Não se trata aqui de falar da elevação dos meios a fins, nem de ser contra o fascínio com a técnica, que eu, por exemplo, sou fascinado pela mecânica. Mas, de uma variante da sempre renovada crença nos efeitos salvadores das evoluções técnicas e tecnológicas. Claro que essa tendência é parente próxima do imediatismo e do pensamento anti-histórico. Ou, pelo menos, da concepção da história marchadora sempre sem sentido único, sem involuções.
Atualmente, é o culto das tecnologias como panacéias, sejam dos problemas individuais, sejam dos coletivos. É curioso notar que a tecnologia em sí é inerte, ou seja, não é finalística, nem boa, nem ruim. Claro que pode ser alçada a discurso ideológico, mas sua gênese não se insere em qualquer categoria axiológica.
O culto esquece que ele mesmo replica-se historicamente. No início da revolução industrial, a máquina a vapor ia ser a redenção da humanidade ávida por força produtiva mecânica. Não foi redenção nem maldição, foi o surgimento de uma técnica, inserida em algum momento histórico.
Na primeira metade do século XX, a física do átomo assumiu o posto de deidade a ser cultuada. Seu domínio seria o fim dos males, a energia sem limites, a potência destruidora. Enfim, a nova e última fronteira. Instalou-se e as coisas seguiram seu rumo, assimilando a nova deidade no seu imenso panteão.
As comunicações e os meios eletrônicos apresentaram suas candidaturas ao panteão, logo aceitas. São o remédio de todos os males, o motor da aproximação irreversível de todas as gentes, a possibilidade de acumular enormes quantidades de informações. Esse deus é tão poderoso que traz em si a potência de ter mais potência. Seria auto gerador de mais possibilidades, continuamente. Não há dúvidas de quanto de ridículo há nisso, mas acredita-se!
Geraria novas formas de relacionamentos pessoais e de grupos, relegando ao lixo tudo quanto antes se falou sobre economia, poder, comunicações, educação e sociologia. Paradigmas quebrados, teses obsoletas, futuro auspicioso para todos. Curiosamente, em alguns locais a mágica parece-se mais com farsa.
Vejo, nesta porção do Brasil, muitas pessoas munidas dos telefones mais modernos que existem, coisas como i-fones e semelhantes. Na maioria dos casos, todavia, os aparelhos, além de aumentarem os pesos suportados pelos bolsos dos usuários, servem para pouco mais que falar. Estranha contradição: os meios necessários para que esses super-telefones desempenhem todas as suas potencialidades salvíficas são precários. Quer dizer, as conexões são péssimas e os telefones são telefones!