Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mordechai Vanunu, a bomba atômica israelense e o Nobel.

Mordechai Vanunu foi indicado para o prêmio Nobel da paz. Escreveu uma carta para a Academia de Estocolmo e disse que não o queria. Disse que não pretendia figurar numa lista de agraciados que inclui Shimon Peres, o artífice das bombas nucleares israelenses. É raro alguém rejeitar laúreas dessas, com argumentos tão incisivos, que deixam evidente o quanto há de aleatório e de hipócrita no famoso prêmio sueco.

Vanunu é filho de pai rabino e foi criado em ambiente ortodoxo. Afastou-se, contudo da ortodoxia. Trabalhou, em posição meio subalterna, no complexo nuclear de Dimona, no Sinai. Essa usina de tecnologia francesa foi o princípio do rapidíssimo desenvolvimento da tecnologia nuclear bélica de Israel. Enriquecendo e comprando clandestinamente urânio, chegaram às estimadas 200 ogivas nucleares.

Em certo momento, Vanunu foi para a Inglaterra e vendeu a um jornal uma estória interessante. Tratava-se de pormenores do programa nuclear israelense, desenvolvido em Dimona, onde ele trabalhara. Acontece que o dono do jornal era judeu e o Mossad não levou muito para encontra-lo, findando por sequestra-lo em Roma.Levado a Israel, foi julgado e condenado. Escapou à pena de morte, porque entendeu-se que esta punição capital não deveria ser aplicada por judeus em judeus. Preso e incomunicável por dezoito anos, Vanunu tem encontrado, hoje, um pouquinho mais de liberdade e eventualmente pode falar com estrangeiros.

O que ele contou em 1984, até as pedras do porto de Haifa sabem que é verdade. Todos sabem, Israel nunca se apressou a nega-lo, nem a confirma-lo. Segue em frente ignorando solenemente tudo quanto sente-se à vontade para dizer dos outros, e contando com a cumplicidade de França, Inglaterra e EUA.

Eu tenho nada contra, nem a favor, da detenção por Israel de 200 ou 300 bombas atômicas. Basta que alguém as detenha, para ser indiferente que todos as detenham. As bombas e as pessoas são essencialmente as mesmas, então pouco importa que seja um ou muitos. Importaria, sim, que ninguém as detivesse, mas isso …

Mas, enche-me a paciência que precisem, além das bombas, de difundir um imenso rol de bobagens e de palavras vazias contra quem pretende ter as mesmas coisas. Querem – e encontram um enorme lista de tolos dispostos a segui-los – convencer que os problemas de uns são os de todos. Isso é absolutamente falso.

Há interesses comuns e interesses particulares. Dos comuns, pouco ou nada se fala, e assim podem ser identificados: procure a coisa mais escondida e ela provavelmente será um interesse comum. Dos particulares, muito se fala e se afirma sua falsa universalidade. Assim também se identificam: quando alguém diz nós, pode -se estar certo que quer dizer eu.

1 Comment

  1. Severiano Miranda

    Além de concordar com tudo, ainda acerca do prêmio, escreveu Fidel Castro sobre o prêmio recebido por Obama e sobre a vida de Evo Morales, uma carta, que vale a pena ser lida, está no endereço:
    http://www.ain.cu/2009/octubre/16edreflexiones.htm
    Uma das traduções ao português está em:
    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/fidel-um-nobel-para-evo/
    Conclusões, conclusões…

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