Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Divagação (Page 7 of 17)

O Messias, ou veio, ou ainda virá, ou não virá. As proposições são reciprocamente excludentes…

Não pretendo avançar até conclusões, apenas indicar algo interessante e sugerir possibilidades. Fato é que reformados pentecostais e neo-pentecostais tornam-se, mais e mais, filo-judaicos.

Há poucos dias, aconteceu algo notável, em São Paulo: o conhecido pastor Edir Macedo, dirigente de uma igreja neo-pentecostal, inaugurou um imenso templo que se pretende réplica do abatido de Salomão, em Jerusalém. Na cerimônia, o pastor caracterizou-se como rabino e usou quipá! É curiosa a referência, porque se é rabino, não é pastor, e vice-versa.

A reforma, nas suas vertentes pentecostal e neo-pentecostal, é profundamente anti-pauliana e contraditória. O judeu grego que teve visões a caminho de Damasco triunfou sobre a facção de Tiago, irmão de Jesus, e permitiu que houvesse o cristianismo autônomo, ou seja, não como mais uma seita do judaísmo. A sabedoria de Paulo foi muito helênica mesmo, porque a solução é perfeita do ponto de vista lógico formal.

A nova aliança celebrou-se sem limitações quanto a uma parte e sem requisitos prévios para ingresso. Não era necessário ser antes judeu para ser cristão, eis o que permitiu a difusão do novo preconceito monoteísta que se iniciava. E isso fazia todo sentido, porque Jesus foi considerado Messias e, portanto, a ser isto verdade, o encerramento do judaísmo.

A proposta foi audaciosa e bem desenhada, deve-se reconhecer. Nesta perspectiva, os textos do velho testamento foram mantidos como uma genealogia e nada mais. Do surgimento do Messias e da celebração da nova e ampla aliança, salta-se por sobre um imenso vácuo atemporal até a parúsia, a volta que iniciará a comunhão plena dos relativos com o absoluto.

Isso é absolutamente incompatível com o judaísmo, que espera o Messias e opera um esquema lógico aparentemente mais simples. Aqui, não há aliança ampla; há uma aliança com um restrito povo. Isso é fundamental, porque ortodoxamente Edir Macedo pode andar diariamente de quipá e não se tornará judeu em momento algum.

Dessa aliança única e específica decorrem efeitos tão interessantes quanto terríveis. Tendo os profetas calado-se nos últimos 2000 anos, um colegiado de rabinos assumiu seu lugar e elaborou uma codificação sempre mutável nos aspectos marginais. Isso, o Islã viria a adotar, seiscentos anos depois, de maneira algo similar. Assim, por esta codificação rabínica, que é coerente com a tese da escolha divina do seu povo, coisas estão plenamente autorizadas, tais como matar qualquer outra gente.

A posições são absolutamente inconciliáveis, o que não quer dizer que se deva matar por isso, mas logicamente são coisas excludentes. Não se é cristão e judeu ao mesmo tempo, enfim. Mas, as denominações pentecostais e neo-pentecostais pretendem essa solução de compromisso impossível, o que revela muito de sua falta de densidade intelectual, lógica e teológica.

Há quem veja esse filo-judaísmo como decorrente de interesses pecuniários, apenas. Dia desses, um jornalista escreveu um pequeno texto de inteligência ligeira a defender isto. Para ele, a explicação estaria no comércio intenso de turismo religioso para Israel. Essa hipótese parece-me muito restritiva, porque o dinheiro move muitas coisas, mas não todas. E, principalmente, porque o dinheiro das excursões de fiéis a Israel não é muita coisa.

Talvez haja muito de vontade de afastar-se radicalmente do catolicismo de Roma, mesmo que a preço de cair no vazio lógico e na incoerência flagrante. Realmente, isso de incoerência é próprio das religiões, mas apenas na sua parte axiomática. Esses sistemas tem causas iniciais ou móveis que se podem considerar absurdas, mas daí em diante costumam funcionar coerentemente.

O filo-judaísmo pentecostal e neo-pentecostal é abrir mão de qualquer sentido, pelo que já se disse acima: ou o Messias veio ou está por vir. Não resta, na perspectiva dessas religiões, terceiro possível, nem harmonia das proposições, pois são excludentes.

Para mim, isso tem algo de tentativa de aliança com o mais restrito e forte, além de alinhamento ideológico com a elite do conservadorismo mundial. Grande parte do poder financeiro e bélico do mundo está em mãos da elite judaica. Daí que convém adular esse pessoal e querer parecer-se com eles, mesmo que os emulados intimamente riam-se dessas patetices de quem nunca será o que não nasceu.

Interessante é que isso é por-se em condição subalterna, render homenagem a imitar aquilo que se não é, nem será. Além de ser potencialmente o caminho da dissolução, porque não há perspectivas para novas seitas judáicas…

Um forasteiro, um domingo qualquer e a redenção de pecados.

Um texto de Ubiratan Câmara.

POA

Amanheceu o domingo, mas não parecia, estava cinza, frio e chuvoso lá fora.
Quando esperanças não mais havia, os céus se abriram e um novo dia parecia acontecer.

Romper a inercia da comodidade era preciso, e na mesma medida se tornou imperativo aproveitar o dia, pois as dádivas do tempo e da disposição física não merecem ser despendidas sob amarras de lençóis solitários ou tolices virtuais… Era hora, portanto, de andar pela cidade.

Porto Alegre, cidade dos outros, que apática e caótica me recebeu, se tornou minha, ensolarada e prazerosa acolhida.

Destino não poderia ser outro senão um espaço público, onde meus descuidados passos fossem indiferentes e a fotográfica permanecesse alheia à cobiça de terceiros. O Parque Farroupilha, mais conhecido como Redenção, se apresentou como uma opção, enfim.

No Parque, nos dias de domingo em que o bom tempo permite, estranhos se reúnem para negociação dos mais variados artefatos. São antiguidades, artesanato, obras de arte, porcelanas, livros, vinis, quadros, mosaicos, cacarecos de pouca ou nenhuma utilidade também repletam as calçadas. Ao escambo dominical deram o nome de brique da Redenção.

Andar calma e despretensiosamente, sem receios de qualquer natureza, é algo que me apetece em desmedida e que sinto falta no calor excessivo do nordeste, onde sou refém de um automóvel, na imensa parte do tempo.

Além das sutilezas que são comercializadas, não passam desapercebidas as pessoas que dominam algum tipo de habilidade e, com isso,  deixam um chapéu emborcado para receber contribuições dos mais surpreendidos.

O primeiro a se apresentar foi um argentino, que me lembrou Segovia, ao dedilhar com destreza, em seu violão cansado, Asturias. Ofereceu, em seguida, Piazzola, Gardel, Paco de Lucia e, até mesmo, para o deslumbre das maduras mulheres que ali passavam,  Roberto Carlos.

Nao ficou por aí. Eis que solta o violonista de rua, desta vez para delírio meu, o tema de Zorba. O meu tímido e improvável ímpeto de sozinho começar a dançar hedonisticamente como o Grego, foi levado a cabo por alguns germânicos que descansavam abaixo do Monumento ao Expedicionário.

Talvez estivessem eles despreocupados com o jogo da Alemanha, que aconteceria com a Argélia no Beira Rio. Ou, quem sabe, já estivessem comemorando a profecia da conquista do mundial.

Ciclistas, cadeirantes,  bebês e muitos cachorros testemunharam a dança. As testas franzidas e os sorrisos incontidos, como os meus, distinguiam aqueles que não tinham a menor noção de que se celebrava, daqueles que sabiam, respectivamente.

O argentino precisou descansar.

Próximo dali, se ouvia ainda uma uruguaia cantando o hino francês, acompanhada com um tambor. Em seguida, ofertou gracias a la vida. Piaff e Mercedes foram lembradas, como diferente não poderia ser.

Alguns passos adiante, compatriotas tocavam, cantavam e dançavam alegremente O Barquinho. Cantaram ainda mais bossa, em harmonia, com um tom de samba. Imagino que Vinicius sorriu e dançou junto, esteja onde estiver.

Se não bastasse, pequenos peruanos, sob os olhos cuidadosos de uma mãe, tocavam el condor passa e outros tons andinos; confrontando com a gaita e o violão elétrico de um rapaz que tocavam blues, convidativo para um bourbon, se não fosse ainda manhã.

Opções de gastronomia – até mesmo tapioca, acarajé, quentão e cachorros quentes com duas, três,  quatro ou mais salsichas –  se encontravam com facilidade. Até uma boa confeitaria estava ao alcance, apesar do nome, no mínimo, curioso: Maomé Doces Bárbaros.

E assim foi passando o dia… suave e despreocupado, na Redenção.

Dele me despedi com a impressão de que minhas transgressões estavam redimidas, ou, ao menos, esquecidas em momento, tamanha a leveza do domingo…

Mais médicos: o porquê da histeria e do ódio da classe dominante.

Indicador muito seguro de algo favorável à maioria dos brasileiros e ser alvo do ódio e da histeria da classe dominante, materializados nos discursos da imprensa, repercutidos incansavelmente pela pequena-burguesia.

Tudo que se fez a beneficiar o maior número foi atacado violentamente e o programa mais médicos evidentemente não seria exceção a esta regra de ouro. Foi bombardeado diariamente na imprensa majoritária e estes ataques mereceram amplificação constante pela classe média alta, que além de repetiu o que lhe foi ensinado, acrescentou mais tolices por sua própria conta.

Ontem tive a preciosa ocasião de almoçar com doze médicos cubanos que estão por aqui, no âmbito do programa mais médicos. Um bom almoço e aprazível tarde de convívio com os cubanos. Percebi à perfeição porque a classe dominante vota tanto ódio ao programa e principalmente aos cubanos que vieram. Eles são um perigo real à estrutura de segregação social tão bem montada e mantida no Brasil.

É absolutamente desconcertante para um brasileiro munido do mínimo de auto-crítica conversar com médicos normais, com médicos a se comportarem como pessoas comuns. E os cubanos são assim totalmente normais e mais bem instruídos em termos de cultura geral que seus similares brasileiros. Dispostos à conversação, falantes de um castelhano fácil de compreender, esforçadíssimos para falarem português, curiosos mas não invasivos, disponíveis para responder à nossa curiosidade.

A ameaça reside exatamente em que os mais pobres emancipam-se a pouco e pouco na medida em que têm acesso a serviços de saúde prestados por pessoas que não se portam como semi-deuses nem pensam só em dinheiro, nem trabalham primordialmente para a indústria. Depois que descobrem ser possível outra realidade diversa daquela do inacessível, caro, grosseiro e funcionário de laboratório, quererão o serviço a que têm direito.

As pessoas que utilizam os serviços de cuidados básicos de saúde estão encantadas com essa acessibilidade, disponibilidade, assiduidade que realmente observa-se nos cubanos. Elas são capazes de perceber as diferenças, entre elas a mais evidente: a presença física do médico cubano em todo o período de trabalho. Na verdade, bastaria a assiduidade para perceber as diferenças.

Aparentemente, a histeria da máfia de branco brasileira não tem muito sentido, além de reação contra a diferença, até porque os estrangeiros do mais médicos não podem fazer qualquer coisa além de trabalhar em programas de saúde da família – PSF. E somente podem passar até três anos no Brasil, depois têm de retornar. Ou seja, os estrangeiros do mais médicos não representam qualquer ameaça ao mercado dos médicos brasileiros, pois com eles não competem.

Acontece que os médicos brasileiros trabalham para a indústria de medicamentos, equipamentos de imagens, próteses e etc. Assim, reproduzem os discursos destas indústrias e voltam-se contra uma medicina de cuidados básicos que não pede exames desnecessários, nem preceitua remédios inutilmente.

Faz bem a classe dominante em temer os médicos estrangeiros, pois eles fornecem os parâmetros para o povo perceber a aberração que é a indústria da medicina no Brasil, que só trabalha para si e seus patrões, relegando o principal, que são os pacientes, para prioridade penúltima.

Datas de celebração de nada: a diluição insincera da gentileza.

Para qualquer corpo social, uma nação, por exemplo, fazem algum sentido as datas comemorativas cívicas. O dia de independência, o dia da deposição duma ditadura, o dia de proclamação de república, são coisas que convém manter na memória coletiva.

Contrariamente, as celebrações oriundas dos interesses do comércio, em que todos sentem-se obrigados a darem presentes ao celebrado, não têm qualquer espontaneidade subjacente à sua instauração. Essas são as datas arbitrárias que se convencionaram como dias de mães, de pais, de crianças, de namorados, disso e daquilo.

Pouca atividade neuronal é necessária para compreender que esses dias são artificiais construções que não elevarão alguma estima que haja, nem farão surgir a estima faltante. Essas coisas vulgarizam a gentileza e o afeto, posto que lhes reservam um dia especial, como se todos os dias não prestassem.

Interessante é notar que as grandes insinceridades quase sempre deixam-se revelar pela frieza ou pela artificialidade indisfarçável, por um lado, e pela intensidade das gentilezas que se fazem fora das datas convencionais, por outro.

Dar presentes por obrigação é algo destituído de qualquer sentido, mesmo de sentido afetivo. O inverso confirma isto: as grandes ofertas, as grandes gentilezas se fazem totalmente independentes de obrigações e de datas fixas.

O decadentismo sabe a sangue e cheira a carne queimada. Ou, como na Ucrânia decorre a mais estúpida provocação em sessenta anos.

Uma maneira de exorcizar a morte é matar por deleite na estética da destruição. Outras, para os mais capazes, são a crônica e a poesia. Claro que capacidade, aqui, é termo de ambiguidade proposital, posto que pode significar falta de alternativas.

Boccaccio exorciza a peste a descrevê-la e seria para além de suas capacidades e sem efeito estético elevado tentar fazê-lo a matar. A Peste já matava demasiado e com feiura difícil de atingir por ofício humano…

A decadência do Império Norte-Americano é das coisas mais medonhas em que me ponho ocasionalmente a pensar.

Escrever sobre ela deve ser pelas beiradas, com receio do concreto, com analogias desconfiadas, simbolismos, sem cair na tentação de crer nas analogias, sem pensar em Roma.

O decadentismo do governo norte-americano do mundo parece, inicialmente, algo improvável e até contraditório, porque aceitou-se o lugar-comum do povo recente, do caldeirão fervente em que várias culturas e idades tornar-se-iam homogêneas.

Se isto pode ter alguma veracidade relativamente ao povo, nada tem de verídico relativamente aos governantes. Estes últimos são a gente mais velha do mundo atual, exceptuando-se os asiáticos, claro. Quem não perceber o que foi no período anterior ficará por achar que mergulho na contradição.

Esses governantes, no início longínquo de milênios, matavam para viver. O ciclo fecha-se quando matam para divertir o medo de morrer.

Fato é que os EUA e seus parceiros europeus, nomeadamente a Alemanha, neste caso, patrocinam a desestabilização selvagem da Ucrânia. Para isso, serviram-se da massa neo-nazista disposta a por abaixo toda Kiev e a trabalhar para meia dúzia de dirigentes e alguns milhões de pequenos-burgueses a sonharem com salários em euros.

A Ucrânia, como algo diferente da Rússia, é invenção recente. A grande Rússia nasce precisamente no principado de Kiev, o primeiro na grande região eslava a tornar-se ortodoxo; Moscou vem depois.

Não sei, sinceramente, se alguém no departamento de estado e no estado-maior percebe o que se pôs em marcha. Não sei se há gente nestes locais com alguma memória do que resultou da instalação dos mísseis nucleares na Turquia, há sessenta anos.

 O Urso tem o segundo maior arsenal dessas maravilhas nucleares, as melhores defesas anti-aéreas que há e tem Putin que, infelizmente, não é imbecil nem trabalha para interesses outros além de russos. Ele não consentirá na instalação de mísseis nucleares norte-americanos na Ucrânia, isso é evidente e devia ser sabido.

Por outro lado, se não foi para instalar mísseis nucleares na Ucrânia que deram o golpe de Estado por meio da agitação das massas filonazistas, então a coisa é muito pior, porque começa a fugir à compreensão tentada a partir de história, geografia, política e lógica.

Realmente, se toda essa fúria destruidora visar apenas a poder comprar produtos alemães na moeda alemã, então os nazistas ucranianos são mais tolos que o comum da tolice nazista e pequeno-burguesa. Porque mediando a passagem do gás russo para a Alemanha, a Ucrânia poderia comprar tudo que quisesse, na sua própria moeda, ou em gás, ou em BTUs, ou em qualquer coisa que não implicasse gastar em marcos alemães e trabalhar por subsalários também em marcos.

Ou seja, qualquer que seja a motivação subjacente à desestabilização da Ucrânia, a coisa é estúpida demais e somente pode atribuir-se a algum senso estético da destruição, do caos, do abandono, da perda absoluta de travas, do gozo da estupidez em forma pura, da inconsequência.

Os governantes norte-americanos são facilmente apreensíveis por esquemas psicologizantes simples. Dizem temer que estes ou aqueles detenham armas nucleares, porque não seriam confiáveis. Dizem isto porque sabem, intimamente, que os menos confiáveis do mundo para deterem armas nucleares são exatamente eles.

Eles foram os únicos a lançarem bombas nucleares sobre pessoas, para nada. São os únicos que iniciam os jogos que podem ter implicações nucleares para o mundo todo, irresponsavelmente. Não é puerilidade, é senilidade.

Epistemologia da não significação. Ética protestante e capitalismo…

A academia não me surpreende e isso deve-se mais a ter a surpresa como item raro nas ementas que se servem. Esclarecido, portanto, que não se deve à incapacidade da academia.

Fato é que ainda discutem o que não leram e afinal não perceberam. E cultivam certas coisas somente como objetos de museologia científica, como objetos de um tributo a ser necessariamente prestado.

Ética é um nome para codificação normativa; um nome, afinal, como qualquer outro, pois servem código, diploma, lei, decreto e muitos mais. Isto, digo-o sem ofender o alemão que relacionou ética protestante com capitalismo, porque isto disse-o ele.

Esta ligação entre ética protestante e capitalismo é como uma reivindicação pela reforma – talvez mais precisamente pelo calvinismo – da invenção da máquina a vapor. Justa reivindicação, na medida em que se limite a argumentar com o tempo cronológico e com o espaço geográfico físico.

Para mais que isso, quer dizer nada ou quase nada. Não há, como parece emergir da obra tão fincada no seu tempo de nascimento, relação de necessidade entre a ética e o espírito, substantivos merecedores dos adjetivos marcantes.

Curioso é que, hoje, afirme-se a relação intrínseca entre os adjetivos, mesmo que tenhamos toda a Ásia a desmentir esta superficialidade. Esta imensa e pujante Ásia tem um adjetivo na ausência do outro.

O capitalismo floresceu e floresce na Ásia sem o adubo que se acreditava inseparável: a ética calvinista. Escândalo supremo para quem se ponha a pensar, mas um nada silencioso de repetição para tantos acadêmicos que repetem o alemão sem terem percebido seu caráter de propaganda e de preso do tempo.

O capitalismo, em verdade, não precisa de ética, neste sentido meio piedoso, vulgar e pequeno burguês que se emprestou ao termo. Ele vive melhor na ausência de qualquer codificação para ele, embora não viva bem na ausência de alguma codificação para disciplinar o povo, qualquer que seja.

Extraordinário é ver que presunção – ou ingenuidade – conduziu o cientista social que quis ver a relação necessária entre ética calvinista e o florescimento do espírito – geist – capitalista. Primeiro, ele estabelece data de nascimento do capitalismo, como se acumulação fosse algo de ontem ou antes de ontem.

Segundo, põe-se como profeta a dizer que a morte de um seria a do outro, ou seja, ele fala para o futuro sem perceber o presente, porque a Ásia de hoje estava na de ontem, bastando-lhe livrar-se dos ingleses.

Estar com a chuva, com o frio, com o vento e com saudades que se tornam adultas.

Muito estranhamente, não havia tido ocasião de perceber que o guarda-chuvas é um aerofólio perfeitamente submetido às leis de Bernoulli.

A sorte ou a natureza pouparam-me estranhamente em ocasiões anteriores que me podiam ter feito lembrar o princípio baptizado com o nome deste francês ou suíço, matemático ou físico, que enunciou aquilo que faria voar os aviões e funcionar os carburadores.

Em certas condições – que não cabem aqui enunciar, nem estariam nas minhas capacidades – um fluido a movimentar-se mais rapidamente numa face dum plano implica pressão menor que na face de menor velocidade de deslocação.

Ontem, percebi que um guarda-chuvas é aerofólio tanto quanto a asa de avião. A pressão embaixo é maior que em cima, porque o vento em cima flui mais rápido. Daí que eles se põem pelo avesso, empenam os raios e perdem-se definitivamente.

O raro é que em sete, oito, nove, sei lá, dez vezes que me expus à chuva e vento constantes, diários, isso não tenha ocorrido. Pois ocorreu ontem e achei-me a rir, mesmo que ficasse encharcado de água fria. Só podia ter-se dado em Braga, comigo.

O engraçado é que a cena é comuníssima, mas a mim nunca ocorrera, certamente por favor dos deuses, que não me queriam rapidamente experimentado nas coisas mais comuns.

Há tempo, eles já me haviam levado ao chão, numa queda patética, depois de escorregar numa laranja, mas pouparam-me do mais comum, que devia acontecer depois. Não ouso questionar as razões deles.

Seria mais tolo que sou se achasse que fevereiro seria sem chuva e sem ventos. Tolo a ponto de não conseguir emendar três palavras seria se supusesse não estar frio. Nessas tolices não incorri.

Precisava encharcar as pernas dos joelhos para baixo, e inclusive os pés, daquela água gélida que impregna as calças e as meias como um aerosol lento. Dá uma impaciência tremenda, obriga a caminhar de cabeça baixa, a cuidar de não meter o guarda-chuvas na cara das pessoas que cruzam.

O verão de agosto não me traria aqui, exceto se por alguma obrigação ou premência. Nem me traria, nem se me trouxesse seria mais agradável que esse desagradável molhar-se e demorar-se a secar.

Isso tem nome em português: saudades. Mas, elas se foram tornando mais maduras e mais puramente saudades que necessidades. A primeira vez que se atende e sucumbe à necessidade, é o mergulho na confusão de sensações que aparentemente catalisam-se em euforia. As saudades imediatas são necessidades, paixões.

Amadurecem e- e convém dizer que o amadurecimento das saudades nada tem com o do saudoso – a perder o caráter duma paixão que sofre o afastamento. Solidifica-se como tudo que do quente passa ao frio.

O amadurecimento começa por revelar-se nos detalhes e as saudades fracionam-se, ficam detalhistas, específicas, exigentes mais de algumas coisas e mais frouxas com outras.

Maduras não são tristes como são as recentes, as apaixonadas. Sempre permanecem algo felinas, naquilo de ir ali e acolá para ver se certos lugares estão da mesma forma. Isso é praticamente invencível, não é poético, não é mais a esta altura melancólico; isto é, simplesmente.

 As apaixonadas, recentes, matam-se em dias poucos. As mais distantes em dias poucos confundem. Não se sabe se os dias são poucos, suficientes ou muitos. O caso é particular e leva a crer que há saudades compostas, que talvez haja experiências compostas de mais de uma saudade individual.

Não faltavam apenas conversas com interlocutores tão inteligentes como estimados, Braga, chuva, frio e vento e as pedras do chão. Faltava talvez experimentar essa revisita com ausência velha e nova que deram saudades futuras; peço desculpas pelo paradoxo, mas haverá quem o perceba na sua total extensão.

Os tempos de maturação das percepções são quase todos diferentes, embora o subjetivismo de superfície se esforce para convencer do contrário. Há que se esforçar contra a superficialidade para que as saudades não se tornem na componente de uma personagem.

Esse texto é para ser compreendido.

A perda do senso trágico, a crença no remédio, ou sem passado e sem futuro.

Mansidão não é delicadeza, rebelião difusa não é coragem. Covardia não é sábio cálculo. Afagos gratuitos não são estima de iguais, direitos não são antíteses de obrigações. Ignorar o passado não é aceitar condição para que haja presente e futuro. Tudo isso são sintomas de algo fartamente abordado por Ortega y Gasset, a que sempre retorno.

Muitos viram a cara às constatações orteguianas, talvez porque a clareza dele agrida os superficiais que gostam de barroquismos e sentem ojeriza pelas abordagens aristocráticas e históricas. Menor número ainda é dos que leram e perceberam constatações similares em Unamuno, ainda que vertidas em termos quase obscuros e aparentemente místicos.

Ainda menor é o número dos que perceberam a advertência na arte narrativa ficcional, seja porque leem romances em busca de entretenimento, seja porque acham que romances são formas puras, duas formas de alienação próprias de todos os tempos, não somente do atual.

Agustina Bessa-Luis percebeu muito bem o que é a perda do senso trágico, que conduz ao viver o presente contínuo, isento de riscos, possibilidades, pleno de remédios sempre cinicamente negados mas sempre acreditados. Presente de discussões compartimentadas em escaninhos acadêmicos, científicos.

Mas, no que tange ao romance e à romancista também, sempre predominará numericamente o ver obra, ou como ficção totalmente abstrata, ou como relato fiel de acontecimentos com nomes de personagens trocados. As obras do romancista bom, como Agustina, não são, nunca, uma dessas coisas somente. Aliás, um romance a merecer este nome nunca é criação do nada ou reprodução de fatos.

Claro que ele não é, num autor bom, livro de recomendações ou de previsões, ou de recriminação ou de julgamento moral de um tempo e de suas pessoas. Ele, o romance, é antes de tudo história, por mais aparentemente atemporal que seja, por mais aparentemente abstrato e desumanizado que seja. Incluso, cabe aqui lembrar a riquíssima observação de Ortega de que as abstrações artísticas do início do século XX eram reação aristocrática meio pueril.

O tempo de hoje – que não sei precisar se começou há setenta ou cem anos, ou ainda mais – é um profundamente seguro de si, como a acreditar em progresso material e civilizacional imparável, a permitir ganhos de acumulação material e de direitos sem regressos.

Tempo de certezas amparadas em ciências ou pseudo-ciências, certezas absolutas quanto às afirmações e aos seus contrários, porque há ciência para todos os lados, porque ciência tem lado ou veio a ter, tamanha a incerteza certa a que dá suporte.

Parente próxima dessa certeza no progresso favorável é a crença em remédios para tudo, ou seja, em que as coisas, todas elas, têm solução. Chega a ser fetichista esta crença, porque chegou-se a ponto de reputar todas as coisas passíveis de remediação, o que reflete a adoção de juízo moralizante para tudo.

Acredita-se em remédio até para o que não se pode abordar em termos de conserto, porque não se cuida de acertos ou de desacertos, mas de coisas ou de opções ou de falta de opções. Aqui, percebe-se que a crença nos remédios é parente também da vontade de mandar nas outras pessoas, impondo-lhes os comportamentos estandardizados aceites quase unanimemente.

Esse estado de coisas, com este tipo de gente dominante, leva à incomunicabilidade. O sujeito que supostamente tem alguma inteligência e talvez alguma cultura formal, fala para ouvir o eco do discurso pré-fabricado que fez. Ele não fala para ouvir alguma coisa, fala para receber a confirmação da matéria de revista que também foi lida pelo suposto interlocutor.

Perguntas não são perguntas; são chances dadas ao interlocutor de deixar claro ter bebido na mesma fonte de padronização do perguntador. Os conversadores são duas paredes ou talvez dois espelhos a se refletirem e amplificarem. Esse ressoar de ecos tem o efeito de amplificar o que há de pior e de filtrar, deixando passar as partículas maiores e concentrar o discurso no seu núcleo.

O núcleo purificado de um discurso pequeno burguês neo fascista é aquilo que resulta da purga de tudo que fosse tolerância meio espontânea. Resta o escândalo padronizado, as sentenças moralizantes que devem tudo à liberdade perdida voluntariamente, porque de resto servia pouco ou nada…

Pós escrito breve: a menção a Agustina Bessa-Luís deve-se a ser escritora excepcional, que não se envergonha de apreciar história, não se envergonha de ser aristocrata e não se envergonha de escrever a explicar o que reputa passível de explicação. Mais um volume de Agustina alcançou-me, de surpresa, vindo pelos correios, fruto da imensa gentileza de um amigo inteligente que pouco fala.

Os três pilares do golpe: udenismo, esquerdismo Cabo Anselmo e judiciário.

Antes de qualquer coisa, convém uma pequena advertência. Conversando com um amigo sobre o segundo pilar apontado no título, ouvi que Cabo Anselmo lembrava imediatamente delação. Sei bem disso, mas a referência a Anselmo, como inspirador de certo discurso, não tem a ver com seu caráter delator, mas com a incitação irresponsável a um esquerdismo supostamente radical, que serve bem à direita golpista. Enfim, a lógica Cabo Anselmo, para mim e para este texto, tem a ver com esta incitação irresponsável, não com a delação.

Ao contrário de países vizinhos, o Brasil não tomou cuidados para evitar um golpe que subverta a vontade popular nas próximas eleições para a chefia do Estado. Ao contrário do que a maioria da imprensa diz, o Brasil tem níveis de liberdade que implicam verdadeira negação da soberania, da constituição e dos crimes de injúria, calúnia e difamação.

Contrariamente ao que fizeram Argentina e Venezuela, o Brasil, mesmo governado por gente que pensa mais no povo que na minoria de 15%, achou que era possível ter imprensa concentrada, monopolista, sem limites e entregue a capital estrangeiro. Os que estão no governo acreditaram que era possível comprar esta imprensa e receber dela o mínimo, ou seja, que ela fosse imprensa e não partido político. Mesmo tendo provas contínuas da impossibilidade, o governo continuou pagando para ser caluniado dia e noite…

Contrariamente ao que fizeram Venezuela e Argentina, o Brasil, pelos governos que estão há treze anos, acreditou que a honradez é paga com honradez e que não existem identificações de classe nem subornos. Não purgou a cúpula do judiciário dos golpistas e experimentou o sabor amaríssimo de juízes ignorantes, recalcados, vaidosos, cúpidos, farisáicos, oportunistas e com nenhum apreço à constituição que supostamente guardam. Vimos, então, o espetáculo horrível de juízos de exceção que degradaram homens inocentes e que foi a antesala da interdição de gente querida pela maioria.

Os que governaram e governam o país há treze anos trabalharam para reduzir a desigualdade social, o pior problema do país, e tiveram êxito marcante. Não trabalharam suficientemente para que a maioria tivesse consciência de classe e para que esta maioria pudesse escolher livremente doravante, todavia. Eles ignoraram os instrumentos do golpe e acreditaram que o povo e os que vendem para o povo seriam apoio suficiente.

Ignoraram que há, sempre, quem os queira tirar não apenas do poder, mas da vida, e que têm tenacidade para seguir a tentar. Sinceramente crentes que todo poder emana do povo, deixaram agir com poder de Estado os que nada têm emanado do povo e não tiveram coragem de dizer que funcionários a 10.000,00 euros mensais não podem trabalhar pelo povo, porque num país de renda mensal média de 300 euros, quem ganha 33 vezes mais que a média não é povo e, obviamente, age por sí e por quem está acima.

Aceitaram o jogo udenista, porque parte de seu êxito deveu-se a terem feito discurso udenista, lá atrás, há quinze ou vinte anos. O moralismo, aquilo que passa por dizer que tudo se trata de fulano ou sicrano ser ladrão ou infiel ao cônjuge ou adicto de drogas ilegais ou de álcool, foi uma das bases de seu discurso inicial. Hoje, este discurso é base da oposição a eles, com a amplificação da imprensa e da corporação judiciária.

Nunca insistiram unicamente nas conquistas relacionadas à melhoria na desconcentração da apropriação de rendas, que efetivamente realizaram. Nunca disseram que o ponto central da dinâmica social é a luta de classes, porque aliaram-se àqueles que passaram a vender mais. Assumiram a vergonha de serem de esquerda – que foram, realmente – e aceitaram as regras do discurso da oposição, que insiste em moralismo e na inexistência de esquerda e direita.

O grupo que hoje é governo no Brasil terá êxito nas eleições do ano próximo, mesmo que a seleção nacional não triunfe no mundial de futebol. Mas, ter êxito nas urnas, no voto, na preferência dos eleitores, não significa assumir o posto obtido pelo voto. Haverá um judiciário ávido por encontrar alguma questiúncula, um detalhe qualquer, ou mesmo servir-se de farsa pura e simples – e há precedente – para interditar a opção que não seja a do retorno da concentração de rendas e da entrega ao estrangeiro.

Há uma opção para o grupo que está no governo, se quiser resistir ao udenismo, ao esquerdismo Cabo Anselmo e ao judiciário: falar para a maioria e deixar claro o que ganharam e deixar claro o que é o judiciário e de que é composto. Com relação ao moralismo udenista e ao pseudo esquerdismo Cabo Anselmo, o primeiro deve ser ignorado e o segundo deve ser mais que ignorado.

Um pequeno pós escrito tem lugar. O que chamo de lógica cabo Anselmo fica claro num episódio recente e no comentário que fez um jornalista que posa de simpático, aberto e outras coisas bacaninhas do gênero. O Kenedy Alencar – jornalista que é empregado do Frias da Folha de São Paulo –  faz de conta que é livre e que segue sua pauta.

Pois bem, há cinco ou mais dias, o Congresso Nacional, em sessão plena, devolveu o mandato do Presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964. Na ocasião, em abril de 1964, o congresso, amedrontado, considerou vacante a Presidência da República, o que ajudou a malta golpista a dar aparências jurídico-formais ao golpe.

Na sessão que anulou a farsa de cinquenta anos atrás, os comandantes do exército, da aeronáutica e da marinha de guerra estavam presentes e não aplaudiram quando o Presidente do Senado proclamou a anulação da vacância declarada cinquenta anos antes. Todos os demais presentes aplaudiram quando da formal proclamação.

O tal jornalista Alencar – de prenome Kennedy – escreveu artigo a dizer e pedir que a Presidente Dilma punisse os comandantes militares porque não aplaudiram a reabilitação de João Goulart. E essa cretinice repercutiu e foi repetida, tanto por quem fazia ironia, quanto por aqueles que viram nisso um grande arroubo de esquerdismo cioso da história.

Isso do Kennedy Alencar é Cabo Anselmo puro. Primeiro, militar não aplaude nada. Segundo, aplaudir não é obrigação de ninguém. Terceiro, não aplaudir não é falta funcional, portanto não é infração. A Presidente Dilma não tinha, nem podia punir algo que não é infração.

O Brasil precisa de armar-se.

À direita e à esquerda – que não sou desses novos direitistas que negam a dicotomia – receia-se postular que o país se arme adequadamente para autodefesa. O receio, por razões diferentes, é bastante indicativo de outra dicotomia fundamental: entre nacionalistas e entreguistas.

Os grupos que se opõem ao armamento adequado do país fazem-no basicamente por medo de forças armadas detentoras de bons equipamentos, por medo de forças armadas capazes de garantir a soberania e por crer que há outras prioridades no gasto público. Percebe-se que o terceiro argumento é quase neutro, porque pode ser adjacente aos dois primeiros.

As forças armadas têm histórico de ajuda a golpes de estado, no Brasil, sempre em auxílio dos grupos que não logram êxito na obtenção do governo por meios eleitorais. Todavia, essas forças que ajudam golpes ou os realizam não precisam necessariamente estar bem equipadas, porque nunca chegamos ao limite duma guerra civil. Elas patrocinam golpes de Estado mesmo sendo mal equipadas e mal treinadas.

Por outro lado, historicamente, a divisão entre nacionalistas e entreguistas é bem marcada nas forças armadas e sempre houve, ainda, os legalistas, ou seja, grupo que não adere a iniciativas golpistas. Assim, a balança é desequilibrada por ação de forças outras e externas às forças armadas, independentemente de quão equipadas sejam.

É óbvio que, cedo ou tarde, se não conseguirem aceder às riquezas minerais e ao mercado brasileiros sem limites, os EUA aumentarão a intensidade das tentativas de desestabilização de governos que se preocupam mais com interesses locais que com transferir riquezas para fora e ficar com as comissões. De início, são pressões disfarçadas com argumentos que soam bem aos ouvidos de parte das classes mais altas.

Em momento posterior, das pressões passam à intimidação e à busca de pretexto para invocar suspensões ou perdas de soberania localizadas e pontuais. O discurso ecológico serve bem a esta segunda volta do parafuso e dizem que o país é incapaz de garantir patrimônios naturais que se convertem, discursivamente, em patrimônios mundiais que devem ser protegidos por fiscais externos.

Não há recuo nisso exceto se o país vítima for capaz de defender-se. Realmente, se a vítima potencial tiver real capacidade de defesa, até essas etapas iniciais tendem a morrer logo após o nascimento, porque neste campo há pouco discurso inútil.

É claro que o Brasil foi imensamente estúpido ao abrir mão de fazer sua bomba atômica e que, agora, é um pouco tarde, mesmo que nunca seja tarde de todo. Retomar a construção da bomba é essencial e, contra os raciocínios baseados no senso comum, é muito mais barato que pode parecer. A bomba é caríssima para economias pequenas que não se beneficiam da enorme cadeia de produção tecnológica e industrial, mas é relativamente barata para economia do tamanho da brasileira, considerando-se todos os efeitos econômicos e estratégicos que decorrem.

De qualquer forma, mesmo que continuemos nesta tolice de renunciar à bomba, devemos ter uma defesa adequada e isso implica, basicamente, sistemas anti-mísseis, anti-navios e anti-aéreos. Não precisamos de largos investimentos em infantaria, nem em cavalaria mecanizada. Tampouco precisamos de uma marinha opulenta ou com inúteis porta-aviões.

Baterias de mísseis anti-navios e anti-aéreos devem ser instaladas ao longo da costa brasileira e na amazônia. Da mesma forma, bases aéreas com poucos caças como Sukhoi 35 ou Dassault Rafale equipados com armamentos contra embarcações e contra alvos aéreos são o suficiente. O que precisamos de infantaria e de cavalaria mecanizada deve ficar nas fronteiras orientais ao norte.

É completamente anacrônica a estratégia de defesa que reputa prioritárias as fronteiras sul, com Argentina e Uruguai. É mais que anacrônica, é mesquinha, a manutenção de enormes contingentes militares burocráticos no Rio de Janeiro. Esses dois exemplos de prioridades e falsas prioridades revelam que as forças armadas sucumbiram à lógica do oportunismo de funcionalismo público e nada mais.

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