O Brasil é aquele lugar onde semeiam-se tempestades, embora já seja bem servido de ventos fortes. Mas, é aquela estória, o pior é o que ainda falta acontecer.
Firmes nos seus propósitos de laborar para piorar as coisas, desagregar o que já é mal arrumado, instilar o conservadorismo odioso, fazer regredir direitos fundamentais precariamente estabelecidos, a grande imprensa do país deu em estimular a homofobia.
É ilegal? É, sim, mas e daí? Certos grupos – e a imprensa insere-se destacadamente como um desses – operam segundo legalidade própria, auto-concedida e auto-interpretada, seletivamente. Não é o caso daquele lugar-comum de estar-se acima da lei, mas de ser o legislador de si mesmo.
A partir de argumentos de induvidosas tolice, superficialidade e má-fé, disseminam o ódio contra homossexuais, que já são grandes vítimas de estigmatização social e de violências físicas quase nunca punidas.
A coisa tem forte matriz religiosa, notadamente nos extremismos evangélicos, de uma superficialidade de poça d´água. Qualquer semi-alfabetizado incapaz de apontar em um mapa o sítio do lago da Galileia é capaz de enfileirar meia dúzia de citações mal traduzidas da Bíblia hebraica, para delas extrair um ataque virulento contra uma forma de sexualidade.
O que há de má-fé nisso é a deformação das idéias de liberdade e de vontade. Alguém tem vontade de urinar e não é propriamente livre para não na ter. Por outro lado, alguém não tem a pele amarela, por exemplo, como uma emanação de vontade livre. Alguém não tem olhos azuis como resultado de uma livre opção.
Da mesma forma, alguém não tem essa ou aquela sexualidade devido a uma opção livre. E, mesmo que assim seja, por ampliação racional do universo lúdico e lúbrico, será uma questão de liberdade individual e pronto.
Não há deuses metidos com essas coisas, que se houvesse deuses do tipo, seriam os mais cretinos imagináveis e menos divinos possíveis. Ora, deuses que cuidam de sexualidade são figuras de revistas de fofocas de novela!
As massas, todavia, são sensíveis aos extremismos. São – é trágico – sedentas por exclusão, querem ter sua parte ativa na exclusão. Elas, que são totalmente excluídas do processo decisório e da apropriação da parte relevante das riquezas, querem seu quinhão do poder de excluir.
Então, entregam-lhe essa parte, a exclusão por estigmatização social, a exclusão por diferença física ou comportamental. Elas, alheias ao grande jogo, aceitam sua parte e exercem a exclusão com gozo indisfarçável. Mais adiante, todavia, não mais se satisfarão apenas com isso. Quererão o direito a linchar, que é a resultante inevitável de semear as tempestades.
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