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Dilma Roussef, José Serra e o Google. Como pensa o brasileiro de classe média?

O que as pessoas pesquisam atualmente no Google sobre Dilma Rousseff e José Serra?

Vamos admitir que os resultados do Google são dados por relevância do termo pesquisado. Vamos admitir que o Google – embora nada o impedisse – não comercializa a relevância desse ou daquele termo, alterando seu algoritmo. Vamos admitir que o Google – uma empresa como qualquer outra, visando a dinheiro – não tem interesses políticos imediatos.

Depois de admitir essas premissas, passemos a outras, entretanto. Interesses pessoais revelam-se por perguntas, por pesquisas, enfim. Acesso a meios de pesquisa dependem da extração sócio-econômica do pesquisante. Propaganda mediática feita no formato subliminar de jornalismo influencia o que os destinatários buscam como informação não-jornalística.

Por fim, admitamos que palavras adjetivas vêm carregadas de valores e que não são axiologicamente inertes nem abstratas. Há delas que revelam uma aparente neutralidade, que é de valoração positiva, há delas que revelam qualificações negativas.

Agora, tratemos do que se pode extrair das imagens acima e das premissas que foram lançadas. O que se obtem como adjetivos mais comuns apostos ao substantivo Dilma Roussef – a candidata à presidência escolhida pelo atual Presidente Lula – são qualificações reveladoras de: primeiramente, a busca de um perfil negativo e, em segundo lugar, a busca de aspectos acessórios da personagem.

Os termos ficha criminal, terrorista e antes e depois deixam claro que uma grande parcela dos pesquisantes consideram tratar-se de alguém com um passado de atividades criminosas. Como no âmbito dos pesquisantes do Google não predominam, nem os mais pobres, nem os mais instruídos, está evidente que uma faixa social quer essa informação e não a buscou antes, por outras formas.

Os termos biografia, câncer, curriculum revelam uma curiosidade de leitor de revistas como Caras e Quem. Ou seja, de trivialidades e minúcias de vida privada, transpondo a relação de leitor pequeno-burguês e objeto de admiração estampado em revista de fotografia de ricos, artistas e futebolistas para a relação de eleitor e candidato.

Ou seja, a curiosidade de uma parcela da população sobre uma candidata a presidente da república foi polarizada em dois grupos de interesses, nenhum deles pertencente propriamente ao âmbito político. Logrou-se descaracterizar uma figura política de relevo, tornando-a um objeto de desconfiança biográfica ou de curiosidade de salão de cabeleireiro.

Esse resultado seria um dado social mais ou menos isolado se não estivesse totalmente em consonância com a forma de tratamento dada pela imprensa institucional à candidata. O que o grupo buscador de informações no Google quer corresponde exatamente ao que jornais, televisivos e escritos, oferecem diariamente como assunto.

A imprensa fez e faz papel de partido político, contrário, no caso presente, à candidatura de Dilma Roussef. Ela não precisa, nessa tarefa, atacar a candidata – muito embora um jornal, a Folha de São Paulo, o faça direta e grosseiramente. Ela trabalha moldando o que seu público deve considerar relevante. O que aparentemente são informações e perguntas, na verdade é um conjunto fechado de respostas implícitas.

Não creio que essa estratégia resulte na derrota da candidata Dilma Roussef. O grupo que responde adequadamente ao chamado da imprensa institucional e que gera as buscas acima apontadas e muito reduzido. As maiorias não lêem esses jornais, nem vão ao Google. Uma minoria não lê esses jornais e vai ao Google para outras coisas.

Aqui, parece que ir ao Google atrás de uma informação é como ir comprar coca-cola e pipocas depois de uma exibição de cinema em que essa propaganda foi realizada subliminarmente.

13 Comments

  1. Davi

    Gostei da comparação no final do texto. A indução da opinião popular pela mídia é muito forte mesmo, até por causa da assimetria das informações e da ignorância do povo. Acredito que na época de pré-eleição o objetivo básico da imprensa é demonstrar seu poder de influência e, com isso, manter seus privilégios junto aos ambientes decisórios. Mas, concordo com você quando fala que toda essa manipulação não impedirá que a cadidata do governo seja eleita.

  2. Thiago Loureiro

    Querido Andrei…
    Achei a idéia GENIAL. Realmente essa “pesquisa”, tendo como base informações fornecidas pelo Google nos revela muito.
    O famoso PIG(partido da imprensa golpista), de Amorim, realmente possui uma atuação relevante, só não enxerga os que não querem ver.

    • Andrei Barros Correia

      Thiago,

      Devo dizer, para não fazer papel de usurpador de idéias, que ela foi do doido Severiano. Ele fez a comparação e eu o texto. Ficou até razoável para um trabalho a dois, não?

      O PIG perdeu os limites e as aparências. Agora é partido mesmo, sem fantasias. Uma aposta muita alta.

      Como estás ai em Salamanca? Espero que tudo ande bem contigo. Deve estar um frio danado, mas ainda prefiro o frio a esse calor assassino que está fazendo aqui.

      Grande abraço.

  3. andrei barros correia

    A mídia tradicional está em situação difícil, o que se percebe pela intensidade da aposta na parcialidade. E, em casos como a Folha de São Paulo e a Veja, no baixo nível e agressividade, também.

    Convém que se abram mais os canais informativos. A internet é o ponto central. Nessa perspectiva, a recriação da Telebrás é a coisa mais esplêndida que se pensou recentemente.

    Chega a parecer piada inserir uma empresa pública para estimular o que os prestadores privados não fazem, embora façam o discurso: concorrência.

    Os serviços de internet, deve-se repeti-lo à exaustão, são um caso de polícia no Brasil. Muito ruins e muito caros.

  4. Julinho da Adelaide

    Andrei. Sobre seu comentário sobre a inserção no páreo de um ente governamental para estimular a concorrência digo-lhe que isso não é novo e tem sido usado com muito sucesso. Um bom exemplo foi que os bancos públicos entraram na briga com os privados para expansão do crédito e queda nas taxas e como resultado o brasil ficou fora da crise e o bb teve lucro recorde em 2009. Mudando de assunto a diferença serraxDilma caiu de 14 para 4% no datafolha. Não sei se você leu um texto recente que analisava o fato da lucia hipolito ter escrito um texto desancando o serra, e na opinião do articulista a sensação era de que a vênus platinada desembarcou da candidatura serra e agora espera um fato novo. Nesse clima tudo pode acontecer, inclusive Ciro sair do psb para servir aos interesses desta gente. Coragem e ambição para isso não lhe faltam.

  5. andrei barros correia

    Julinho,

    Pois é, o exemplo do BB foi muito bom.

    Há que se esquecer essa suprema tolice de auto-regulação do mercado, tendência inexorável ao ajuste, mão invisível e outras bobagens mais.

    O mercado regula-se a favor do vendedor e a lógica do comércio de frutas e verduras não serve ao de serviços como telecomunicações e crédito.

    Quanto ao recado da jornalista da globo ao Serra, acho que é mais a vontade de dar conselhos ao prócer do modelo político por ela desejado.

    Ainda não vejo um desembarque desse pessoal da campanha do Serra, porque eles não têm condições de embarcar em outra, realmente.

    Tampouco creio que eles apostem no Ciro. A recusa de Aécio desestruturou tudo. E eles ficaram na posição do urubu com raiva do boi. Estavam querendo comer, mas Aécio não quis morrer.

  6. Julinho da Adelaide

    Andrei, Não sei se lembra, não sei tua idade, mas em 1989, não sei se pela quantidade de candidatos, não sei se pela novidade do jogo, mas a mídia ficou em polvorosa, ora apoiando quercia, maluf, até surgir o “fato novo” collor e aí tudo ficou mais claro. Tenho certeza que ficam eles nesses momentos com medo de fazer a aposta errada e receber o famoso abraço de afogado.

  7. Pedro

    Andrei,

    Não sei se você já está a par disso, mas ao se digitar o termo “mentiroso” no google o primeiro resultado é um perfil de Lula na Wikipédia. Detalhe: o texto não traz sequer esse adjetivo. Se quiser saber mais, dá uma olhada no site do Paulo Henrique Amorim.

    • andrei barros correia

      Pedro,

      Eu vi a estória no Paulo Henrique Amorim.

      Na verdade, Pedro, as suposições que fiz, no início desse texto, sobre o Google, são apenas isso: suposições.

      Sabe-se que eles, o google, estão em vários jogos. Por exemplo, o retorno de pesquisas, por relevância, é algo extremamente fluído, a depender de um algoritmo que se desconhece.

      Sabe-se, também, que o google vende retorno de pesquisa. Basta procurar saber direito o que é o adsense.

      Nesse caso de Lula, acho que devia haver punição. Como tu apontaste, o resultado não dirige a uma página que contenha o termo mentiroso.

      Eu retorno ao aspecto que mais me chama a atenção. Todos os que estão fazendo jogo sujo pretendem-se vestais imaculadas. E não são.

  8. Julinho da Adelaide

    Outra coisa que esqueci de dizer aqui: quando vi montenegro, um ano antes da eleição dizendo que serra estava eleito e Dilma fora, concluí que seria o contrário pois, como dizia o Velho Arraia, “ninguem chuta cachorro morto”.

    • andrei barros correia

      Pois é, se estivesse tudo tão certinho para Serra, não precisava de uma campanha mediática tão violenta.

  9. Cristovo Rodrigues de souza

    Nas outras campanhas a internet foi uma ferramenta poderosa para eles,mas agora com o advento da popularização da internet sobretudo nas regiões norte e nordeste e nas classes sociais mais populares, a ferramenta favorece a Dilma e PIG e o Serra que “preparou-se a vida inteira” para a presidência segundo aquela revista que me recuso a escrever o nome, (não é a toa que o ensino em são paulo está péssimo pois vai ser mal preparado assim) terão de aplaudir a vitória do projeto que colocou o Brasil no mundo desenvolvido com justiça social.

  10. m.p

    Acho que deve dar uma olhada em um ou dois sites: http://www.midiasemmascara.org

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