Os maiores sociólogos do senso-comum que há, nas cidades grandes, são os taxistas. Eles são conservadores, em sua maioria, mas não são desonestos intelectualmente, ou seja, não estão a representar papéis aparentemente complexos.
Táxis em Buenos Aires ainda são meio de transporte relativamente barato e, portanto, interessante para deslocamentos grandes. Para pequenas e médias distâncias, o ideal é caminhar e perde muito quem não fizer esta opção.
Quase sempre é possível conversar com os taxistas. Em outras ocasiões, gostava mais de falar de política, mas deixei isso de lado. Hoje, basicamente amenidades e futebol; é bom deixá-los falarem.
E eles são quase unânimes em insinuarem que nós brasileiros e o Brasil em geral estamos muito bem. Eles percebem as coisas muito a partir da taxa de câmbio, da quantidade de sacos que os brasileiros carregam consigo e das opiniões de quantos deslumbrados estiveram lá na tentativa de trazer tudo que for possível na bagagem.
Que nós brasileiros e o Brasil estamos melhores é óbvio, mas isso é negado, internamente, exatamente pela classe média que se comporta de maneira a afirmá-lo no exterior. A mesma gente que insiste em reclamar de tudo, em casa, dá sinais evidentes do contrário, fora de casa!
Prova que certa camada social reclama muito por reflexo condicionado ou até por reflexo totalmente involuntário e incondicionado. Por puro e simples conservadorismo político e preconceito de classe contra um certo ex-presidente da república que, o único, era de extração social realmente baixa.
A parcela da população brasileira que tem do que reclamar e o devia fazer, está em relativa letargia, infelizmente. Mas, quando derem vez ao morro, toda a cidade vai passar…
Bem, o caso é que destinos turísticos de brasileiros em Buenos Aires, de coração e sinceramente, são os centros de compras, desde as evidentes Galerias Pacifico até os centros caros de Palermo.
Mas, é engraçado como há uma pontinha de desconfiança com o entregar-se totalmente aos desejos mais puros e reais. Há que se inserir algo menos comercial ao roteiro e qualquer coisa serve.
Curiosa necessidade humana, essa de disfarçar um pouco as vontades mais verdadeiras. O sujeito, no mais das vezes, queria era sair nu pela rua, correndo, gritando, saltando, com o cartão de crédito na mão, a gritar eu compro, eu compro, como um novo eureka de um tristemente novo Arquimedes.
Bem, o caso é que fomos visitar o Teatro Colón. Este edifício é enorme e belíssimo. Mais bonito por dentro que por fora, de uma beleza suntuosa, de neoclássico eclético. Estão lá os inevitáveis vitrais franceses, os mármores Carrara, os tetos em estuque doirado, os espelhos enormes, o mobiliário terceiro império tardio. Esse Teatro é mais belo que a Opera Garnier, que certamente foi um modelo considerado na época da construção.
O Colón foi o ponto turístico – não tentarei inventar termos para fugir desse péssimo lugar-comum – onde menos avistei brasileiros, afinal não é um centro de compras. Todavia, pouco não significa nenhum. Éramos suficientes para termos direito a visita guiada por uma simpática jovem a esforçar-se por falar português.
A guia da visita dos brasileiros era simpática e servia-se de sagazes meios de agradar a platéia, como desculpar-se inicialmente pelo precário português falado – falando-o perfeitamente – perguntar aos visitantes de onde vinham e contar uma e outra anedota bem suave sobre a construção do teatro.
O perguntar de onde vêm os visitantes produz um belo efeito, pois todos anseiam por falar, mesmo que seja para dizer alguma irrelevância. A cultura da participação, ainda que se participe com um nada, é muito bem reputada.
Lá pela metade da visita, ao cimo do segundo lance de escadas, que dá acesso aos camarotes, a guia parou a explicar que a construção do teatro envolveu três ou quatro arquitetos italianos e franceses, mármores de três regiões distintas da Itália, espelhos belgas, vitrais franceses e por aí segue.
Perto de terminar a exposição, a guia foi interrompida por uma audaz e segura de si senhora do Rio de Janeiro, que a indagou o que naquele Teatro era argentino. Ó aparente sagacidade, coisa rápida que faz alguém meter-se no caminho da grosseria e da burrice…
É perverso tentar constranger pessoas que, em função do ofício, não podem responder adequadamente, embora saibam como fazê-lo. A jovem, muito delicadamente, disse o óbvio: embora arquitetos, mármores e vidros não fossem argentinos, a idéia de erguer o teatro, o sítio e o dinheiro que o pagou eram-no.
Se eu fosse um ser mais tolerante e, portanto, mais dado a provocações e ironias, teria perguntado à senhora do Rio de Janeiro o que ela acha que é brasileiro no Theatro Municipal da antiga capital do Império e da República, exceto o suor dos trabalhadores, e alguma areia retirada de Botafogo.
Mármores, espelhos, vitrais e o restante a compor um típico teatro fin-de-siècle como o Municipal do Rio de Janeiro vieram todos da Europa e nem por isso o edifício pode-se considerar não-brasileiro.
A lógica fácil, a falta de educação, a falta de cultura formal e o estar sempre à vontade por sentir-se mais rico levam a grosserias imensas, que somente deviam ser praticadas na mesa de um bar, entre pessoas que não estão obrigadas ao silêncio por conveniências profissionais.
El tema me parece complejo… mucho más de lo que pudo parecerme cuando lo leí con mi incipiente portugués. ( Espero estar entendiendo bien lo que escribiste)
Complicado, porque? Ya que el compañero brasileño criticó la actitud de su compatriota, yo me voy a dedicar a hablar de mi patria.
Estamos de acuerdo que un país no lo hace su arquitectura, y menos en Argentina, cuando el crisol de culturas es evidente. Pero hay una realidad que no puedo evitar pensar: Argentina vivió mirando Europa, “allá donde esta lo bueno”, al otro lado del océano. Lamentablemente siempre se valorizó mucho más lo que venía de afuera que lo propio, incluso, teniendo universidades mejores que en algunos lugares de europa, estudiar afuera dota de cierto prestigio. Nos conformamos con ser pseudo-europeos, en vez de sentir la belleza de ser latinoamericano. Las cosas como son, esto generó gran parte de los prejuicios que hoy nos acompañan en muchas partes del mundo.
Y este mito, que nos acompaña desde el nacimiento, tomo su máxima expresión, cuando un tal Fernando de la Rua (que parece que nos presidió), declaró sobre la importancia de irse al exterior (no lo recuerdo bien, pero creo que hablaba de jugadores de fútbol -y si, en argentina el fútbol y la política siempre fueron aliados-)… Tiempo después, ese encanto latente de irse, se metamorfoseó y tomo la forma de lo que se gritaba en las calles al son de las cacerolas: “¡QUE SE VAYAN TODOS!”. Pero esa ya es otra historia…
Con esto no defiendo la actitud estúpida de la turista, de querer ser más con un comentario tan idiota, pero si pongo la responsabilidad de ambos lados.
Pero si me preguntan, ¿el teatro colon es Argentino? Como buena Argentina diré que si. Que la idea fue nuestra, y que parte de su encanto se lo debe a Buenos Aires y a quien te lo enseña, que con una sonrisa te hace sentir en tu casa.
Porque los Argentino estamos llenos de defectos, que para nosotros son virtudes. Hacemos chistes de las cosas serias, y nos tomamos en serio los chistes. Hablamos mucho, porque decimos con metáforas hasta lo más simple. No aprendemos de nuestras desilusiones porque siempre vivimos ilusionados. Criticamos nuestro país, pero cuando viajamos todo lo comparamos con Buenos Aires, la patagonia o las cataratas (y claro que siempre lo nuestro es mejor). Somos capaces de lograr muchas cosas, menos el aplauso de otro argentino; pero cuando nos juntamos nos sentimos hermanos y nos tendemos una mano.
Y claro, sabemos y opinamos de todo… como los taxistas.