Um chão de mosaico.
A visão de um chão de mosaico faz-me sentir o cheiro seco de casa velha. E o cheiro seco de casa velha traz-me a imagem de um chão de mosaico. Dificilmente os percebo separadamente.
Nunca morei em alguma casa com piso de mosaico, nem que tivesse cheiro de casa velha, aquele cheiro amarelo e seco de madeira, mas tenho nostalgia disso. Acho-os, o cheiro e a visão, que são as mesmas coisas, agradáveis e bonitos, além de reciprocamente evocadores um do outro.
Uma casa nova, moderna, com piso de cerâmica, mesa de vidro, sofás enormes e estofados, objetos decorativos de metal e vidro, painéis escuros, TVs planas e imensas, não tem cheiro para mim. Quase não tem cor, também, porque não a pode ter sem ter cheiro.
Uma casa de pé direito alto, portas de madeira com bandeiras em cima, tem cheiros ventilados e cambiantes entre o amarelo e o verde. Cheiro velho dentro e novo do corredor ou alpendre para fora. Tem cheiro de panos, nos quartos. De fotos antigas e de cadeira de balanço, na sala. De nada, no banheiro de paredes meadas de azulejos brancos.
Os mosaicos do chão da casa de meu bisavô paterno tinham cheiro de café. E, claro, como sou bastante óbvio, café tem cheiro de mosaico com bolacha cream cracker, cigarro apagado. Farmácia tem um cheiro verde de seringa de vidro bem transparente e…. de mosaico.
Bem, é melhor deixar-me disso, senão vou acabar comprando uma casa velha.
Andrei. Hoje em dia qualquer pessoa que compra qualquer imóvel com um piso desses, logo diz que vai quebrar e botar uma ceramica, porcelanato ou ainda uma baboseira caríssima imitando madeira e que descola a cada dois anos. O fetiche do consumo e a busca pelo “novo” vai lentamente nos privando de ver esse tipo de piso de casa de vó, sempre frio, onde deitávamos suados após as brincadeiras para nos refrescar. PS: Antes que a nova onda moralista-cristã me atropele, esclareço que nunca deitei suado com Andrei em lugar nenhum. Nem enxuto.
Nesses tempos a advertência do post scriptum é válida kkkkkkkkk
Esse tipo de piso pra mim, lembra casa de fazenda. Quando pequeno adorava esses tipos de programação.
Sabe q eu adoro qnd algum cheiro me remete a alguma lembrança de algo da infancia??
Julinho da Adelaide, após os risos, seria oportuno aguardar a resposta de Andrei, afinal, imagina se ele começa a parodiar “Negue”.
Diga que já não me quer!
Negue que me pertenceu,
Que eu mostro o piso molhado e ainda marcado pelo suor seu.
hahahaha Relevem a brincadeira, meus caros!
Mas, Bira, nem uma palavra sobre o mosaico?
Andrei, o mosaico me lembra o alpendre da fazenda em que costumávamos descansar, após tomar leite morno saído de vacas magras do cariri paraibano, com açúcar no curral.
Me lembra, também, o piso dos conventos que frequentei quando aluno de colégios de freiras. Em que, inevitavelmente, eu vinculava à existência de alguma santidade do local.
Quem sabe a santidade estava na verdade, apenas e tão somente, na refrescância do chão frio?!
Me lembra a casa de minha vó. Há uns anos fizeram uma reforma na casa dela e tiraram o mosaico para colocar um azulejo branco. Resultado: a casa agora parece um banheiro.
Realmente, Bira, lembra colégio de padre ou de freira.
A foto acima é de uma igreja, que muitas delas têm o piso assim.
Uma coisa engraçada nas igrejas e em algumas salas de conventos ou colégios, é que os mosaicos quebram-se, às vezes. Torna-se difícil encontrar exatamente o mesmo e é difícil, ainda que se encontre, colocá-los no mesmo desenho geométrico.
Daí que muitos pisos têm os mosaicos fora de lógica, com os desenhos desencontrados. Já percebeste isso?
Andrei, os quebrados que vi, pelo que me recordo, estavam remendados com cimento.
Certamente, devo ter caminhado por muitos desenhos desencontrados, mas passaram desapercebidos em minhas limitações.
Sobre cerâmicas e suas quebras, as vi muito em algumas igrejas do centro do Recife, principalmente peças lusitanas. Embora lhes faltem pedaços, elas chamam a atenção…
Andrei,
O que me chamou mais atenção foi a relação que tu fizeste entre os aromas e as cores!
Reginaldo,
Nunca tiveste essa impressão de que certas imagens têm cheiros e que certos cheiros são imagens?
Da mesma forma que elas, imagens, sons, cheiros, podem desencadear saudades, alegrias ou tristezas.
Essas relações são muito intrincadas.
Andrei,
Lógico que tive, mas o que me deixou intrigado foi a atribuição de cores, como o cheiro de casa velha é amarelo ou o cheiro de farmácia ser verde!
Faço um ligação um pouco mais concreta, mas próxima das que você relatou (lembraças do sitio, por exemplo). Mas infelizmente não consigo relacionar o cheiro a cores…
Essas cores, cheiros, formas, casas velhas, ou não…
Importante lembrar que sempre estão relacionadas a casas de avô ou avó, sítios e afins.
Gostaria de saber de que se lembrarão, daqui a alguns anos, nossos netos, sobrinhos netos e afins, já que nossas casas, não tem cheiros, cores, está lá apenas, o altar, com uma grande televisão nele instalada. Porque até o altar com um santinho e uma vela acesa (ou gasta, pela metade) dava o odor de casa velha dos quais todos lembram…
Bem lembrado. O altar com os santos e velas dava a oportunidade de, passados uns anos, ser contra ou a favor do que ele representava. Ou seja, de ter uma identidade.
O altar televisivo é muito pérfido, pois não permite identidade. Relativamente a ele, ninguém torna-se contra ou a favor, só a favor.
Viva, portanto, os santos e as velas e as fotos antigas.