A rotina põe a descoberto a saudade. Experimente-se fazer alguma coisa que sempre se fez em companhia de alguém sem essa presença. Surge o estranhamento que atende bem pelo nome de saudades.
Desempenho minhas atividades de cozinheiro de final de semana em condições muito favoráveis. Os ingredientes que me interessam, posso tê-los sem muitas dificuldades. O tempo, no domingo pela manhã, não costuma escassear, a vontade de cozinhar não me abandona nesses dias e os destinatários da diversão somos Olívia e eu, apenas.
Para mim, é ótimo que sejamos apenas os dois a experimentarmos essas comidas que nem sempre resultam em grandes coisas. Não gosto de cozinhar para muita gente. De um lado, conto com a complacência de Olívia, que consegue amenizar os maus resultados sem, contudo, mentir. Por outro, não gosto da lógica do julgamento. Não que não queira o mau julgamento, mas que não conseguiria disfarçar meu desprezo por ele, como se dissesse: ora, não estive e preocupar-me em agradar especificamente o teu ou o teu paladar! Seria grosseiro e arrogante, realmente.
Ontem, Neide deu-me uns pedaços de galinha muito bem temperados. Alho, alho e mais alho e um pouquinho de sal, como tem que ser. A galinha é das carnes menos naturalmente saborosas que há, portanto convém que apure os temperos com antecedência. Esses pedaços conviveram com a liliácea por mais de vinte e quatro horas!
Hoje, pela manhã, estavam megulhados em um caldo de sumos do galináceo, sangue e alhos esmagados. Precisava de pouca coisa mais.
Entrou em cena a grande potencialidade de uma assadeira usada, sem se ter lavado antes. Explico-me melhor, para não sugerir desprezo higiênico. Ontem, tinha assado uns espetinhos de carne e a pouca gordura dela ficou na assadeira, porque tive preguiça de lava-la em seguida ao repasto. Hoje, a preguiça era a mesma e percebi que aquela gordura fria e gelatinosa não se tinha estragado e facilmente derreteria e se somaria ao novo assado.
Pronto, pedaços de galinha na assadeira, cebolinha cortada em rodelas, molho inglês por cima e tiras de bacon por cima dos cortes da ave, que além de darem sabor evitam que ressequem. Forno baixo por quarenta minutos. O resultado pareceu-me ótimo, a galinha sabia a comida de casa, sem invencionices, sem qualquer sofisticação.
Mas, não sei se ficou bom, Olívia não deu opinião! Não comi à mesa da sala, calmamente, com vinho e alguma conversa. Comi saudoso, na mesa do computador, a escrever. Comi sem sentir bem os sabores…. saudoso.
Que saudades de ti também.. Braga não é a mesma sem ti, nem Portugal todo fica o mesmo sem ti.. não quero mais vir aqui sozinha..
Compremos passagens para outubro, que não estará tão quente. Sim, vamos a Bilbau? Podemos ir do Porto a Bilbau, conhecer essa jóia vasca.
Vamos! 😀
Combinado!
Até sexta! 😀