Banqueiro exercitando-se com pesos.
A senhora Merkel e o senhor Sarkozy não quiseram pagar a conta da Grécia integralmente. Provavelmente, não quererão pagar as da Espanha, Portugal e Irlanda, tampouco. Convocaram um convescote bancário, o FMI incluso, e ofereceram empréstimo de cerca de 30 biliões de euros à Grécia, em troca do que se chama aperto fiscal e de taxas de juros elevadas. E disseram: gregos, não sejam irresponsáveis, paguem suas contas!
Pois bem. As continhas em aberto dos gregos fizeram-se para comprar muitos e bons produtos, alemães e franceses inclusive. No início da convivência festiva euro-rica, dizia-se: gregos, não sejam acanhados, estas maravilhas de BMWs, celulares de última geração, carrinhas Peugeot todo-terreno, espumantes de denominação controlada estão aí para vosso deleite, comprem-nos. Esses cartões de crédito maravilhosos e as suaves prestações bancárias estão aí para oferecer-vos o ingresso na modernidade, usem-nos sem moderação.
Os bancos são assim: a antítese da coerência. No momento de impor mais uma rodada de empobrecimento e concentração de riquezas, servem-se do discurso segundo o qual as populações são compostas de seres incapazes, que devem ser tutelados e extorquidos por estados que estão a serviço deles.
Todavia, nos momentos que antecedem à grande extorsão – praticada por meio da agência bancária chamada estado nacional – seu discurso é de oferta e estímulo à compra de dinheiro à prazo. Nunca se viu um banco – do mesmo que depois diz que o comprador é irresponsável – a advertir sobre os riscos do produto que ele vende.
Curiosamente, as casas bancárias ganham nos dois momentos: no da venda indiscriminada e pulverizada e no da venda concentrada do socorro ao seu maior preposto, o Estado. O segundo momento é o mais engenhoso. Passado um certo ponto, os senhores banqueiros reunem-se e chegam à conclusão de que um país chegou ao seu limite. Tornada pública a conclusão, inicia-se o aumento dos débitos e dos juros das promissórias.
Nesse ponto, não é mais possível negociar no varejo. Chama-se o Estado e propõe-se: tu vais representar o todo, que esse é teu papel. E retirarás de todos para pagar-nos. Como duvidamos da tua seriedade, compraremos tuas notas promissórias por preços baixíssimos, para as revendermos a ti próprio, pelo valor de face, é claro. Assim, se tu resolveres não pagar, já teremos recebido de qualquer forma.
No âmbito do discurso público, político e econômico, a coisa atende pelo nome de aperto fiscal. Significa reduzir dispêndios estatais com inutilidades como saúde pública, transportes, pensões e reformas, salários, rendimentos de inserção social. Apenas não é recomendável reduzir os dispêndios com as polícias, que serão bastante necessárias para convencer os pagadores a não matarem os credores ou seus prepostos.
Numa festa em que todos gozaram, por que apenas uma parte paga a conta?
Como diriam os 3 porquinhos: “Quem tem medo do lobo mal, lobo mal, lobo mal?”
Os protestos na Grécia já começaram. Como sempre o povão paga a fatura da banca-rota. Por aqui fala-se em hacatombe fiscal daqui a dois anos. Pura falácia do PSDB. Agora esgoto mesmo é o FMI. Pensei, eu na minha santa ingenuidade bancária, que essa instituição houvesse evaporado. Ainda continua praticando suas maldades.
É o que tenho percebido, Domingos. Vai ser preciso muita pancada da polícia para convencer as populações a fazer o ajuste fiscal neles próprios.
Sempre tem um mais curioso e atrevido que pergunta: por que o ajuste não se faz também em cima e nos bancos?