O que domina no mundo não é o capitalismo ou a ideologia liberal – à Mill, por exemplo – é o banditismo. Os gestores dos fluxos de capital e dos meios de pagamentos puseram todos de joelhos. E falta-lhes algo que seus prepostos, os políticos, geralmente têm: a percepção da hora de entregar os anéis para manter os dedos. Os mandantes, esses não enxergam os limites, embora existam.

Não vai ser possível empulhar a todos, todo o tempo, levando-os a pagarem uma conta que percebem não ser apenas deles. O rol de patifarias bancárias é imenso e, por isso mesmo, tornou-se praticamente não escamoteável. A lógica de cassino, aleatória, fica evidente nas famosas classificações de risco das dívidas, públicas e privadas.

Em um determinado momento, certas dívidas são classificadas como muito seguras e, pouco depois, ao sabor da especulação, tornam-se em lixo creditício. Ora, se a ortodoxia utilizada para a classificação posterior fosse utilizada sempre, as dívidas nunca seriam bem classificadas, pois na origem eram a mesma coisa que depois.

A Grécia caminha para a moratória e a verdadeira questão é se o euro sobreviverá e mesmo se não é uma tremenda impossibilidade. Se os gregos deixam de pagar suas dívidas levam, quase de imediato, países como a Espanha, a Itália, Portugal, a Irlanda pelo mesmo caminho. Na sequência, ou precipita-se a quebradeira de todos, porque afinal todos têm imensas dívidas públicas, ou acaba por ser uma febre alta necessária para o pleno reestabelecimento.

Uma parte significativa do problema está sendo encoberta pela insistência nas dívidas públicas. Todavia, o mais grave pode ser a dívida privada, o financiamento com recursos externos. E, se assim for, não haverá como escapar à conclusão de que o foco do problema são os Estados Unidos da América, porque são os detentores da maior dívida privada que existe. Basta, para percebê-lo, observar o outro lado da dívida, ou seja, os créditos chineses.

Não parece que a população grega esteja disposta a engolir o remédio que lhe foi prescrito, principalmente porque tem conhecimento de que uma minoria tomará drogas menos amargas. Na Grécia, por exemplo, a sonegação fiscal gira à volta de 10% do PIB, notadamente em relação a rendas e patrimônios, o que implica dizer que os mais pobres pagarão a maior parte da conta, a partir de tributação sobre o consumo e retração dos rendimentos.

Não é à toa que os programas de austeridade fiscal não contém prescrições retritivas com relação às forças policiais, porque elas serão mesmo bastante necessárias. E o impasse político também se avizinha, porque estará evidente que não há diferenças reais entre esquerda, centro e direita e as populações tenderão a rejeitá-las igualmente.

A única diferença efetiva será entre quem se dispuser a travar a festa bancária e quem não o quiser fazer. Entre quem se dispuser a apresentar a conta proporcionalmente aos benefícios durante a festa e quem insistir em cobrar somente dos que comeram as migalhas.