Proposições inteligentes, e carregadas de obviedade, portanto, costumam esbarrar em obstáculo trivial: querem ser profecias e daquelas com data certa de acontecimento. Como nunca ocorrem na data que o profeta anunciou, ficam desacreditadas como se fossem bobagens. Mas, acontecem.
Um professor russo, de nome Panarin, disse, em 2009, que os EUA iriam desintegrar-se em 2010. Ele teria começado a pensar nisso em 1998, quando surpreendeu-se em perceber tendências à desagregação. Alinha que os colapsos econômico e moral e a imigração levarão a guerras civis fraticidas. Não sei, realmente, porque Panarin fez a bobagem de falar em 2010, quando podia ter silenciado quanto a datas que, afinal, pouco ou nada importam.
Essa idéia não é nova, como não costumam ser novas as grandes idéias. Elas são, no geral dos casos, o resultado da reunião de muitas informações aparentemente dispersas e a percepção da aproximação do episódio. As profecias, como as previsões sísmicas, ganham precisão na razão direta da proximidade do profetizado.
O tal professor diz que resultarão dessas guerras quatro estados: um da Califórnia, um do Texas, um do meio e norte e um do Atlântico. Afirma que o Alaska voltará a domínio russo e que o estado do Atlântico integrará a União Europeia.
É quase irresistível apontar que o profetizador tem à disposição um modelo relativamente semelhante, que ele deve ter usado mesmo, que é a desintegração do império romano. Alguém mais apressado pode objetar que o modelo não serve, porque Roma ter-se-ia desintegrado de fora para dentro. Isso é bastante discutível, porque os bárbaros estavam dentro do Império e há muito.
A desintegração romana deu origem à Europa e ao Norte da África, divididos em Estados. E deu lugar à formação de um império bizantino, que nada mais era que uma enorme Grécia organizada a partir da ortodoxia.
Essa desintegração dos EUA seria muito mais interessante para o mundo que seu declínio unido e lento. Primeiramente, se ela se desse a partir de guerras civis, como anunciou o professor, seriam evitadas guerras externas, que certamente ocorrerão se o país decair unido. Seria melhor, principalmente para os países habitualmente agredidos e também para os vizinhos das Américas.
Evitaria a difusão de certo fundamentalismo neo-pentecostal, porque estariam ocupados em brigarem internamente e lidarem com o próprio empobrecimento. Ou seja, os inimigos do mundo seriam fracionados em inimigos entre si mesmos.
Um problema grande seria a partilha dos arsenais nucleares, que provavelmente atenderia simplesmente a critérios geográficos, já que as bombas estão por todo o território. Outro problema grande seria o fim do dólar como moeda de reserva mundial, porque um dos estados resultantes não teria condições de manter tal moeda. Do ponto de vista do comércio mundial, as coisas não seriam tão complicadas quanto deverão ser com um cenário de decadência unificada, pois o consumo tende a reduzir-se de qualquer forma.
O certo é que se isso acontece assim, no cenário das guerras civis, deve levar muito tempo e esse tempo será de enorme desarranjo no mundo todo, com a fuga do dólar e o medo que a coisa torne-se em ataques para todos os lados, aleatoriamente…
Essa notícia saiu essa semana no site da BBC. Mesmo indiretamente, penso que pode ter alguma coisa a ver com o seu texto.
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Supercomputer predicts revolution
http://www.bbc.co.uk/news/technology-14841018