Vem a tona um caso paradigmático do que é a mentalidade da classe dominante brasileira. O caso particular chega a ser caricatural, pelas circunstâncias que o envolvem, destacadamente por ter sucedido no Estado do Maranhão, que ocupa a pior posição na lista de IDH – índice de desenvolvimento humano dos Estados brasileiros. O IDH do país é baixíssimo, o do Maranhão é revelador da ante-sala do inferno. Mais adiante ficará evidente a razão dessa menção ao IDH.
O caso é que um africano, nigeriano, preto, é aluno do curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Maranhão. Ele vem sendo vítima do crime de racismo, praticado pelo professor Cloves Saraiva, que, segundo noticiado nos links que estão ao final, agride o aluno constantemente. Pergunta-lhe por que não volta para a África, que aqui somos civilizados, diz que deve clarear sua cor, faz piada com a sonoridade do nome do aluno, relacionando-a com o vulgar no cú.
É um retrato sem retoques do baixíssimo nível da figura média componente das classes dominantes brasileiras. Um professor universitário de engenharia química presta-se a fazer anedotas vulgares com a sonoridade de um nome próprio em outra língua! Esse bárbaro oferece-se ao ridículo abertamente ao dizer que o aluno volte para a África, pois que aqui somos civilizados. Civilizados!
O professor do Maranhão, esse grande civilizado, acha-se na civilização. Vou dar uma pequena idéia da civilização em que ele insere-se. Em 2005, o IDH do Maranhão era de 0,683, comparável, em termos mundiais, ao Gabão, curiosamente situado na África e, até onde se sabe, raramente utilizado como parâmetro de civilização, nos termos em que o professor usa o conceito.
Ainda segundo os dados de 2005, o IDH – Educação do Maranhão é de 0,784, comparável, em termos mundiais, a São Tomé e Príncipe.
Vamos adiante: o IDH – Renda do Maranhão era, em 2005, de 0,57, comparável, em termos mundiais, ao Vietnã!
Em termos de esperança de vida, o índice de longevidade do civilizado Maranhão é de 0,696, em dados de 2005, sempre. Comparável ao Uzbequistão.
Esse primor civilizacional foi produzido por uma classe dominante de que é honroso representante o professor racista! O produto revela o nível de seus produtores, evidentemente.
IMORAL!
E ainda dizem que não existe racismo no Brasil.
Tive a oportunidade de conhecer o estado do Maranhão, é uma VERGONHA. Qualquer um pode perceber, até no desenvolvimento das cidades, o caráter centralizador dos Sarney. Digo porque as cidades daquele estado, tirando a capital, não possuem infra estrutura NENHUMA! Pensei que estava nas cidades fantasmas do faroeste.
Outro dia um ex-secretário de direitos humanos do Maranhão veio a Salamanca dar uma palestra. Dizia que muito se orgulhava dos avanços que havia conseguido no exercício da função e, claro, exaltava os Sarney.
Não sei porque não me surpreendi, quando em uma conversa informal com a esposa do palestrante (que só para constar estava acompanhado ainda da filha e do genro), esta se estava vangloriando para todos que quisessem ouvir, que eles tinham um “piso” aqui em Salamanca e que vinham muito a “menudo”.
Porque será que não me surpreendi?
E a custo de que esse pessoal é tão rico?
Ê Brasil vei de meo Deus!!!
O mais interessante, é notar que essa plutocracia, quando sai do país a fazer esses discurssos de faz de conta, não convençe quase ninguem. E o quase, fica por conta daqueles que não precisariam de convencimento. =)
Caro Thiago,
É um festival de precariedade, pobreza e concentração mesmo, no Maranhão. E uma elite continua predando tudo que pode e mantendo vivas inclinações como o racismo puro. Isso, em um estado de elevadíssima população preta.
Essa gente que tu conheceste é exemplo de uma figura brasileira muito antiga e arraigada. São aqueles que vão passear na Europa às custas do Estado e fazer discursos e dizer que estão a estudar profundamente.
No fundo, levam nas bagagens a si próprios e revelam suas reais identidades na primeira conversa informal. Revelam as vantagens que têm, orgulham-se de serem predadores de Estados sustentados por milhões de pobres…
Por essas e outras, uma das coisas que mais evito fora do Brasil são brasileiros. Claro que há excepções, mas a regra, bem a regra é mais frequente…
É engraçado. É muito provinciano e de senhorzinho de província o sair gabando-se do piso que têm à disposição e de viajar muito a menudo.
Quem paga a brincadeira?
Pois é, Vevel, o quase já estava convencido previamente. Provavelmente, esse quase compõe o mesmo número.
RETRATAÇÃO PÚBLICA
José Cloves Verde Saraiva, professor associado III da UFMA, vem mui respeitosamente pedir desculpas públicas a interpretação, certamente, dúbia do aluno nigeriano NUHU AYUBA, que durante as aulas de Cálculo Vetorial, no curso de Engenharia Química da UFMA, sentiu-se ofendido, e vem esclarecer este engano nos três itens seguintes:
1. Ao perguntar o seu nome não houve qualquer sentido jocoso, visto que sua pronúncia no seu idioma induz isto no nosso e que foi esclarecida por ele mesmo como o equivalente deste a NOÉ JOSUÉ.
2. Em conversa particular, referir-me ao Prêmio Nobel Nigeriano W. Soyinka sobre a frase “UM TIGRE NÃO DEFINE TIGRITUDE. UM TIGRE SALTA!” Quando me referi aos LEÕES AFRICANOS, que nas dificuldades de todo estrangeiro para o entendimento subjetivo de acusações preconceituais, esta não induz isso, pois sou também de cor Parda, assim como os meus familiares, e durante toda minha existência jamais proferiria tal insulto, principalmente para aluno.
3. Já referir-me em classe que “ser universitário é muita responsabilidade” e é costume dos alunos novatos (calouros) usarem as dependências da Universidade para outros fins fora do contexto educacional. Reclamei a você e aos outros colegas que não compareciam as aulas, nem fizeram os exercícios e, principalmente você, não compareceu ao PRÉ-TESTE e nem fez a sua 1ª Avaliação, além disso, não fez o PRÉ-TESTE da 2ª Avaliação, nem as suas notas de aula no caderno desta disciplina foram escritas e apresentadas até hoje. É lamentável! Faço o meu dever de professor cobrando o bom entendimento da disciplina, tendo formado excelentes alunos durante todo esse tempo, veja que a maioria dos seus colegas de classe cumpriram seus deveres e a turma passada não teve problemas deste tipo. Embora sabendo que você tem suas dificuldades naturais, como qualquer estrangeiro, deveria pelo menos se explicar, evitando interpretações errôneas sobre o seu atual comportamento como estudante da UFMA.
Firmo-me nestes termos públicos e receptivo a quaisquer outros esclarecimentos.