Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Exportadores ou contrabandistas e pequenos burgueses ávidos por espelhinhos?

Eis que o dólar norte-americano aproxima-se de custar quatro reais e isso parece ser uma mudança de patamar na taxa de câmbio, mais que apenas esquizofrenia e chantagem de mercado. E isso é bom, pois a moeda brasileira estava muito valorizada. Claro que esta desvalorização a par com aumento dos juros dos títulos públicos é a ante-sala do suicídio, mas esta é outra conversa…

O dólar barato encarece coisas brasileiras como soja, café, assúcar, carnes, minérios, aço processado, alumínio processado e outros produtos mais de pouca elaboração e pouco dependentes de insumos importados. A perda de competitividade na exportação dessas commodities é dramática para o balanço de pagamentos e para a manutenção de reservas em moeda conversível.

Claro que não é algo tão elástico a ponto de ser desejável ter a moeda nacional extremamente desvalorizada, porque resultaria inflação, na medida em que importa-se muita coisa banal e insumos importantes. Como está, atualmente, parece um ponto de razoável equilíbrio.

Acontece que isso desagrada quem sempre está desagradado: a classe média que nunca viajou tanto ao exterior em busca, na enorme maioria das vezes, de comprar bugigangas baratas, seja para as acumular em casa, seja para as revender aos deslumbrados seus semelhantes.

Nos espaços de convívio forçado com a pior parte da classe média brasileira – o trabalho, basicamente – essa desvalorização do real é assunto candente. Todos a lamentam, como uma verdadeira traição ou o último prego no caixão. Ficou mais caro ir a Miami! Como se vive assim?

O engraçado é que o pequeno-burguês a lamentar a alta do dólar tem de, logicamente, lamentar o aumento do custo da atividade de contrabando ou de compra leviana e enlouquecida de tudo quanto vê pela frente. Ora, fazer contrabando é ilícito; fazer compras como a satisfação de um vício é superficialidade em forma pura.

Lembraria o pequeno-burguês contrabandista-consumista que os dólares usados para estes deleites têm de entrar no país de alguma forma? Que esta forma primária é a exportação de produtos nacionais? Que esta exportação depende muito dos preços relativos?

6 Comments

  1. Severiano Miranda

    Andrei… Eu não deixo de me impressionar com algumas coisas…
    Tou estudando aqui num café, El Alcaravan, não tem nada de especial… É um café com jornais, e tabuleiros de xadrez, onde as pessoas vêm tomar café, jogar, ler, estudar, há alguns jornais velhos entulhados em uma prateleira… Enfim… Não é o típico ambiente sofisticado classe média, com jeito desleixado por pretensão. Até pode ser pretendido o desleixamento como forma, mas não objetivando o pequeno burguês, e sim quem vem, na maioria, ler, passando 5 horas na mesa com um café ou uma agua.
    Eis que me chega um casal de onde???? =D Se sentam, pedem uma coisa, numa garrafa azul que eu nunca nem tinha visto, e pedem um “menu”… Devem haver-se espantado de o mais sofisticado que havia eram torradas com marmelada, e se foram… Essa gente não sabe o que é commodity, podem ser os donos da terra inclusive. Podem diretamente trabalhar com isso. É difícil…

  2. Andrei Barros Correia

    De onde seria este casal, Severiano?
    kkk

  3. Arthemísia

    Conviver com essa ladainha da classe média é overdose! É preciso se cuidar para não adoecer.
    Vou acrescentar mais um causo. Já faz um bom tempo, mas ilustra bem o sentimento médio-capataz que define nossa gloriosa classe. Morava eu em Sampa e, até então, não havia saído do país. Conversando com colegas que haviam realizado o feito, eles me falavam do Louvre, do Metropolitan e eu achando lindo que eles tivessem visitado museus. Eis que perguntei o que achavam do MASP, que eu tinha acabado de conhecer. Simplesmente me responderam que nunca haviam visitado, mesmo sendo paulistanos da gema. Foi aí que comecei a entender que falar do Louvre ou do Metropolitan era uma espécie de griffe, de distinção, de superioridade. Pobres almas penadas….

  4. Gustavo Farias

    Depois de ler me senti mal de ter ~contrabandeado~ para cá uma rede de nylon para carregar bola (de basquete, futsal etc.) que não encontrei aqui em CG… Comprei no AliExpress, nunca havia comprado, não sei nem se vai chegar! Mas me surpreendi com o preço: 0.53 cents de dólar americano! Com Frete grátis!! E vem da China!! Não entendo como isto funciona! Sei do trabalho escravo, sei de tudo o mais. Mas me parece ilógico, já que vivo no Brasil. Ou tudo aqui é tão ao avesso que achamos (mas não entendemos) como funciona(m) o(s) mercado(s). Para quem quiser comprar a redinha que comprei, sem sair do Brasil, segue o link, heheheeheheeh: http://pt.aliexpress.com/item/Nylon-Net-Bag-Ball-Carry-Mesh-Volleyball-Basketball-Football-Champion-Outdoor-Multi-Sport-Game-Black/32283920788.html

  5. Gustavo Farias

    Sim, forte abraço Dr. Andrei! Devo uma visita em uma sexta qualquer!
    ERRATA: Ou tudo aqui é tão ao avesso que achamos que entendemos (mas não entendemos) como funciona(m) o(s) mercado(s).

  6. Andrei Barros Correia

    Gustavo,

    O consumidor brasileiro, de forma geral, ainda é imaturo e está deslumbrado com as oportunidades de aquisição.

    Este país era muito fechado. Os que reclamam de impostos de importação deviam ter vivido os anos 70.

    Daí que quem compra loucamente, tende a comprar mais caro.

    É interessantíssimo tomar o exemplo do mercado de automóveis. Nove entre dez médio classistas brasileiros não compreende porque o mercado argentino é mais diversificado, tem mais ofertas, tem carros a diesel e coisa e tal, mesmo sendo muito menor que o mercado brasileiro.

    Ora, o consumidor argentino é muito mais criterioso e tem cultura automotiva muito mais antiga. Fica mais difícil o deslumbre puro da iniciação no mundo do consumo.

    O que há aqui, meu caro, são margens de lucros obscenas.

    Grande abraço.

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