Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

E por que não escoa?

Me fiz esta pergunta ontem ao ler a capa da revista Veja, que traz a seguinte pergunta: Por que chove tanto? e ainda afirma que uma combinação de fatores naturais tem castigado o sul e o sudeste do Brasil desde o começo deste ano.

Com uma afirmação como esta, a imprensa finda por retirar a responsabilidade dos gestores públicos pelos danos causados em decorrência dos temporais. O fato é que não são as chuvas que castigam as mencionadas regiões. A falta de estrutura urbana é que faz este papel. Afinal, as águas da chuva não escoam e, consequentemente, acumulam e geram os desabamentos e os outros problemas já conhecidos.

Colocar a culpa dos alagamentos, mortes, desabamentos, e etc, em um fenômeno natural é o caminho mais patife que pode haver, além de consistir em verdadeira subestimação das inteligências alheias. Chuva não é exclusividade do verão brasileiro; é um fenômeno de ocorrência mundial, mas que não gera transtornos da ordem dos “castigos” em todos os lugares do mundo.

Lembro-me de no inverno do ano passado em Portugal. Em Braga – cidade apelidada pelos portugueses como “penico do céu” em virtude da grande quantidade de chuva no local – choveu um mês inteiro quase ininterruptamente e não me recordo de ter visto um só ponto de alagamento na cidade.

A quantidade de chuva e os problemas vividos nos últimos tempos nas regiões sul e sudeste passam por um nexo causal escondido pela imprensa: a falta de estrutura urbana e o descaso dos governos com as condições de moradia, saúde e segurança da maioria da população. É mais conveniente culpar as chuvas.

5 Comments

  1. Andrei Barros Correia

    O título da veja é extremamente patife e cuidadosamente escolhido. Principalmente porque ela não é uma revista de meteorologia e, sim, um veículo de política partidária.

    Chover um mês inteiro, em São Paulo, no verão, não é um terramoto como o do Haiti. É um evento visto em séries históricas.

    É curioso também a veja enfatizar muita chuva e, ao mesmo tempo, sua postura de negação de mudanças climáticas. Cientificamente monstruoso.

  2. Andrei Barros Correia

    Aliás, um mínimo de honestidade jornalística impunha a seguinte pergunta: Por que as chuvas vitimam principalmente as populações pobres da periferia.

    Essa seria a pergunta, não a pseudo ciência do título que utilizaram.

    A chave para isso está no que disse Paulo Henrique Amorim. Os migrantes que moram nas regiões pobres e alagadas deviam transferir seus domicílios eleitorais para São Paulo. Então, o problema seria pelos menos abordado.

  3. Olívia Gomes

    Pois é, a falta de preocupação de quem governa é exatamente porque ele não é atingido pelas consequências dos temporais.

  4. Monte Alverne Sampaio

    Mas esta versao da notícia – neste formato que a culpa é da chuva, dos alagamentos – faltou culpar até Jesus, etc é o modo de abordagem da notícia feito para nao colocar em situaçao dificil os amigos gestores da Cidade/Estado. Caso nao fossem “amigos” – o texto seria outro: FALTA DE GESTAO E IRRESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA LEVA A CIDADE AO CAOS.
    Nao sei porque tanta estranheza, finalmente, nos temos imprensa livre.

    Bahhhhhh…que beleza
    Parabens, Andrei por mais esta fonte de informaçoes
    Monte Alverne Sampaio
    http://www.grconsultores.com.br

    55 91572777

  5. Sidarta

    Eu não li o artigo da VEJA porque deixei de ler essa revista há muitos anos.

    Realmente tem havido alguma mudança no regime das chuvas em alguns lugares, mas o fato é que, irresponsavelmente, impermeabilizaram as cidades brasileiras, São Paulo e outras grandes principalmente, e encheram os canais, drenos e rios que cortam as cidades de lixo e de vegetação…. e desmataram as encostas dos morros para permitir a construção de favelas ou de condomínios de luxo, sem se providenciar a devida drenagem das águas pluviais e das águas infiltradas nas encostas.

    Que a natureza vai cobrar o preço do aquecimento da atmosfera tenho pouca dúvida; entretanto, penso que vai começar, e acho que já começou, pela erosão das costas por conta de alguma elevação do nivel do mar e de mudança do sentido de correntes marinhas em função de mudanças mais rápidas em gradientes de temperatura de diferentes partes dos mares.

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