, que seria muito mais eficaz subornar as agências de classificação de riscos que fazer um orçamento apropriado sob a ótica da austeridade.
Claro que ele está certo e claro que será considerado louco ou ignorante, mas está certo. Já que se trata de uma lógica de casino, é muito melhor comprar a opinião dos senhores que dizem o que é bom ou ruim, seguro ou arriscado.
Já que estou a divagar, que mencionei um comentário que será tido pelos sábios como loucura ou estupidez, acrescentarei um meu, sem receios de que seja tido também por loucura ou estupidez: e que tal se a Petrobrás comprasse a dívida portuguesa, sem pedir em troca o parque de diversões algarvio, nem que as faturas sejam grafadas com tantas consoantes?
Pode até parecer um insulto aos portugueses, o que não é de jeito nenhum a minha intenção, pois tenho uma mulher cidadã portuguesa, mas se deixassem o EURO e se juntassem ao REAL e ao Mercosul poderiam mesmo contar com Petrobras e outras. Portugal é menor do que Pernambuco em área e população, não iria faltar petroleo, nem samba, nem tango (o fado é mesmo muito chato), assimilariam a mão de obra brasileira, que deve complicar menos do que a cigana e a ucraniana que estão adotando, e se tornariam certamente mais risonhos.
Sidarta,
Só tenho dois reparozinhos a fazer: Portugal é menor que Pernambuco apenas em área. E não acho o fado chato!
Andrei, com relação à população eu ainda tenho dúvidas se a de Portugal é maior do que a de Pernambuco… pode ser.
Com relação ao fado, geralmente uma evocação a uma dor de corno, o tango é melhor pois, em eventualmente não se entendendo o lamentório em portugues de Portugal ou em espanhol de Buenos Aires, as melodias dos tangos têm mais energia e consegue-se dançar e se ver dançar tango, coisa que com o fado e fica-se sempre estático na expectativa de que a bola de gude que a cantante mantém na boca caia e seja possível se ouvir direito o que ela quer dizer.
Mas, concordo, há espaço para os apreciadores de fado, de bossa nova, de Chico Buarque, de um chorinho, dos Beatles, de funk etc,.
Entretanto, enquanto devia caminhar para me tornar mais eclético com a idade, estou mesmo mais anacrônico e mais apreciador de musica instrumental quieta, do tipo “smooth jazz”, ou de grandes orquestrações com passagens instrumentais elaboradas; tenho ouvidos mais sensíveis a sons do que a vozes e a letras musicais poéticas.
Abração.
Também vou tornando-me cada vez mais anacrônico. Acabei de achar um Manicero legitimamente cubano!
Mas, Sidarta, o tango, belíssimo, é uma tourada em que o homem é personagem única, a despeito de sua companheira de dança pôr as pernas à mostra.
Não deixa de ser uma evolução relativamente à dança entre um homem e um touro, mas ainda é uma tourada. A desvantagem é o que perde em dramaticidade, porque ninguém morre kkkkkk
Por sorte ainda fiquei apreciando as pernas das dançarinas de tango depois da cirurgia de prostata e quase nunca miro “los toros”, um adereço infelizmente indispensável para que o tango não de torne somente um can-can de mulheres desoladas.
Pero, los toros son las hembras, en el Tango.