Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

O general esqueceu-se de Alexandre, O Grande, da Macedônia.

Texto de Ubiratan Câmara de Queiroz.

Chegou o convite… era preciso escrever.

Os dias se passaram, as desculpas, por mais banais que fossem, convenciam, pelo menos a mim.

O receio, ao longo do que eu via escrito na poção, existia. Mas, pensando bem, deixar de escrever supera as eventuais bobagens das minhas palavras em deselegância. Assim espero.

Pois bem. As notícias da manhã de hoje me despertaram a atenção. Em especial:

– As declarações feitas pelo general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, indicado para ocupar uma vaga de ministro do Superior Tribunal Militar (STM), de que militares homossexuais não teriam condições de comandar tropas geraram inúmeras críticas nesta quinta-feira em todo o país.

– Casal de mulheres vai à Justiça para dar seus sobrenomes ao filho.

– O Parlamento português aprovou em 08 de janeiro uma proposição de lei do Governo socialista para permitir o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, mas descartou a possibilidade de adoção por estes casais.

Oportuno ressaltar, desde já, que as linhas que se seguem não são manifestos particulares favoráveis ao ativismo multicolorido, sequer proselitismo pederástico, muito menos hostilidade aos homossexuais. Nada disso!

O que me parece digno de registro – e não se trata de qualquer novidade – é que, paulatinamente, os homossexuais adquirem mais respeito e afirmação social, notadamente a partir das últimas décadas do século passado. De sorte que não seria leviano afirmar que este é o século dos homossexuais, como foi o pretérito das mulheres, que, relembremos, inauguraram em solo pátrio apenas em 1927 o direito ao voto, no Estado Potiguar.

A sociedade, diante da afirmação exponencial política, econômica e social da classe homoafetiva, tende a minorar a hipocrisia, afinal, não são todos os seguidores de Pedro que se dispõem a ceifar a vida de um filho gay, ou a sua própria, como abertamente propalam.

Diante deste fortalecimento social, do respeito gradativo, a parada gay parece ser uma manifestação anacrônica, pelo menos quanto movimento de afirmação que se pretende. Não parece razoável exigir direitos fantasiados em máscaras, paetês, lantejoulas e reduzidas vestimentas de couro, afinal.

Não se trata de extinguir as paradas – a existência ou não, é ora irrelevante – mas de enquadrá-lo como movimento de estabilização ou manifestação carnavalesca.

Sustenta-se o discurso que o movimento é a mais lídima, justa, persuasiva e democrática expressão dos anseios da categoria.

Acredita-se, por outro lado, que as paradas acabam por convergir a atenção daqueles que a depreciam mais ostensivamente, promovendo, assim, a manutenção do ódio e da reprovação social, anacrônico, portanto. Tal posicionamento, em confronto com o primeiro, já foi taxado em conversa de botequim como justificante dos altos índices de homicídio no Estado da Paraíba.

Instaurou-se o silêncio… não havia mais o que se discutir.

2 Comments

  1. Andrei Barros Correia

    Ubiratan,

    A declaração é bem típica de um general brasileiro que vai tornar-se juiz. Quer dizer, de alguém que não tem a mínima idéia de um campo de batalhas.

    Destampa a boca para dizer algo absolutamente improvável. A história o desdiz eloquentemente.

  2. Emanuel Colaço

    Excelente texto, meu amigo. Faço minhas as suas palavras quando você afirma “mas de enquadrá-lo como movimento de estabilização ou manifestação carnavalesca”. Se os homossexuais queremos (olha a silepse me entregando hehehehe) um carnaval próprio – apesar de o Carnaval brasileiro historicamente já ser palco de livre manifestação de parte da comunidade homossexual, assunto para um comentário/texto maior -, que assumamos a parada como tal e não fiquemos com subterfúgios para lhe atribuir objetivos políticos, ora!
    Sobre as declarações do general, a única justificativa para elas seria dizer que tropas não obedeceriam a um homossexual assumido, não por falta de habilidades de comando deste, mas sim por puro preconceito daquelas… E o objeto do preconceito nunca deve ser punido ou ter sobre si jogada a culpa do preconceito; os sujeitos preconceituosos é que devem ser “corrigidos”, para usar um termo mais duro, já que falamos de militares.
    No mais, avanços são vistos, apesar da crescente influência das igrejas, principalmente de alguns ramos evangélicos, que abertamente lutam contra os direitos dos homossexuais. Mas é sempre assim: os cães ladram enquanto a caravana passa – e nem venham me enquadrar por preconceito religioso, pois estou só usando um dito popular sem intenção de ofender ninguém.

    Parabéns, continue escrevendo e congratulo você ainda mais por tocar num tema delicado, pois apesar dos avanços e talvez devido a eles mesmos, textos sobre homossexualidade acabam tendo que ser bem analisados antes de escritos, pois existe um certo tabu para qualquer posição que não seja o extremamente politicamente correto. Grande abraço, brother! Tum tum!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *