Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Eco-tolice e eco-chantagem contra a Usina de Belo Monte.

O nascimento de uma pessoa é um evento lesivo ao meio ambiente, porque ela beberá água, comerá animais e vegetais, usará roupas, pouco importando que sejam naturais ou sintéticas, usará meios de transporte, ela consumirá energia, enfim. A existência de gente na terra é o único fator de dano ambiental que há. Portanto, caso se queira suprimí-lo, basta nos exterminarmos todos.

Como não há indicações de que os ambientalistas nutrem esse nível de apreço pelo meio-ambiente – ao contrário do que sugere a ferocidade do discurso – é de se pensar que a questão toda gira em torno a intervir com o menor nível de prejuízo ambiental possível. E essa nível varia conforme os objetivos a que se visam. Na verdade, não há ações ambientalmente inertes, nem aquelas que o imaginário convencionou julgar mágicas.

Poderíamos, por exemplo, erradicar toda a soja plantada no cerrado brasileiro e semear células fotovoltáicas, que seria até esteticamente superior. Teríamos o afã de energia limpa atingido, mas ao preço da fome e, talvez, de alguma insatisfação dos chineses. Com fome, talvez nem conseguísemos pagar o elevado preço dessa energia do deus de hélio, aparentemente tão gratuita.

Uma usina hidrelétrica será construída no sítio chamado Belo Monte, no Rio Xingu, no Estado do Pará. Será a terceira maior usina deste tipo no mundo, com capacidade instalada de 11.233 MW, inferior apenas às de Itaipu – também no Brasil – e das Três Gargantas, na China. O equivalente a 10 usinas nucleares de tipo padrão, por uma fração do preço!

A maioria dos que se lançam na cruzada aparentemente ecológica contra a usina não tem a menor idéia do que são 11.233 MW, nem da extensão dos danos ambientais que haverá, nem da enorme eficiência dessa planta hidrelétrica. Belo Monte terá um dos menores reservatórios entre as usinas do tipo no mundo e o menor dentre as grandes usinas brasileiras, considerando-se a relação entre área alagada e potência gerada.

O reservatório terá 516 Km2, o que é insignificante. Para ter-se uma idéia, a usina de Tucuruí, também no Pará, tem um reservatório de 2.850 Km2, mais de cinco vezes maior, portanto. Quando se estabelece a relação potência instalada por área inundada, a eficiência do projeto de Belo Monte fica evidente.  Ela gerará 21,77 MW por KM2 inundado, o que é mais de duas vezes superior à relação de Itaipu!

Então, os danos associados à área inundada são os menores possíveis, ao contrário da gritaria estabelecida por todo lado. Não se deve esquecer, é claro, que danos sempre haverá e que a questão é tê-los reduzidos ao mínimo possível. Por outro lado, argumenta-se também com os danos que decorreriam da vazão a jusante da usina que, segundo os eco-chantagistas, seria drasticamente reduzida.

Ora, não há usina que gere energia sem a passagem da água. E essa água continuará seu curso até interceptar o finalzinho do Amazonas, próximo à Ilha de Marajó. Ela não ficará retida no reservatório – o que nem seria má idéia – porque assim a usina não produziria energia! Além disso, o volume consumido para se produzirem 11.233 MW é imenso, o lago é muito pequeno, o que implica que a vazão do rio a jusante pouco será alterada.

Nesse país em que o vale-tudo encontrou a ignorância e não se separaram mais já se produziram danos ambientais muito maiores que os futuramente decorrentes de Belo Monte e por motivos até desprezíveis. E não se levantou o discurso eco-tolo, nem eco-chantagista.

Quando fabricantes canadianas de papel devastaram áreas de matas nativas para plantar eucaliptos e lançar toda sorte de rejeitos industriais nos cursos d´água, não veio aqui qualquer diretor de cinema dessa nacionalidade – desses que fazem ficção científica de seres de outras cores – fazer discurso comovido pela preservação ambiental. Afinal, o diretor de cinema é incapaz de distinguir os danos ambientais em vários graus, ou é mesmo um agente comprado da eco-chantagem?

As fabricantes de alumínio instaladas no Brasil, algumas da mesma nacionalidade desse realizador cinematográfico empenhado em resolver os problemas ambientais de um país que não é o dele, consomem quantidades enormes de energia para fundir o metal e exportá-lo. De onde esses senhores acham que vem tanta energia?

Eu aceitaria muito bem qualquer discurso que começasse ambiental e terminasse ambiental, com todas as premissas e consequências decorrentes. Pretende-se o estágio de produção de nenhum dano? Pois muito bem, aceitem-se os mosquitos como companheiros de vida, o calor como aconchego da noite, o papel e a caneta como única forma de escrever, a falta de televisão, a inutilidade do frigorífico, o banho de água fria no inverno…

13 Comments

  1. Domingos Sávio

    Bravo Andrei! Belíssimo texto. Já fui sócio do Greenpeace. Já fui. Adiro a tua lógica. Sou eu mesmo um atentado a mãe natureza. A minha existência e dos outros 5 bilhões e lá vão fumaça de humanóides que são um estorvo ao planeta.
    A Chesf ganhou ou não? Foram uma enxurrada de liminares que, se aproveitarem a papelada jurídica envolvida, dava para tocar um forno de uma termoelétrica no lugar do carvão. Daqui a pouco tiram o rio Xingú do lugar com tantas liminares. Precisamos de energia e você explica a relação custo/benefício entre as outras disponíveis. Inclusive a menos lesiva ao meio ambiente entre as disponíveis no mercado. O ideal seria energia eólica ou solar. Mas imaginemos os custos e a intermitência de disponibilidade dessas fontes… Não podemos esquecer o que você ressalta: será a terceira maior usina hidrelétrica do mundo. Agora em ano de eleição a torcida pelos apagões é muito grande. Os tucanos estão de vela na mão…

  2. João Ezaquiel

    Não vejo qual o problema em condenar a construção de uma usina hidrelétrica quando existem inúmeras outras formas de produção de energia, muito mais eficientes, economicamente, socialmente, ambientalmente. (Eu poderia listar uma dezena de alternativas)

    Qualquer ambientalista sério sabe que o grande motor por trás da devastação ambiental são duas coisas: o modo de consumo e a população mundial(que vai continuar aumentando, em decorrência das desigualdades geradas pelo modo de produção atual).

    Como eu dúvido que alguém irá propor um extermínio em massa (embora as vezes eu deva admitir que não choraria tanto se certas pessoas morressem), atacar o consumo é a única maneira de frear a desvatação.

    Todo animal tem um papel no seu ecossistema, o homem não é diferente. Existem modos de viver que não impactam o ambiente, mesmo utilizando tecnologia(esses modos pedem educação, ação, compromisso, coisas que não temos). O problema é confundir o discurso ambiental com o discurso de volta às cavernas.

    A crítica a estrangeiros que pedem por um ambiente protegido é vazia, lembrem-se que não foram essas pessoas que desmataram suas florestas a séculos atrás, são outros seres humanos com outros valores.
    (se você quer argumentar que eles querem manter a floresta aqui para que não tenham que reflorestar lá e, assim, mantenham o padrão de vida que possuem, freando assim o desenvolvimento do Brasil, tudo bem, só que eu não creio tanto nessa conversa de desenvolvimento, embora aceite que existam esse tipo de gente)

    Andrei: um discurso ambiental que comece e termine ambiental é como um discurso político que não fala de economia e sociedade: vazio, retórico. Não propõe mudanças, propõe engodos.

    • Alexandre Porto

      (Eu poderia listar uma dezena de alternativas)

      Pq não o faz?

  3. Andrei Barros Correia

    João Ezaquiel,

    Não há, contrariamente ao que você afirmou, outras formas de gerar energia elétrica mais eficientes economicamente que uma hidrelétrica como Belo Monte.

    O custo do MW/hora instalado de Belo Monte é imbatível. Alternativas, há muitas, mas são mais caras.

    Concordo integralmente com você quanto ao consumo. É o problema. Vai haver um esgotamento, se não for estancado.

    Os estrangeiros que pedem por um ambiente protegido são como os habitantes de uma casa – herdada – que pedem aos sem casa para cultivarem um jardim para eles. Mas, é claro que podem pedir qualquer coisa.

    • João Ezaquiel

      A economia é um ciência de esconder custos. Custo de oportunidade (economicamente falando) é bem diferente de custo em dinheiro. O custo de oportunidade da usina é maior que o custo de várias outras alternativas.

      E repito existem alternativas, o problema é que elas divergem completamente do padrão de produção atual. A melhor maneira de se produzir energia é localmente, assim você constroi em menor escala, impacta menos (e perde menos energia) com a transmissão. (mas isso não gera grandes empreendimentos, grande obras, grandes propagandas, grande trocas de favores com construtoras, grandes desvios……)

      O problema ambiental não vai ser resolvido se pensando velhas formas e fórmulas.

      Quanto aos estrangeiros, não vejo floresta como jardim, vejo como casa. Eu não estou cultivando jardim pra eles, estou protegendo a minha casa, que, por acaso, também é a casa deles.

      • Alexandre Porto

        30 pequenas usinas, por baixo o necessário para substituir Belo Monte, trariam impactos ambientais e sociais bem maiores que Belo Monte.

        O mesmo para 8.000 centrais eólicas.

        E repito o que sempre digo.

        Não é uma questão de escolher essa ou aquela matriz. O Brasil de excluídos, se quiser incluir, precisa de todas as formas de energia.

  4. Sidarta

    A Vale do Rio Doce é, isoladamente, a maior exportadora de minério de ferro do mundo… extraído do Brasil.

    Mas o Brasil está longe de ser o maior produtor de ferro e aço do mundo, pois lhe falta energia elétrica para fundir o metal em quantidades records.

    Quando a China construiu a usina de Three Gorges os ambientalistas do Greenpeace e de outras ONGs com fins lucrativos, e a serviço dos USA e dos países industrializados da Europa Ocidental, partiram para o ataque.

    O que estava acontecendo naquele caso era que a China teria energia elétrica para fundir o ferro que precisasse sem mais ter que importar de outros países o metal já fundido.

    Como tem bomba atômica não deu bolas para os protestos e construiu a usina através de um consórcio de construtoras… liderado por uma empresa americana.

    A reação que está sendo montada contra Belo Monte tem características e motes similares.

    A alternativa de gerar um grande pacote de energia elétrica e de produzir metais a partir de usinas térmicas queimando carvão ou derivados de petróleo é diretamente contra o bom-senso e a política fundamental do controle da poluição do ambiente; o que se está vendo nas notícias é uma manipulação paga “de fora” contra os interesses econômicos do Brasil para nos manter, entre outras limitações, como exportadores de minério e importadores de aço.

    É bom lembrar que o leste do Canadá tem uma das maiores concentrações de hidroelétricas do mundo, gerando para produzir metais (alumínio principalmente)… e nenhum Greenpeace ou imprensa americana, europeia ou brasileira condena os canadenses por “impactos produzidos por hidroelétricas sobre o ambiente ou sobre os índios”.

    Como diz o budismo, ” o que interessa é a verdade subjacente e não a verdade aparente”.

    Vamos à divulgação da verdade subjacente… e à caça e à denúncia da tal verdade aparente e das manobras de enganção com a sua divulgação pela imprensa ignorante e venal.

  5. Sidarta

    Andrei e João Ezequiel,

    Peço já desculpas a vocês e aos outros participantes do debate se estou me estendendo muito nesses comentários, se estou “ensinando pai-nosso a vigário” ou se estou saindo do tema.

    Sobre os seus comentários técnicos a respeito de Belo Monte e de outras opções de geração de energia elétrica, vale lembrar que uma tese de doutorado defendida há menos de 5 anos no Imperial College de Londres, por um engenheiro aqui do Recife, mostrou que o sistema elétrico do Nordeste do Brasil não suporta receber muito mais do que uns 2000MW de geração alternativa local “não despachável”, eólica, por exemplo (ou mais ou menos 20% da potencia instalada).

    Tentar gerar muito mais do que isso com eólica (das fontes alternativas já bem dominadas a eólica é a que tem se mostrado mais viável no momento) torna o sistema elétrico instável e complicado para se otimizar o despacho da geração e passa a se correr o risco de jogar água fora nos grandes reservatórios para se aproveitar a energia eólica eventualmente gerada em grandes blocos “fora de hora”.

    Hoje em dia, a nossa experiência mostra que se suporta mais de 75% de racionamento de água (um dia com água no cano da rua e três dias sem)… pois é assim, ou pior, que a maior parte da população urbana da maioria das cidades de Pernambuco tem vivido.

    Por outro lado, um racionamento forte de energia elétrica em anos passados na Colômbia mostrou que um corte na oferta de menos de 40% já paralizava a economia, gerando desemprego em massa e mais desordem social.

    Não há como se estocar “energia elétrica” em grande escala, o que se estoca é combustível ou água nos reservatórios – mesmo uma bateria “cobra pedágio elétrico” para armazenar e restituir a sua energia: uns 10 a 20% para guardar e mais uns 10 a 20% para restituir.

    Um exercício interessante é calcular o custo do MWh produzido por uma pilha alcalina AA… se você acha que a gasolina está cara e que paga muito imposto de renda, nunca mais vai querer usar energia de pilha não recarregável).

    Essa é uma das razões porque Hugo Chaves está administrando atualmente um pequeno racionamento de energia elétrica na Venezuela com o exército de prontidão para segurar a inquietação social… além de ter iniciado programas emergenciais de suporte a desempregados e a pequenos produtores industriais e agrícolas mais prejudicados com o problema…. um problema de Hugo Chaves.

    Pelo lado econômico da produção, o custo da energia eólica em grandes blocos é umas duas vezes o custo de hidráulica… e o custo da energia de térmicas movidas a derivados de petróleo ou a gás (não temos tanto gás assim para rodar grandes térmicas sem parar algumas indústrias já em funcionamento no Nordeste) é ainda maior, sem falar na poluição do ar.

    Restam, com maior viabilidade, nuclear e … hidráulicas…. ou ficarmos amarrados às economias do sul do Brasil e de fora do Brasil como uma área de “produção de parafusos” para as grandes máquinas que teremos que adquirir de fora da região para mover as poucas indústrias que ainda estão se instalando ou em operação por aqui.

    Uma variável interessante a se estudar sobre isso é a “intensidade energética e elétrica” anual do Brasil e do Nordeste, através do Balanço Energético elaborado anualmente pelo Ministério da Minas e Energia (a maior parte dos países do mundo elabora e divulga Balanços Energéticos em unidades confrontáveis entre países).

    A unidade básica de energia é o TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo) e o poder calorífico de cada forma de energia é referenciado nos Balanços em TEP, para que se possa confrontar, por exemplo, energia produzida por lenha com energia nuclear.

    Nesse documento, é bem indicado quanto de energia (elétrica ou de outras formas, inclusive lenha) se necessita para se produzir uma unidade de PIB regional ou nacional.

    Essa relação é relativamente estável ao longo dos anos em que o Balanço tem sido feito e indica muito bem que o PIB do Nordeste afundou nos anos de racionamento de energia elétrica, proporcionalmente à magnitude do racionamento.

    Constata-se, também, que o governo não pode injetar muito dinheiro e “tocar fogo” no crescimento econômico e na taxa de subida anual do PIB, por conta da tal “intensidade elétrica”, que exige energia elétrica em quantidades determináveis para cada ponto percetual de PIB que se quer crescer.

    No frigir, para sair do impasse econômico, que acho que é em grande parte do interesse dos USA, Europa Ocidental e Japão (não sou direitoso nem xiita, mas um pretenso budista que procura tentar entender o que são as sombras que vejo por trás da cortina, ou seja, a verdade subjacente) temos que gerar muito mais energia elétrica no país todo.

    O que penso dessa discussão é que os “pagamentos” do grande empresariado brasileiro ainda não tiveram que ser dirigidos aos donos da imprensa no Brasil, para que rapidamente mudem de opinião e passem a louvar o potencial hidroelétrico do Brasil como uma bênção de Zeus ao país.

    Quando Napoleão Bonaparte fugiu do exílio na Ilha de Elba e se dirigiu a Paris, a imprensa francesa, de início, o tachou de “o usurpador”; quinze dias depois, com Napoleão já de volta como imperador em Paris, a mesma imprensa o louvou como “o imperador de todos os franceses está de volta!”

    Acho que é também só uma questão de tempo para que o “Belo Monte de M….” apregoado pelo Greenpeace, pela imprensa e pelos inocentes úteis e não tão úteis que estão nessa empreitada contra a usina, mudem de opinião movidos a “pecunia”.

    Serra, Dilma, Marina, Ciro, um general do exército ou quem quer que for eleito ou tome o poder no Brasil vai precisar de muita energia elétrica nova para se sustentar no poder pelo tempo regulamentar, ou pela força, contra 200 milhões de reclamantes

    É melhor para os supostos ambientalistas que não venha a ser um general pois eles, alguns anos atrás, não deram a menor bola para ambientalistas, para o IBAMA, para os índios com ou sem notebook e internet, e para chiliques e achaques da imprensa… e também deram pouca bola para os tribunais.

    Se conseguiram ler até aqui… obrigado pela paciência.

    Com um abraço de,

    Sidarta.

    • andrei barros correia

      Sidarta,

      Seu comentário é quase incomentável, de preciso e completo que foi.

      Eu coleto alguma informação técnica, que consigo processar mentalmente e escrevo o que saiu aqui sobre Belo Monte.

      Chamou-me a atenção que, a despeito de toda gritaria, a usina é um espetáculo de eficiência. E, que assim sendo, principalmente no que se refere à relação potência/área inundada, é também eficiente ambientalmente. Porque o lago é o nó das hidrelétricas, nesse aspecto. E o lago de Belo Monte é ridiculamente pequeno.

      Vou tornar esse seu comentário em postagem, exceto se não quiseres.

      • Sidarta

        Andrei,

        Aprecio a sua gentileza de tornar o comentário uma postagem.

        Com relação a Belo Monte, a usina é mesmo barata, o impacto ambiental é pequeno para o porte da usina, o nivel do reservatório não deve variar pois está projetado para operar a fio-d’água, o volume de água natural que chega ao reservatório é o mesmo que sai praticamente todos os dias e não vai faltar água para nenhum uso abaixo da barragem.

        A geração de energia hidroelétrica é também um uso “não consuntivo” e não vai se perder ou gastar água nesse processo: o que entra na turbina sai na restituição.

        Como a usina é a fio-d’água e não tem reservatório de regularização, a vazão turbinada e a produção de energia dependem da vazão natural do rio, que varia ao longo do ano.

        Para se aproveitar o potencial natural dessa variação sazonal de vazões, a usina é normalmente “supermotorizada”, ou seja, a potência instalada deve ser muito maior do que a potência média disponível no rio ao longo do ano. Isso permite que se gere mais energia quando se tem mais água e vice-versa.

        Parte do barulho feito contra o projeto, penso, é por conta da pressão que as construtoras e operadoras nacionais e multinacionais estão fazendo sobre o governo, em ano de eleição, para conseguir um preço melhor de venda da energia de Belo Monte.

        Por conta disso, a Eletrobrás liberou a CHESF para entrar e ganhar o leilão com um preço baixo, mas ainda viável, não ceder a pressões oportunistas e manter a usina com o governo federal.

        Um governo de viés privatizador teria aceito pagar mais pela energia de Belo Monte e o leilão seria muito mais disputado, com o Greenpeace e os Joseph Goebbels da imprensa de hoje “bem molhados” e louvando os méritos de viabilidade econômica, ambiental e social do empreendimento.

        Um abraço,

        Sidarta

      • Alexandre Porto

        Eu concordo com toda a linha dos argumentos, mas não podemos falsear alguns pontos sob pena de dar argumentos aos ‘adversários’.

        O maior dano ambiental de Belo Monte não está em seu lago, mas na diminuição da vazão na Volta Grande.

        O lago afeta muito pouco, até pq grande parte dele atinge áreas já alagadas nos períodos de cheia. Nem em termos de desmatamento é relevante.

        Mas a Volta Grande vai sofrer com impactos difíceis de serem mitigados. Não será a morte do rio naquele trecho, mas a barragem principal criará um outro ecossistema bem menos complexo.

        Mas nada comparado com o que se fez em Balbina, Tucuruí, Itaipu, Sobradinho etc.

        Alguém pode imagina o que seria hoje inundar 4 cidades como se fez com Sobradinho?

  6. andrei barros correia

    É verdade, Alexandre, há o problema do desvio do rio, na curva. Mas, é aquela estória, outras alternativas seria menos eficientes e potencialmente mais degradadoras do ambiente.

  7. Lauro

    Buenas, primeiramente é bom ressaltar que as hidrelétricas estão entre os melhores geradores de energia que possuímos, levando em conta os impactos sociais e ambientais durante toda a sua vida útil, eficiência e segurança energética e preço por MWh. Realmente uma das melhores fontes de energia se formos comparar com termelétricas, usinas nucleares, etc. Mas é sabido que os maiores impactos desta tecnologia se encontram na fase de construção e não na de utilização.

    Agora Belo Monte propriamente dito. A idéia e projeto da obra são antigos. Lá da dácada de 70 que pensaram nesta usina e tiveram a idéia de utilizar o Rio Xingu para geração de energia. Talvez os tempos fossem outros… Em que se pudesse fazer um elefante branco em qualquer lugar sem criar muito caso. Não estou chamando Belo Monte de elefante branco, mas com certeza, será uma das maiores obras já realizadas no Brasil. O negócio é casca. É buraco pra tudo que é lado. E por consequência, teremos um impacto ambiental inicial considerável. Mas não quero tratar de impactos ambientais neste e-mail. Queria chamar a atenção para problemas mais técnicos. Não que não ache que os impactos ambientais são de suma importância, mas no momento em que precisamos de eletricidade temos que tomar uma decisão, e acredito que em termos de impactos as usinas hidrelétricas estão um passo à frente às demais.

    Um dos pontos críticos da obra é que ela tem uma capacidade instalada de 11.233 MW (terceira maior do mundo) mas como a vazão do Rio Xingu é inconstante durante todo o ano, a produção média de energia é de 4.796MW, ou seja, cerca de 40% de sua capacidade instalada. Em outras palavras, a usina só funcionaria mesmo durante mais ou menos 5 meses no ano, no restante do período ficaria ociosa. O próprio diretor da ANEEL, Edvaldo Santana, me disse isso quando o questionei em uma palestra que ele fez mês passado. Falou que seria como a hidrelétrica ficasse parada por 7 meses… E falou ainda de outro problema. Disse que o nordeste do Brasil não tem carga, ou seja, não precisa de tal energia no momento, e que toda a eletricidade seria direcionada para o sudeste. Para tal, a distribuição desta energia seria feita com redes de alta tensão até São Paulo. Ainda disse que os custos de realizar tal rede, se assemelhava aos custos totais da obra de Belo Monte. Sim, são só 2.500Km! ehehhe

    Ou seja, diante do exposto, realmente, são sei se esta obra seria a melhor opção para o nosso país. Mesmo não levando em conta o impacto ambiental inicial, talvez seja mais interessante continuarmos construindo PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) com menores impacatos e menor geração do que uma Itaipu II na Amazônia. Pelo menos por agora, e estudar melhor os impactos e outras opções de investimento. Talvez utilizar esta mesma grana em um programa nacional de eficiência energética seja mais jogo. E estudar melhor os investimentos. Os países europeus estão tudo nessa agora… pois sabem que podem reduzir o consumo em cerca de 40% na próxima década. Sei lá… temos inúmeras alternativas. Podemos até chegar à conclusão que Belo Monte seja uma boa, mas para tal tem que fazer estudos certinhos, pensar com calma, analisar outros projetos, etc. Essa coisa a toque de caixa de uma hora pra outra em ano eleitoral que me tira do sério.

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