Grigory Perelman, matemático russo.
Uma das infâmias mais repetidas é que tudo está à venda, variando-se apenas os preços. Ora, muita coisa está, sim, à venda, mas não tudo. Chega a ser bastante arrogante enunciar uma verdadeira lei – o que acontece com uma proposição que tenha sempre ou tudo – reveladora das propensões humanas, sem exceções. Nem tudo está à venda, na verdade.
É desconcertante para as pessoas que vivem a precificar tudo constatar que as vontades podem reger-se por mais que regras de comércio. Perdem a certeza que tinham da existência de uma regra válida, imutável e segura, que pusesse as reações humanas como pressões por recompensas, apenas.
Quando alguém tem um comportamento que desmente a regra do tudo está à venda, é considerado louco, em maior ou menor grau. Essa é a única porta de saída aberta pelo sistema social. Para manter válida a norma e não tirar o chão debaixo dos pés das pessoas, os comportamentos que a contrariam são tachados de loucura. Pode ser diretamente, ou por meio de insinuações.
O indivíduo da fotografia acima desvendou a Conjectura de Poincaré, e desenvolveu uma solução algébrica que tornou-a em teorema. Esse problema era considerado um dos sete maiores do século e, por isso, o Instituto de Matemática de Clay instituiu um prêmio de um milhão de dólares para quem o resolvesse.
Grigory Perelman desdenhou do prémio que lhe foi atribuído e não o fez porque já fosse rico e por isso não precisasse do dinheiro. Em outra ocasião ele deixou de ir a uma cerimônia em que seria homenageado e agora, quando jornalistas do Daily Mail o procuraram para falar do assunto, nem abriu a porta e disse tenho tudo que quero.
Ele representa a grande ameaça. Enquanto é um ou são dois ou três, deixam-se ficar com o rótulo de loucos que não gostam de dinheiro. O rótulo anuncia-se discretamente por meio da enumeração de pequenos fatos denunciadores de excentricidades. Mas, se o número dos excêntricos se multiplica, há reação e de loucos passam a subversivos que devem ser eliminados.
Quando a regra é a vida privada exposta a preço certo, a indignidade elevada a norma, a competição selvática por duas moedas de prata, o despudor, um fulano que simplesmente não está interessado em um milhão de dólares, nem em dar entrevistas a jornais é uma exceção valorosa.
Belo texto. Excelente lembrança. Que bom a refrescante notícia de que nem tudo pode ser comprado. As barreiras invisíveis ao dinheiro existem. E ponto. Como diria Osho, ele simplesmente não chega lá. Está na outra margem do rio. Não alcança. A recuperação das nossas humanidades passa por serem grandiosos e valorosos do tipo do Grigory. É uma matemática de enlouquecer o capitalismo…
ops (seres grandiosos…)
Muito bom ,fico encantada em saber uma noticia deste teor .Ainda podemos acreditar que o dinheiro pode comprar e compra muita coisa mas não tudo, nem todos.