O governo de Portugal, com toda a solenidade que o caracteriza, disse que o país deve passar os próximos decênios a dedicar-se ao pagamento de suas dívidas, mesmo que isso signifique – e significa – propor o empobrecimento contínuo por trinta anos. É uma proposta infame e convém dizer poucas palavras sobre o que deixa um grupo de freiras tão à vontade para tamanha barbaridade.
Primeiramente, os dois troncos dos empregados da plutocracia trabalham conjuntamente. A imprensa, portanto, interdita qualquer objeção e faz crer que objetar é propor a desonra, o calote e o desapreço pelo pagamento das dívidas. Tudo ficará nesta prisão, não haverá outra linha narrativa. O dogma, se for violado, acarreta desonra e propor a violação do dogma é vil.
O triunfalismo do senso prático casado com a pseudo ciência e a austeridade contábil de gestor de take away defende-se com a imprensa e conta com a inércia do corpo social. Mas, é infame demais obstar toda e qualquer conversa a acusar o objetante de desonestidade, quando ele apenas pensa.
O senso prático demitiu-se da imaginação, do devaneio, da esperança. Demitiu-se irrevogavelmente, talvez para demitir-se de qualquer beleza e oferecer-se ao julgamento histórico como algo pouco e a merecer censura pouca também. Os burocratas triunfantes têm, no limite, noção de sua mesquinhez.
E esta demissão é tão arrogante que pretende a de todos os demais, obrigados a prestarem culto e sacrificarem no altar do triunfalismo da austeridade.
Os triunfantes austeros teriam coragem de instituir voto obrigatório e convidar a velha que vive a 450 euros por mês a ir votar neles? Talvez tivessem, pois são triunfantes.
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