Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Infâmias (Page 7 of 20)

A vida como ela é… Na Espanha do PP.

Pra quem acompanha o blog há pouco tempo, eu estou fazendo doutorado em Direitos Humanos na Espanha, junto com Thiago Loureiro, desde 2009, pois bem…

Em 2009, quando chegamos aqui, existia um governo “socialista”, o governo do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), a Espanha já estava em crise, não obstante, os serviços públicos, tinham fama de bons, tanto a escola pública, como o sistema público de saúde, e etc. Além disso, tinha-se um governo progressista, um dos primeiros na Europa a liberar o casamento civil homossexual, estava permitido o aborto, e a discussão em questão era se meninas de dezesseis anos poderiam ou não abortar sem consentimento dos pais, acredito que fizeram poucas mudanças no ensino, e aqui falo com um desconhecimento de causa gigantesco.

Mas uma dessas mudanças foi a nova matéria escolar Educación para la ciudadanía y los derechos humanos“, cujo nome fala por si, mas que versava sobre alguns conteúdos controversos, como educação sexual, tolerância de credo, sob uma perspectiva laicista, famílias monoparentais, e famílias homossexuais. Enfim, sob minha ótica, seria uma disciplina que tinha um bom conteúdo e estava bastante bem. Seria algo bastante parecido a algo que se queria fazer no Brasil, e que foi negado por alguns… Mas não é hora de entrar nesse assunto…

Pois bem, agora em 2012 retorno, agora com a Espanha sob o governo do Partido Popular (PP), e aqui se faz necessária a explicação das aspas no socialista do começo do texto. Em qualquer lugar, qualquer pessoa que acompanhasse a política daqui, diria que seria a mesma coisa um governo de esquerda e um de direita. Eu estava entre esses, e estava entre eles porque dizia-se que as medidas econômicas tomadas pelo governo de esquerda, do PSOE, eram as mesmas que o PP, partido de direita, adotaria. Se dizia então que tanto faria o governo, se o governante continuaria arrochando o povo, e por consequência, a classe média. Logo, o governo seria socialista, entre aspas.

Agora mesmo, faz muito pouco tempo que teve início o governo do PP, que aqui na Espanha foi votado, porém, não fariam falta os votos, já que Mariano Rajoy governaria de qualquer modo, por ser o escolhido do Banco Central Europeu, e para quem duvidar, basta abrir os olhos e observar o golpe de Estado dado na Itália.

Pois, primeira medida educativa, tirar a matéria Educação para a Cidadânia e Direitos Humanos, e substituir por outra, “Educación Cívica Constitucional”, que estaria livre de conteúdos controversos, e não “doutrinaria” “as crianças”.

Aqui a educação básica (Educación Secundaria Obligatoria – ESO – nosso ensino fundamental), é até os dezesseis anos, e o equivalente ao nosso ensino médio, o bachillerato, tem dois anos. No entanto, há um deficit de gente formada na educação fundamental, o PP resolveu o problema da seguinte forma, diminuiu-se um ano de ensino fundamental, e aumentou-se um ano de ensino médio, como a educação obrigatória é até os 16 anos, então as pessoas que não aprovavam no último ano de estudo, e depois paravam de estudar, agora vão ter obrigatoriamente de estar no mínimo mais um ano no colégio, e talvez até, fazendo uma coisa que não querem (já que ao acabar o fundamental, aqui, há vários cursos técnicos, inclusive superiores, e várias pessoas optavam por eles, que não podem ser feitos ao mesmo tempo em se faz o ensino médio), logo sem investir um centavo, vão aumentar o número de aprovados no ensino fundamental, me arrisco a dizer que vai virar estatística, e consequentemente propaganda de governo.

Bom, todo esse floreio sobre a tal disciplina escolar, é apenas mote, para as medidas mais perversas, eu falei antes que não investiram um centavo, na verdade, cortaram verba, e diminuiu-se o numero de professores, e os forçam a assumir disciplinas diversas, assim há (num exemplo esdruxulo, mas não sei até onde) professores de matemática, ensinando português e matemática, com um salário já mais baixo do que quando o governo começou, e escolas sem dinheiro suficiente para pagar a calefação durante todo o inverno, há cidadezinhas, onde os alunos vão as aulas com mantas, para se cobrir durante as aulas, alguém acha que dá pra prestar atenção e fazer anotações numa aula, a zero grau, mais ou menos, onde você tem que estar enrolado num cobertor?

Há, só mais uma coisa…

Para mudar um pouco da educação, vem a notícia quase absurda: todos os casamentos homossexuais realizados, estão em vias de ser anulados, e a lei que os permitia, em vias de ser revogada pelo tribunal constitucional, o equivalente ao nosso STF.

Esse é o governo de direita na Espanha, do PP, e a saúde pública… Bom, a saúde pública fica pra outro post…

 

Por que é que tudo no Brasil é o mais caro do mundo?!

Começo esse post, com uma pergunta que me foi feita outro dia por Luiz Eduardo (@LuizEdRodrigues). Na ocasião discutiamos sobre a notícia recém dada de que a “Apple Store brasileira é a mais cara do mundo”! Segundo a notícia veiculada, a empresa que fez a pesquisa somou os preços (com impostos) dos modelos de entrada dos cinco produtos mais vendidos (iPad 2, MacBook Air, iPod Touch, MacBook Pro e iMac) em 37 lojas online da Apple no mundo. Depois, a empresa os dividiu por cinco para chegar a uma média de preço geral, sem a definição do produto, sempre transformando as moedas locais em dólar, euro e libra.

Segundo a pesquisa, pagamos na média de preço desse “produto geral” 580,00 US$ a mais que nos paises de preços mais baixos, e entre os paises de preços mais baixos estão Malásia, Hong Kong e Cingapura. Pra que não digam que é nos EUA, paraíso das compras “não oficiais” brasileiras, que está o procurado tesouro… Pelo menos não lá somente. Os preços seguem:

As Apple Stores mais caras do mundo
Brasil (Média de preços – US$ 1.386)
República Tcheca (Média de preços – US$ 1.297)
Tailândia (Média de preços – US$ 1.171)
Noruega (Média de preços – US$ 1.103)
Dinamarca (Média de preços – US$ 1.075)
As Apple Stores mais baratas do mundo
Malásia (Média de preços – US$ 803)
Canadá (Média de preços – US$ 804)
Hong Kong (Média de preços – US$ 807)
Estados Unidos (Média de preços – US$ 819)
Cingapura (Média de preços – US$ 849)

Fato é que no Brasil realmente pagamos caríssimo por produtos que em outros lugares não tem esse valor, outro exemplo muito bom, é o dos vinhos. Vinhos europeus que custam 5 ou 6 €$, chegam ao Brasil custando 50,00 R$, ora, se 5 €$ são em média 12,50 R$, 100% de lucro em cima seria 25,00 R$. Então o cara que vende os vinhos tá ganhando uma nota, e ai alguem pode dizer, mas tem o transporte e outros custos embutidos, e a resposta lógica a essa afirmativa é: isso seria verdade, se os preços das cervejas importadas também disparassem, o que não é certo. E que eu saiba, os custos de transporte e etc. são bem semelhantes, já que as bebidas se assemelham, são garrafas, de mais ou menos a mesma quantidade de bebida, enfim…

No caso em questão, das bebidas, o imposto é mais alto, e nem isso justifica o alto preço dos vinhos, seguindo a mesma semelhança com o caso das cervejas, e por falar em imposto, isso foi muito bem colocado por Andrei, quando falou:

“Brasil, país de ladrões.
Mais do mesmo e do óbvio. Revejo mercados em Portugal: tudo – tudo mesmo, sem excepções quaisquer – é mais barato que no Brasil, em termos absolutos e em termos relativos também, é claro, porque aqui a moeda é ainda mais forte.
A tolice que domina os meios de comunicação apontaria os canhões para a carga tributária, essa coisa culpada por tudo.
Ora, ora… A carga tributária, ó gentis tucaninhos e leitores de veja, é maior aqui que aí. Então, com quê se fica, se o culpado de sempre não está disponível?
Fica-se com a ladroagem despudorada dos grandes varejistas, dos vendedores de carros, dos vendedores de telefones, computadores, telecomunicações e tudo o mais. Se fosse falar dos vendedores de dinheiro, perderia demasiado tempo…”

Os exemplos são demasiados, mas depois do exposto pelo próprio Andrei, fica a frase que Luiz Silveira proferiu em nossa discussão, pra fechar o post, como fechou a discussão anteriormente: “O consumo no brasil deve ser excludente para nos sentirmos exclusivos.“.
Os preços não vão cair, porque o sentimento é bem esse… Me arrisco a dizer da maioria, de exclusivismo… Os exclusivos têm carro e não se vêm como povo que são, e não transporte público, veremos como estarão as cidades daqui a algum tempo, com as carroças de Collor (sim porque olha na figura abaixo como eles andam no México), e sem transporte público de qualidade. Vai ser o caos.

Preços dos carros.

Preços dos carros.

El Cuento Del Malvado Funcionario.

Eis que chegou a mim, um conto sobre o pensamento geral da Espanha, sobre seus funcionários públicos. Detalhe, aqui eles ganham em média de 1.500,00 a 2.000,00 €, que nem de longe chega perto de nossos queridos empregados, os juizes. Segue:

“Érase una vez, una nación dónde todo el mundo era feliz, donde un nene semianalfabeto sin la ESO se ponía a apilar ladrillos y ganaba 4.000 euros al mes, dónde los ministros se entretenían encargando estudios estúpidos sobre la reproducción de la lagartija espongiforme, dónde a la oposición le regalaban trajes y se iban a puticlubs a gastos pagados por el ayuntamiento de turno, dónde en el Senado se ponían traductores, dónde el mago bueno ZP cuidaba de todos, dónde todo era feliz y feliza (por aquello de la igualdad).

Pero en este bonito país no todo era perfecto, había un malvado llamado “El funcionario”, vago entre los vagos, tomador de cafeses y fumador de cigarros, de trato desagradable, forrado y sinvergüenza, que vivía de lo robado a los honrados banqueros y políticos, a los honrados curritos que no defraudaban (sólo preguntaban con IVA o sin IVA).

Pues bien, nuestro protagonista el albañil era un tierno obrero salido de un instituto con 18 años sin aprobar ni el recreo, llamado Jonathan, volvió un día del tajo y decidió comprarse un BMW serie 3 con el Pack Sport, llantas, y le puso fluorescentes y un equipo de música con subwoofer y una casita pareada.

En el banco, el señor director, muy amable le prestó el dinero sin ningún problema, mejorando su petición con más dinero que también le prestó para que se diera un homenaje en la Riviera Maya.

Pasó el tiempo, y un mal día a Jonathan lo echaron del trabajo, ¿con qué iba a pagarse sus vicios? Y sobre todo, ¿su BMW? Apurado fue a ver al Sr. director del banco, que, muy simpático él, no pudo ayudarle, a pesar de que se desvivía por los necesitados. El Sr. director, compungido, al ver que Jonathan no podía pagar, y que el no cobraba, fue a ver al mago bueno, a ZP.

Mientras…. el malvado funcionario seguía trabajando en la sombra, envidioso él de nuestro amigo, que no tiene estudios y dilapidaba los euros que ganaba.

Un buen día, a nuestro mago bueno ZP, lo llamó papá Obama y mamá Merkel y le dijeron que esto no podía seguir así.

La solución estaba clara, salvar a Johnny y fastidiar al malvado. Le bajamos el sueldo al despreciable funcionario y ya está.

Consecuencia: Jonathan no paga lo que debe al banco, el banco no cobra, el banco le pide pasta al Gobierno, el Gobierno se la da quitándosela al funcionario; o sea, el BMW y la casita lo paga el funcionario con su 5%. Y colorín colorado, este cuento se ha acabado.”

Haitianos impedidos de entrar no Brasil.

A Polícia Federal brasileira detém 100 haitianos que desejavam entrar no país. É muito engraçada essa seletividade da polícia federal.

Em Fortaleza, Recife, Natal, para ficar em poucos exemplos, há centenas de espanhóis, italianos, alemães, sem visto, sem dinheiro, sem passagem de volta, sem educação. Enfim, só com vontade de frequentar bordeis. E a PF não os incomoda… Entram como turistas, para que não se precisa de visto, e ficam quanto tempo quiserem.

Os haitianos não podem ser admitidos como turistas? Será por conta da cor da pele? Será?

Inglaterra: uma fornecedora dos piores exemplos.

Um exemplo de modernidade e liberdade, na sempre celebrada Inglaterra, que se imputa a qualidade de origem do liberalismo:

Alan Mathison Turing foi matemático, lógico e cientista da computação. Tornou possível a aplicação de algorítmos em máquinas pré-computacionais. Considera-se um dos pais do que se entende por computador, hoje.

Durante a guerra trabalhou na decodificação das comunicações secretas da marinha de guerra alemã alemã, com êxito. Prestou, portanto, um imenso serviço ao seu país e ao esforço de guerra. Pode-se considera-lo um herói nacional britânico.

FOI PROCESSADO CRIMINALMENTE EM 1952, POR HOMOSSEXUALIDADE! Sim, na liberal e não socialista Inglaterra. E, sim, com relevantes serviços prestados ao Reino Unido!

Foi castrado quimicamente por meio de hormônios femininos, em 1954, por ordem judicial. Suicidou-se por envenenamento, profundamente deprimido com os efeitos de tão estúpida e agressiva medida, que desmembrou sua personalidade.

Para mim, é o episódio singular mais hediondo que conheço. Na Inglaterra!

Controle social da sexualidade: a ciência médica é mais violenta que o antinatural cristão.

A ciência médica é modelo de controle social da sexualidade pior e mais perverso que as postulações axiomáticas do antinatural cristão.

O antinatural oferece à luz do dia toda a sua não significação, porque o natural não é uma afirmação a que se possa contrapor outra. Era, portanto, um prisão muito menos opressiva que o imperativo científico.

O antinatural, inclusive, era prisão clamante por Eros, apta a despertá-lo, como todas as proibições destituídas de um real sentido perceptível. Por ser impossível, sempre foi possível e reclamou vigilâncias meramente formais.

A prisão técnica clínica, de ciência higiênica, serve-se de cadeias mais fortes. Seus postulados, independentemente de serem falsos ou verdadeiros, carregam em sí uma plausibilidade que o discurso científico deu-lhe.

A patologia amedronta muito mais que o antinatural. Signo da superioridade do modelo clínico é a aproximação que certos extremismos fazem dele, tentando agregá-lo ao antinatural, como reforço.

O modelo controlador de sexualidade a partir da ciência médica oferece a cura, enquanto o modelo cristão do antinatural oferece a salvação, se o praticante desviado optar pelo abandono do antinatural. É interessante perceber que certas religiosidades neo-pentecostais partiram para a assimilação do modelo clínico, o que se evidencia por vários sinais.

São comuns as abordagens da homossexualidade, pelos neo-pentecostais, como resultado da influência de demônios, que devem ser retirados. Ora, a possessão demoníaca é de claríssimo paralelismo com a infecção por agentes patogênicos, a serem combatidos para que se retirem do organismo infestado.

A infestação por demônios, assim como por vírus ou bactérias, insere um elemento estranho à subjetividade do infectado, elemento essencial ao modelo do antinatural. Esse ponto permite ver claramente as divergências dos dois modelos e as soluções por eles propostas.

Enquanto um postula a causa única e exclusivamente na vontade individual, o outro inclui elementos externos, embora não afaste totalmente o elemento subjetivo. Uma circunstância, todavia, põe em contato os dois modelos, que rejeitam, ambos, a causa originária da homossexualidade na conformação genética.

O modelo hoje adotado por inúmeras denominações neo-pentecostais consegue ser um hibridismo com efeitos piores que os resultantes das formas originais de que se serve. Ele controla e pune duplamente e fecha as oportunidades de excusa da culpa. Se, por um lado, o possuído não tem culpa da escolha dos demônios, ele a terá se os meios de tratamento – a terapêutica do exorcismo – não der resultados. É como se o doente fosse culpado pela ineficácia da terapia, algo muito caro à psiquiatria e à psicologia.

Assim, o discurso científico presta grande ajuda ao cerceamento de liberdades e serve às religiosidades mais obscurantistas…

Posso chamar Fernando Henrique Cardoso de patético? Ou de farsante?

Não o posso chamar de ladrão – e não o faço aqui – porque não tenho provas e porque seria um tanto vulgar além da medida. Mas, de patético ou de farsante, posso?

Bem, o sujeito é acadêmico das academicices franco-brasileiras. O termo qualificativo, assim junto, é de significação complexa, pois vai além da mistura dos dois adjetivos gentílicos.

Se fosse só acadêmico francês, na idade dele, poderíamos supor leituras de Levi-Strauss, de Lefebvre, dos franquefurteanos tão aparentemente franceses; poderíamos supor um grande intelectual, contemporâneo de Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault. Poderíamos até decepcionarmos-nos por não ter resultado em obras como as desses últimos. Poderíamos achar natural uma e outra cópia, que esses franceses copiavam-se muito…

Se fosse só acadêmico brasileiro, com a idade dele, com o prestígio biográfico que tem, poderíamos supor que serviu ao governo de João Goulart, ou até, por precocidade que a grandeza permite imaginar, ao de Juscelino. Mas, não.

Se fosse só o filho do General Leônidas Cardoso e sobrinho do General Felicíssimo Cardoso, Fernando seria mais facilmente apreensível. Quanto a isso, quem quiser procure saber o que os tais Generais achavam de filho e sobrinho, em episódio sobre a campanha O Petróleo é Nosso.

O problema é que Fernando Henrique era e é precisamente um acadêmico franco-brasileiro, assim mesmo com o qualificativo gaulês na frente. Curiosamente, tanto francês, como brasileiro, revelam seu embuste, sua inclinação para a farsa calcada na superficialidade intelectual paralela à extrema objetividade política. Ele é cálculo, e tão bem-feito, que não foi para Harvard ou Yale. Só tinha que ser em Paris!

Muita gente sociologizava e filosofava nas grandes universidades brasileiras, antes do golpe militar e civil de 1964, que instaurou uma ditadura reticente em aceitar o nome. Antes do golpe, essa gente falava e escrevia coisas que seriam repudiadas pelo pessoal que se instalaria no poder, por vinte e um anos. Parte deles ficou no país, parte saiu. Uns, saídos, voltaram logo. Dos que voltaram logo, muitos apegaram-se ao fato de terem saído, após a chamada redemocratização: era uma boa marca a se vender.

Alguns saíram porque podiam, e era mais aprazível viver em Paris ou em Boston que aqui. É difícil imputar certos comportamentos apenas ao cálculo, porque significaria supor inteligências maiores que eles mesmos acreditam ter e fizeram o público crer. Mas, sinais de farsa não faltam.

Fernando Henrique era o sujeito que voltou ao Brasil com a lei de anistia, a lei de auto-anistia do regime ditatorial. Caberia pensar se teria saído obrigado, ou se apenas foi viver em locais mais agradáveis, ou acrescentar ao seu currículo trabalhos em universidades mais famosas. Mas, o principal é que era um retornado e isso contava pontos.

Era, mas deixou de ser, rapidamente. Ele rompe com a imagem do esquerdista que foi banido pela ditadura e assume as vestes do moderno sem coloração ideológica. E, fá-lo antes do tempo em que isso era óbvio politicamente. Nisso, é profundamente sagaz.

A sagacidade na escolha do disfarce revela, todavia, um sujeito sempre pronto à mutação. Ou, talvez, ao retorno sem riscos à posição de sempre ou, quem sabe, revela o que teriam achado pai e tio…

Pois bem, Fernando Henrique foi grande acadêmico franco-brasileiro, foi morador de Paris, é filho e sobrinho de Generais do Exército Brasileiro, foi político que se aproveitou do ter-se exilado e foi Presidente da República. Neste último posto, disse que introduzia o Brasil na modernidade do capitalismo que não precisa de Estado. Vendeu o que deu tempo de vender.

Faz nove anos que Fernando Henrique deixou de ser Presidente da República. Está pelos oitenta anos, pois nasceu em 1931. Podia estar quieto, não pela idade, mas pelo tempo, que são coisas diferentes. Mas, não.

O ex-Presidente escreve um livro chamado A Soma e o Resto, que é uma biografia dele, por ele. Curioso, Henri Lefebvre escreveu uma autobiografia chamada La Somme et le Reste, em 1958. Uma coisa é certa, Fernando Henrique sabe francês…

Belo Monte e o tamanho da fazenda eólica.

É ótimo que se discuta a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Raramente pode-se discutir qualquer coisa e geralmente a discussão é obstada precisamente pelos que clamam por democratização dela.

É ruim que a contrariedade a Belo Monte tenha como ponta-de-lança tolices como o vídeo que atores de novelas da Globo fizeram. De tão vulgar, deixa claro como tratam vulgarmente qualquer assunto e qualquer público. É coisa de vender lavadora de roupas.

Nisso, há o de sempre: interesse e boa vontade. A última lamenta os impactos que uma obra tem. A primeira é questão de domínio, pura e simplesmente, e leva muita gente atrás. A pergunta é: a quem interessa.

Se nós queimássemos carvão e óleo, como a China, o Japão e os EUA, e quiséssemos queimar mais, eles patrocinariam a contrariedade ao aumento da fogueira e a manteriam acesa lá nos países deles.

Se nós quisermos dividir átomos de metais muito pesados, eles serão contra, porque é arriscado, principalmente de engendrar a bomba que devíamos ter feito há muito.

Se nós partirmos a sério para algumas fontes renováveis – eólica e solar, por exemplo – eles serão contra, também. E terão argumentos, como há contra tudo. Dirão que ocupam vastos espaços, que podem ser utilizados para produzir alimentos…

Afinal, para gerar o que Belo Monte gerará, uma fazenda eólica teria que ter quantas vezes a área do lago no Xingú?

Vazamento de óleo da Chevron. Para quem trabalha a grande imprensa brasileira?

Passou-se uma semana do início do vazamento de petróleo no poço da Chevron-Texaco no Campo do Frade, ao largo da Bacia de Campos. A ANP estima que estejam vazando entre 200 e 330 barris por dia. Não é mais um pequeno vazamento: isto representa entre 32 mil e 52 mil litros diários. Essa informação, copiei-a do blogue do Brizola Neto, o Tijolaço.

Nada obstante, silêncio obsequioso da grande imprensa. Não surpreende, na verdade, pois estão todos comprados por interesses outros que não brasileiros. Só fazem escândalo por conveniência política.

Só convocam indignações e marchas e moralismos udenistas, seletivamente. Sua absoluta amoralidade e infidelidade ao factual são coisas evidentes.

Sua fixação é por o governo de joelhos. A grande impresa é a oposição ao governo, no Brasil. E só ela, porque o povo não é, obviamente!

Se vazasse um décimo do que está a vazar do poço da Chevron de um poço da Petrobrás, seria um bombardeio diário. Catilinárias contra a ineficiência da empresa estatal, que deveria ser vendida a preço de banana, no dia seguinte.

Onde estão os ambientalistas histéricos que se reúnem em partidos políticos que, na verdade, propõem a despolitização e assim escondem seu direitismo e entreguismo trânsfuga?

Argentina e Uruguai, países mais sérios que o Brasil. E, por isso, melhores.

Alfredo Astiz, Capitão de Fragata da Armada Argentina e traidor da pátria.

Assassino, sequestrador e torturador de civis compatriotas dele e de estrangeiros. Por ocasião do golpe militar de 1976, na Argentina, o Capitão de Fragata da Armada Argentina Alfredo Astiz foi designado para trabalhar na ESMA – Escola de Mecânica da Armada. Um centro de sequestro, tortura e eliminação de quantos se pudessem contar no número dos perigosos para o novo regime militar ditatorial.

Astiz empenhou-se fortemente na sua missão. Infiltrava-se em grupos de direitos humanos e indicava os que deveriam ser sequestrados e eliminados. Responsável direto por inúmeros assassinatos, incluindo-se os de duas freiras francesas.

A arte dos militares argentinos no eliminar oponentes – os menos perigosos possíveis – era inovadora. Criaram – devia ser por algum deleite especial – o método de pô-los em um avião e lança-los ao mar, depois de torturados brutalmente…

É muito rico, nessa figura, o traço da vileza. Infiltrava-se entre os seus oponentes, buscava sua intimidade, sua confiança, descobria-lhes as crenças e, depois, bem, depois, levava-os à ESMA, para um destino certo.

Alto, louro, altivo, militar empertigado nas suas vestes de oficial da Armada, alcunhado el ángel rubio. Doce nas suas infiltrações, doce como todos os infames agentes duplos. Crudelíssimo com suas vítimas, sem limites. Corajoso com vítimas reduzidas à despersonalização e sabedoras da morte.

Eis que a Argentina – e não vou discutir se por cálculo ou orgulho nacional – entra em guerra com a Inglaterra, pelas ilhas argentinas Malvinas. Astiz é designado para assumir um grupo de comandos nas ilhas Georgias do Sul. Acossado pelos ingleses, trava um embuste de combate e rende-se, logo em seguida, aos ingleses.

Esse homem tão valoroso na tarefa de sequestrar, torturar e matar gente incapaz de defender-se, rende-se aos inimigos do seu país, sem uma perda. Sem combate efetivo. Sem combater o combate que sua farda nunca vira, sem um traço do verdadeiro sangue castelhano que traz nas veias. Podia ter lutado, de verdade, uma vez na vida, e morrido fardado.

Rende-se aos ingleses de uma forma que, se fosse um inglês a fazê-lo, seria enforcado, essa vileza que os ingleses destinam aos traidores da pátria.

Ontem, Astiz foi condenado à prisão perpétua, pelos crimes cometidos. Já o fora, na França, à revelia, pelo assassinato das duas freiras gaulesas.

Ontem, o Senado da República do Uruguai julgou imprescritíveis os crimes praticados na ditadura militar havida lá. Por unanimidade. Crimes contra a humanidade não prescrevem, claro.

Enquanto isso, no Brasil, uma lei de auto-anistia, promulgada pela própria ditadura que torturou e matou, foi julgada válida pelo tribunal constitucional. É difícil perceber porque são países tão diferentes e porque vive-se melhor na Argentina e no Uruguai que no Brasil?

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