Tem havido manifestações em grandes cidades brasileiras, que inicialmente voltavam-se contra os aumentos das passagens de ônibus urbanos. É fora de dúvidas que são preços altos e pesam significativamente nos orçamentos dos usuários. Essas manifestações tomaram dimensões muito grandes e persistem com a força inicial, agora voltadas contra quase tudo que envolva aspectos de interesses individuais e de grupos.
Não compreendo bem as movimentações – que são algo relevante – mas acho realmente difícil e até arrogante pretender compreender coisas assim amplas rapidamente. É preciso perceber, além do presente e dos interesses em jogo, os episódios históricos semelhantes que se podem por como termos de comparação.
Mas, não escrevo para tentar perceber as manifestações, que envolveram muita violência policial, inclusive. Escrevo para rir-me de algo realmente cômico.
Dois meios de comunicação hesitaram por uma semana antes de se posicionarem taxativamente sobre as manifestações, o que deixou a classe média sem ter o que pensar delas também, porque não pensa exceto pelo que pensam para ela.
É verdade que um e outro, isolada e apressadamente, expuseram opiniões advindas das profundezas duodenais. Foi o caso do tolo enfurecido Arnaldo Jabor, que desfiou lugares-comuns como baderna, arruaça e coisas do gênero, aptas a emocionarem seu público cativo de superficiais propensos ao linchamento e à defesa da atividade policial como prende e arrebenta.
Acontece que os patrões, após a hesitação inicial, perceberam que havia dividendos políticos a se obterem da coisa, dizendo, enfim, que era revolta popular contra o governo. Demoraram um pouco, mas perceberam que servia aos designios monômanos de atacar governo que cometeu o pecado de trabalhar mais pelo país que por patrões estrangeiros e promoveu discreta redução nas abissais desigualdades socias.
Não vejo Globo, mas creio que o patético Jabor já deve ter-se desdito, na mesma linguagem tão exasperada quanto cheia de verdades que adota. O patrão dele deve ter-lhe dito da imbecilidade em que incorrera, deixando-se levar pelas categorias poucas que o pautam. Devem ter-lhe dito que a coisa era boa para falar mal do governo e ele, tão gênio, não percebera, mais afeto ao pensamento duodenal que ao cerebral.
O caso é que comicamente, por uma semana, era impossível encontrar alguém com opinião sobre as manifestações, porque a Veja e a Globo ainda não lhas tinha fornecido.