Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mulheres árabes pagam 2000 euros por reconstrução de hímen.

O Dr. Marc Abecassis

Leio, na BBC em português, que o Dr. Marc Abecassis é muito procurado por mulheres árabes, ou árabe descendentes, na França, para cirurgias de reconstrução de hímen, pelas quais ele cobra à volta de 2000 euros. O médico assevera que a procura é maioritariamente de mulheres na faixa dos 25 anos, provenientes de todas as classes sociais.

O assunto chamou-me a atenção porque convencionou-se utilizar este exemplo como mais um das prisões sócio-culturais associadas ao islão e ao pertencimento étnico-social ao mundo árabe. Ou seja, de submissão a padrões culturais e religiosos, cuja infração pode levar à exclusão em graus variados. Ora, claro que é disso que se trata, mas a utilização do caso para acusar o islão ou a cultura árabe de impositores de sujeições sociais deixa entrever quanto somos complacentes com as mesmas coisas no nosso panorama cultural.

Por exemplo, uma vasta porção das populações masculinas jovens de cultura ocidental é refém da obrigação de gastar tempo e dinheiro em academias de levantar pesos, para ter braços fortes e músculos abdominais realçados, para utilizar engraçadas camisetas apertadas, em cores extravagantes e com desenhos estranhos, sob pena de exclusão social.

Uma vasta porção das mulheres jovens de cultura ocidental é refém da obrigação de submeter-se a cirurgias para inserir silicone nos peitos e na bunda, ou retirar gordura de locais vários, sob pena de falta de êxito matrimonial ou profissional. Aqui, é possível até apontar uma grande superioridade da himenoplastia, uma vez que demanda anestesia local e apenas 30 minutos, minimizando os riscos frente às grandes intervenções a que se submetem as jovens senhoras modernamente ocidentais.

Embora muita gente fale do ridículo e dos riscos associados às prisões sociais na raiz das condutas ocidentais, não há qualquer esforço maior de associá-los a causas profundas culturais, étnicas ou religiosas. Pairam como uma simples curiosidade superficial, um deleite de ocidentais livres. Enquanto algo intimamente semelhante, quando dá-se entre árabes, seja a prova irrefutável de uma inferioridade cultural e de uma dominação hedionda sobre as mulheres.

4 Comments

  1. Olívia Gomes

    O ocidente pratica um paternalismo discriminatório e arrogante em relação aos não-ocidentais.

    • andrei barros correia

      É verdade. Mantém-se cego em relação às suas práticas, cujas matrizes são as mesmas, culturais e religiosas – porque até o ateísmo é uma religiosidade – e apressa-se a apontar as prisões dos outros.

  2. João Ezaquiel

    A tendência é sempre olhar o quintal dos outros antes de arrumar o seu. É mais fácil, dá menos trabalho, e rende conversas pseudo-inteligente-progessistas.

    • Olívia Gomes

      Tens razão, principalmente quanto as “conversas pseudo-inteligente-progressistas”.

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