Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Os bancos põem o mundo de joelhos.

Eles arriscaram, ganharam, perderam e começaram a perder mais. Foram-se aos Estados, quero dizer, aos políticos que conduzem os Estados, e pediram socorro. Os tais políticos agiram rápido, saquearam os cidadãos, de forma bem igualitária, e salvaram os bancos dos erros deles mesmos.

Se, durante o auge da festa, ou seja, antes da quebra evitada com dinheiro de todos, alguém dissesse que os bancos faziam avaliações de risco erradas, seria crucificado e coberto de infâmia por quatro gerações. Eles, os bancos, não podem errar, pois balizam-se pelas idéias liberais puras, ou seja, pela livre iniciativa, pela tomada de riscos, pela noção que o mercado premia os acertos e extirpa os erros.

O mercado não faz isso. Fazem-no os Estados. Premiam, tanto os acertos, quanto os erros dos bancos. Todavia, as populações, essas são punidas, tanto pelos acertos, quanto pelos erros dos bancos. A invocação da teoria econômica liberal pelos bancos é a mais pura desfaçatez que se tem visto, pois conseguiram operar em um esquema de sempre ganhar, ou seja, a própria negação do que dizem.

O que vem ocorrendo com a Grécia é exemplar. Não faço aqui qualquer elogio à condução das finanças estatais gregas, apenas algumas constatações. A seita bancária que atende pelo nome de Goldman Sachs ajudou o governo grego a fraudar seus números de endividamento público. É, no mínimo, partícipe da infração às normas comunitárias. Evidenciado o problema, o que acontece?

Acontece que a Grécia tem que cobrar de sua população o pagamento da conta e cobrá-la exatamente dos mais pobres. E acontece que o Goldman Sachs segue sua trajetória e paga bônus e premiações aos seus acionistas e dirigentes, como se tivessem produzido a mais bela obra de atividade bancária. Não nego que uma fraude tão bem elaborada seja uma bela obra, abstraindo-se de considerações axiológicas. Mas, também não ignoro que se essa bela obra fosse de outra autoria,  que não de um banco, seria considerada um pecado mortal.

Esse pessoal, os bancos, conseguiu uma coisa fantástica: ganhar sempre. Se arriscam e ganham, orgulhosamente proclamam suas competências e fartam-se na festa da distribuição dos bônus. Se arriscam e perdem, convocam o resto da sociedade para ratear a conta e, passados poucos instantes, voltam a arriscar da mesma forma. Não se intimidam em por as culpas nos irresponsáveis tomadores de créditos, como se os vendedores dos créditos fossem menos irresponsáveis.

Aos governos devedores vão pedir tudo que lhes resta de ativos. Conseguirão que esquerda e direita se unam no discurso afinado para vender o quanto resta, desde companhias de correios até empresas de aviação. E depois, farão os mesmos governos recomprarem o que antes venderam, mais caro, com os recursos de sempre: de todos.

Para concluir não concluindo, apenas umas lembranças do que andaram a fazer os argentinos, esse povo estranho, mas admirável em muitos aspectos. Nos tempos complicados do confisco das poupanças que tinham em dólares norte-americanos, os argentinos se manifestaram bastante, nas ruas. E sempre que havia dessas manifestações, as agências de quantos Citibanks e BankBostons que havia pela frente eram destruídas. Não afirmo a eficácia dessas manifestações de ira popular, mas é inegável que identificaram bem os responsáveis.

2 Comments

  1. Domingos Sávio

    Todas as agências de rating agiram de forma inescrupulosa. Como você pode avaliar um país e definir o risco e estar metido na compra e venda dos papéis da dívida externa desse mesmo país? A Goldman foi uma das agências que pode ter cometido o maior número de fraudes com certeza. E daí veio a quebradeira dos bancos americanos, ingleses, alemães, efeito dominó. Ganharam muito dinheiro fazendo papel e sugando o trabalho do resto do mundo. Embora pareça um discurso comunista não o é. É a triste realidade de um sistema falido que se mantém pelo enorme poder concentrado nos EUA através de suas barganhas comerciais e políticas. E o pior ainda está por vir, pois a festa continua…

  2. Andrei Barros Correia

    Eu sei que pode soar a heresia, mas acho que um enorme calote mundial, esse sim seria o grande ajuste.

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