O que segue não é resenha do livro Zelote: A vida e a época de Jesus de Nazaré, escrito por Reza Aslan, pela razão suficiente de não o ter lido. A sagacidade de Aslan pode ser percebida sem ler o livro, todavia. Ele teve muita sorte também, deve-se dizer sem mais.
O autor concedeu entrevista a uma fulana da TV norte-americana Fox. Ela fez questão de provar a estupidez do norte-americano médio e de quem o alimenta com informações: principiou a entrevista a perguntar porque um maometano escrevia sobre Jesus…
O escritor fica visivelmente desconcertado com a pergunta – estúpida até por padrões norte-americanos – mas deve ter ficado agradecido ao depois. A indagação dá-lhe ocasião de alinhar os múltiplos graus de PhD que tem, as fluências em línguas, as universidades onde leciona, os livros que escreveu e por aí vai.
Foi ótimo para ele, até porque livros sobre o Jesus histórico há muitos e não é fácil despertar interesse por algum novo. Há basicamente quatro linhas de abordagem neste assunto: uns dizem que Jesus foi só judeu, outros que foi o proposital fundador do cristianismo – e aí há quem proponha ter sido só homem ou só Deus – outros que foi um revolucionário social e uns poucos que dizem o que disse Aslan.
Ele propõe que Jesus foi um revolucionário político nacionalista judeu. Um bandoleiro muito empenhado em contrariar a ocupação romana por meio duma espécie de guerrilha. A mim, particularmente, não me parece a linha mas plausível, mas é defensável, como, aliás, quase tudo que diga respeito a esta extraordinária personagem com tão poucas fontes históricas.
O Jesus mais interessante que já li foi o de J. J. Benítez, que teve a inteligência de fazer crer à maioria que a parte importante dos seus Cavalos de Tróia era a ficção científica. Ele fez uma pesquisa histórica exaustiva e conseguiu escapar à prisão das análises e resenhas acadêmicas, usando essa capa de ficção científica.
Mas, Aslan conseguiu algo raro; muito raro, na verdade. Ele pautou reações judaicas; ele pôs as condicionantes destas reações; chegou perto da anedota. Beira o cômico uma resenha do livro por um fulano também multi PhD, na Jewish Review of Books.
O doutor resenhista ficou com raiva da proposta de Aslan de um Jesus herói da causa nacional judaica, evidentemente. Jesus não é um herói judaico, embora possa ser estudado. Geralmente, é um não assunto, uma desimportância.
Para atacar Aslan e apontar o dedo a supostas imprecisões e ilações, defendeu o Novo Testamento! É, no mínimo, engraçado ler a defesa do Novo Testamento por um acadêmico judeu com raiva de um livro… Isso Aslan conseguiu e não foi pouco.
Soa estranho, realmente, um judeu defender o Novo Testamento. Judeu cristão? Torna-se possível para o judeu Deus tomar a forma de homem?
Rapaz, judeu cristão não existe. São excludentes. Os acadêmicos fingem-se desinteressados kkkk.
Agora, não sei se é concebível Deus assumir forma humana, nem o inverso.
A questão, mestre, é que para os judeus, salvo engano (comentário sujeito à justa correção), seria uma aberração Deus tomar a forma de homem. Os próprios judeus/hebreus no Antigo Testamento evitavam chamar Deus de Deus, porque achavam indigno chamá-lo assim. Iahweh era o nome utilizado para invocar o Senhor. Se assim era, imagine Deus tomar a figura humana. Todavia, existem várias teorias sobre o assunto. E aí poderíamos entrar numa mar infindável de teorias. Fiquemos por aqui mesmo. heheheh