A cosmopolita Cusco.
Antes de partirmos para Cusco, permitam-me compartilhar que a vontade primeira de conhecer o Peru partiu de saudosos encontros, em Campina Grande, nos quais fatalmente, cedo ou tarde, bons amigos de sobriedade questionável cantarolavam, junto com Mercedes Sosa, Acercate Cholito. Começou daí meu fascínio pelo país.
Pois bem. De Lima, partimos para Cusco, pela Peruvian Airlines, fornecedora dos bilhetes mais baratos, comprados pouco antecipadamente, no Brasil. Viagem confortável, convém registrar, uma vez que o velho 737 preservou nossa integridade física, diferentemente dos novos que por aqui operam, equipados com seus ínfimos e violadores espaços entre as poltronas.
Vale mencionar, ainda, que – inobstante a brevidade do voo e o pouco valor pago, comparado com o preço dos bilhetes brasileiros, em semelhantes condições de procura – nos ofereceram um lanche bastante razoável. Não que comida em avião seja primordial, não o é. Paga-se pelo deslocamento, afinal. Mas, ter a impressão de não ser tratado como carga, e pagar menos por isso, é desconcertante.
Chegamos a Cusco, enfim. Do alto, não parece a cidade acolher população superior a trezentos mil habitantes, segundo as duvidosas informações das enciclopédias virtuais. Engano meu, a cidade não é pequena.
Embora temido, o soroche – indesejado efeito da altitude – não nos vitimou, em momento algum da viagem. Nem mesmo logo após a chegada, em que me aventurei de imediato no prato típico da região, o porquinho cuy, embora alertado de que não deveria exagerar na alimentação. Eu, que como tudo que voa, nada ou rasteja, devorei e aprovei a iguaria, sozinho, já que Leila sequer a tocou. Resistências gastronômicas femininas…
O Cuy
Hora de caminhar. Topografia acidentada, ruas estreitas e – embora a colonização hispânica tenha muito destruído – resquícios incas estão em todos os lugares. Destes, o que mais impressionou na cidade foi o templo dedicado ao sol, Qorikancha, que teve seu ouro levado pela ganância dos colonizadores, mas preservou a beleza e precisão dos imensos encaixes de pedras.
O Qorikancha
Do tempo colonial, armações de madeira e sacadas de entalhes delicados, além de lindas igrejas.
A Catedral de Cusco
Andando um pouco mais, modernos restaurantes e lojas, inúmeras agências de turismo e a razão de ser dos empreendimentos: muitos – mas muitos mesmo – turistas! De dar na canela, como falamos em Campina. Assediados a cada passo para conhecer algum sítio arqueológico, cambiar ou apreciar um artesanato.
Gente do mundo inteiro, notadamente europeus e asiáticos, com suas agressivas fotográficas, que fizeram meu presente de aniversário parecer a Rolleyflex de Tom Jobim. (Uma pausa, pois Leila rebate implacável e violentamente minha ingratidão).
Um tarde foi suficiente para aproveitar passeios incríveis nos arredores de Cusco. Ruínas imponentes, ousados sistemas hidráulicos e geladas mesas de pedra para mumificação retratam a habilidade dos antigos moradores. Esses incas eram uns cientistas mesmo. Risos.
À noite, foi a oportunidade para conhecermos alguns, dos muitos, bares da cidade. Pessoas de todos os lugares do planeta a se divertir e tomar porres de pisco, a cachaça dos peruanos. Com o avançar da hora e a sobriedade abalada, era hora de se recolher.
Dividimos um táxi com uma simpática jovem colombiana. Subitamente, recordei os amigos e comecei a cantarolar Acercate Cholito. A colega colombiana, de pronto e inusitadamente, acompanhou. Se o taxista gostou, eu não sei! Mas ele já devia estar acostumado com turistas cantores, de afinação duvidosa.
Despedimos-nos com risos e uma sensação curiosa de pertencimento…
Precioso, Bira!
Gostei imensamente de Cusco, também. Há um orgulho indígena subjacente em todas as manifestações. E um orgulho que não conduz necessariamente à castelhanofobia.
Lembro-me que estávamos no Sacsayaman, com um grupo que incluia uns argentinos bem branquinhos. A nossa guia era uma jovem cusquenha, profunda conhecedora da história local, indígena típica, das faces queimadas do sol inclemente.
Pelas tantas, diante de certa indiferença e perguntas tolas dos argentinos, tornou-se séria e reforçou o discurso descritivo da história do monumento, como a desprezar o desinteresse dos argentinos castelhanos e lembrar-lhes de prestar atenção a preciosos ensinamentos.
Pois é, Andrei. O orgulho dos quechua é notável e bonito de se ver. Eu pretendo falar sobre isso, mas, como me prolonguei neste tópico, deixarei para o próximo.
mais uma vez gostei muito do que escrevestes.
O que me chamou atenção em Cusco tb foi as cores da bandeira, que a comunidade gay, sem dúvida a copiou.
Tens um poder de observação fantastico! os detalhes se tornam muito importante aos teus olhos.
Devias mudar o título para “O Peru, visto por um apreciador do belo”hahaha
bjssssssssssssssss e ja estou esperando pelo próximo
Ótimo texto, Bira! Consigo ver o que tu escreves! 🙂
Gostei muito de Cuzco. É um desses lugares em que nos sentimos abraçados pela cidade.
Olívia, não tem como não gostar de Cuzco. É muito bacana, mesmo! Como diz um amigo meu: o peru é do caralho! hahaha Beijo