Soldados russos em Stalingrado.
A informação em si não tem ideologia. A forma como ela é oferecida aos receptores tem. Entram em cena omissões, ênfases seletivas, mentiras e exagerações, a tornar em ideologia algum fato. Claro que algum fato pode ser suporte de uma ideologia, a dizer que ela produziu um êxito, mas o fato sem discurso não é mais que isso, é inerte.
Os russos, sob o que então se chamava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, venceram a II guerra mundial contra os alemães. Não é algo de se estranhar, porque a guerra deu-se entre alemães e russo e, portanto, seria vencida por um dos dois. Evidentemente, essa conclusão não implica negar a participação de outros povos, secundariamente.
Os espaços vitais buscados pela Alemanha não estavam em outro sítio senão na URSS. Com o restante da Europa, Adolfo Hitler construiria uma União Européia avant la lettre, com a capital em Berlin e, não em Bruxelas ou Strasburgo, evidentemente. Nisso retomava parcialmente o que Bonaparte fez com mais engenho e sucesso, com a sede em Paris. Napoleão federou e seduziu os tedescos do Reno e seduziu e avassalou os italianos do Vale do Pó e da Emília Romana. Durou mais e ficou nas mentes de quem experimentou.
Adolfo Hitler destinou 3/4 dos esforços de guerra alemães à frente oriental, o que é sinal evidente de onde a guerra foi lutada. Muito embora cinema e sub-literatura tenham incutido profundamente nas mentalidades as supostas importâncias de detalhes como a guerra no deserto e outras coisas deste tipo, como o desembarque na Normandia, a guerra ocorreu do Elba para oeste.
Winston Churchill, que não era minimamente tolo, pode registrar nas suas memórias que enquanto se divertiam com seis (06) divisões alemãs na frente ocidental, os russos enfrentavam cento e oitenta e cinco (185) divisões alemãs. Simplesmente, trinta vezes mais! Um estúpido pode continuar a não compreender, mas um parcial que preze minimamente o que traz dentro do crânio pode até calar-se, mas não pode ignorar a evidência.
O mesmo Churchill sabia muito bem que Adolfo Hitler havia poupado os soldados ingleses em Dunkerque, permitindo que se evadissem, embarcando de retorno à ilha. Chegava a ser constrangedor e, por isso mesmo, o episódio foi habilmente tornado em uma escapada conseguida com muito esforço. A verdade é que a Wehrmacht deixou-os evadirem-se, porque o Fuhrer ofereceu um gesto simpático aos ingleses.
Na resolução de fazer a guerra à Rússia houve fartas doses de sub-avaliações. O General Halder teria ocasião de dizer, um mês depois de iniciada a ofensiva, que a estimativa de enfrentar 200 divisões era equivocada, pois havia aproximadamente 360! A opinião do General Bluimentritt também é significativa do obstáculo e do histórico desprezo de alemães e russos por poloneses. Ele diz que a resistência e capacidade de lutar dos russos nada tinha a ver com a incapacidade dos poloneses.
Já em 11 de agosto de 1941, Franz Halder, o General bávaro de vastos serviços militares prestados à Alemanha, diria que é cada vez mais evidente que subestimamos o poderio desse colosso russo não só na esfera econômica, como, também, na militar.
O comentário mais revelador veio do Marechal-de-Campo Gerd von Rundstedt, um aristocrata prussiano em serviço desde 1892, que se havia retirado em 1938, ao saber que Fristch havia sido espionado pela Gestapo. O Fuhrer o reconvocou ao serviço ativo às vésperas do início das hostilidades. Ao que tudo indica, Rundstedt era um militar e só isso.
Capturado, ao fim da guerra, o Marechal-de-Campo Rundstedt disse: Percebi, logo depois de termos começado o ataque, que tudo o que se escrevera sobre a Rússia não passara de tolices.
De minha parte, creio que Adolfo Hitler era mal dotado como militar e levou a esse campo a mitomania que funciona na esfera política. Na política, super estimar ou sub-estimar são rotinas próprias desse âmbito de atuação. Na guerra, é a diferença de gastar demais ou perder. É significativo que muito oficias alemães tenham alegado, no embuste de Nuremberg, que eram apenas militares no desempenho de suas funções: e muitos eram apenas isso.
Terminada a guerra, a parte do mundo em que vivo passou a aclamar-se como única vitoriosa de um grande conflito. E passou a produzir material de propaganda desse êxito, negando o real obtenedor da vitória. Claro que isso esteve e está perfeitamente inserido na necessidade de escamotear qualquer mérito de um novo oponente.
Esse esforço teve sucesso, porém ao custo de ignorância. Passado o tempo e aumentada a distância dos fatos, esse sucesso cobra um preço grande, porque aquilo que era feito deliberadamente por quem sabia o que fazia, passa a ser uma verdade crível para quem vem depois. E até para os sucessores de quem vendeu a mentira propositadamente. Hoje, é como se o vendedor do entorpecente o consumisse!
Há alguns meses uma reportagem na revista Superinteressante tratou desta questão, dando muito crédito às forças russas, na edição nº 269, de setembro de 2009. Uma reportagem que vale ser lida.
Super interessante mesmo é uma revista do grupo abril veicular semelhante conteudo…
Deve ter passado despercebido pelo ”conselho editorial”.
De qualquer forma seria ainda mais interessante ver como a revista “Óia”, tambem do mesmo grupo, se posiciona sobre o assunto…
=)
Realmente, a reportagem é muito interessante. Tem até um pequeno infográfico mostrando, em semelhança ao chamado “Dia D”, Dias A, B e C da guerra, que foram, salvo engano, mais importantes do que o tão alardeado Dia D.
Severiano, a reportagem vale uma boa leitura, mesmo considerando seu (pré)conceito com relação a qualquer coisa que venha do grupo Abril.
Como se vê, nem tudo é preto-no-branco: muitas vezes as coisas são cinza mesmo.
;D
Surpreendo-me, também, que a reportagem da revista seja boa, no sentido de escapar do que habitualmente se diz.
A questão da vitória russa é evidentemente documentada, mas ideologicamente escamoteada. Claro que aqui e ali, alguém lembra a obviedade, mas sempre inserindo os habituais lugares-comuns que visam a chamar a atenção para quem escreve a história para consumidores desta parte do mundo.
Interessante matéria essa. Se tem como ideia, no imaginário do mundo ocidental, que as batalhas do Dia D foram decisivas para o desfecho da Guerra. Uma grande mentira do pós guerra, a fazer propaganda das potências ocidentais na Guerra Fria. (Os EUA) fizeram filmes e mais filmes sobre o Dia D, como decisivo para o fim da Guerra, propaganda atrás de propaganda para seduzir os países a não alinharem-se com a União Soviética.
Porém, o que realmente decidiu a guerra foi a Batalha de Stalingrado, considerada a mais brutal e mortífera batalha de todos os tempos. Nessa batalha, a União Soviética soergueu-se como potência determinada, destrutiva, disciplinada e mortífera. O negócio foi tão brabo, os russos estavam com tanto sangue nos olhos que, nas reuniões de Stálin (chefe da URSS) com os presidentes da aliança ocidental (Churchill e Roosevelt), ninguém questionou o afã soviético de entrar em Berlim sozinhos para decepar a besta nazista: ninguém ousou privá-los desse desejo, a julgar também pelo fato de que foram os russos os que mais sofreram baixas – civis e militares – e atrocidades nas mão dos nazistas.
Dia D é balela, foram os soviéticos e as batalhas de Moscow e Stalingrado que mudaram os ventos da guerra e o rumo dos acontecimentos.
Mais uma vez, parabéns pelo post. 😉
Ah Ah Ah estão a falar do mesmo glorioso exercito russo que no principio da guerra eram formados pelos alemães. Estão a falar dos assassinos que partilharam a Polónia com os Nazis Traves dum pacto de não agressão e executaram milhares de polacos. Estão a falar do glorioso exercito russo que estava derrotado sem armamento se não fossem os aliados a enviar toneladas e toneladas de material para poderem continuar o esforço de guerra, e mesmo assim na batalha de Berlim contra crianças e velhos perderam 80000 homens.Sem o dia D os russos pela superioridade dos números acabariam por ganhar mais duvido que tivessem um exercito para celebrar, mais como dizia Estaline quantos mais morrerem com menos bocas fico para alimentar.
Poxa , a reportagem lida me fez concretizar minhas leituras e interpretações dos teatros de guerra do oriente , pois na front oriental tivemos a batalha de Stalingrado a mais sagrentas da história , e os Estados Unidos com seu destino manifesto tenta iludir as pessoas de quase todo mundo através de filmes , documentários , livros e etc de que teve mais importância nos cenários de batalhas do que os Russos , Tanto o exército vermelho quanto a população civil foram realmente dilacerados e como a ave Fênix resurgiram das cinzas dando o revéns no exército alemão e vencendo batalhas após batalhas . Admiro muito a população inglesa , Estadunidense ,Francesa , Canadense em seus esforços na segunda guerra , mais A união solviética é quem merece todo a minha admiração e me motiva ainda mais conhecer sua importância histórica .