Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

O Brasil toma o remédio antes da doença.

A propaganda do estilo de vida norte-americano e, em menor escala, do europeu, fez crer que esse é um padrão a que todos poderão aceder, bastando para tanto vontade, trabalho e adoção de certas regras. Óbvio que isso é mentira e que os divulgadores principais dela sabem-no.

Mas, isso vende-se e compra-se. O fato é que padrões de consumo como o norte-americano são inviáveis, exceto se 90% do mundo continuar a viver em privações e miséria.

Há uma questão de finitude – que não se confunde com maltusianismo puro – inescapável. Finitude de recursos naturais. O caso mais evidente é o petróleo, que se gasta demasiado no modelo de consumo elevadíssimo.

A única solução, exceto, é claro, a continuação da espoliação, é o empobrecimento seletivo dos mais ricos. Digo assim para escandalizar mesmo, embora o dito encubra maiores sutilezas e nuances.

Trata-se de nivelar por baixo e não porque seja um projeto mesquinho, mas porque nivelar por cima é impossível e quem afirma a possibilidade sabe que está mentindo ou é simplesmente um tolo a repetir o que ouviu dizer.

O gasto de uns é de coisas que vieram de outros. Para que o gasto seja elevado, os vendedores devem entregar o que têm a baixo preço. Se o que uns vendem vai escasseando e eles não aumentam o preço ocorre o empobrecimento geral e aumenta o ritmo do esgotamento de recursos naturais.

Se eles aumentam os preços e os compradores não os invadem para levar a preço zero, as coisas equilibram-se mais, equalizam-se por baixo, e o consumo diminui.

Essa receita, mais dia, menos dia, tem que se aplicar. Ou seja, os preços têm que aumentar para aqueles que sempre consumiram excessivamente e a preços baixíssimos riquezas finitas que foram produzidas por ninguém, como é o caso do óleo. Se isso será feito, em escala mundial, dirá o futuro.

Estranho é que o Brasil comporte-se como rico quando ainda é pobre e pague preço de rico quando ainda é pobre. Aqui, tudo é caro, principalmente porque a enorme maioria é paupérrima. Não se trata aqui de repercutir discurso hipócrita dos predadores reclamando da predação que fazem a favor de si mesmos.

Trata-se de dizer que, quando tudo é caro, é mais caro para os mais pobres. Eles estão pagando um preço por algo que não usufruiram, ou seja, tomam o remédio antes de adoecerem.

2 Comments

  1. Saulo Fernandes

    Volto a comentar mas desta vez sem citações. A questão da Economia do meio ambiente é muitíssimo complexa. O valor monetário de um litro de óleo diesel, por exemplo, não é condizente com o custo ambiental do mesmo. A emissão de poluentes, pelas indústrias, não é seriamente fiscalizada. Até existe a RCE (redução certificada de emissões) e a negociação dos créditos de carbono, mas, nesse país nada é serio. E, falando de capitalismo, nada é sério em lugar algum. Sistema Econômico inviável. Muito bom o texto.

  2. Andrei Barros Correia

    Saulo, hoje tava vendo, na TV, que o Japão desligou 70% das usinas nucleares deles. Ou seja, o consumo de petróleo vai subir estupidamente por lá, uma vez que eles têm que gerar energia com alguma coisa e não existe nada por lá para queimar.

    A Alemanha fala em desligar as nucleares deles. Vão ter que queimar óleo ou gás ou, então, substituir toda e qualquer plantação ou pasto por células fotovoltáicas ou turbinas eólicas, a um custo imenso.

    Quer dizer, o custo disso que se chamam energias alternativas é imenso e aumentar custos, hoje, vai na contramão.

    O custo do óleo tende a subir muito e tem o custo ambiental, como tu disseste.

    Então, meu caro, em breve não haverá saídas além de reduzir-se o consumo. E o consumo somente pode ser reduzido em quem consome muito. Do contrário, é condenar os mais pobres à pobreza eterna!

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