Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Desimportâncias (Page 10 of 13)

A economia brasileira cresceu 9% e houve quem achasse ruim!

A economia brasileira cresceu, no primeiro trimestre de 2010, 9% em relação a igual período de 2009. É crescimento econômico em ritmo chinês ou indiano, muito superior à média mundial e à média brasileira.

Não há, no crescimento econômico, o que se considerar ruim. Há, claro, que se buscar formas mais equânimes de distribuir os resultados, que são apropriados muito desproporcionalmente, mas isso é outra estória. Junto com esse exuberante crescimento, verificou-se uma redução do desemprego.

Não obstante, alguns meios de comunicação de massa esforçaram-se até os limites da incoerência absoluta e do desrespeito pelo inteligência alheia para apontar aspectos negativos de um crescimento econômico de 9%.

Por um lado, isso é bom, porque deixa evidente que os meios de comunicação não estão minimamente preocupados com a qualidade ou com a veracidade de quanto dizem. Estão preocupados em fazer campanha política partidária contra o atual presidente da república e sua candidata.

Avançarão até os píncaros da incoerência e da estupidez para prestar serviços ao candidato de oposição ao governo, José Serra, tentando inclusive negar que crescimento econômico seja bom! Eu gostaria muito que esses jornalistas de globos, folhas de são paulo, estados de são paulo e outros meios desse tipo, fossem dizer na Europa que crescimento econômiuco é uma coisa ruim.

Carros com adesivos religiosos. Deus é fiel. Sim, mas a quê ou a quem?

Reparem no adesivo no vidro traseiro.

O trânsito é palco da maior reunião simultânea de absurdos e infrações que há. Acredito que isso deva-se basicamente a dois fatores: primeiro, à existência de carros demais; segundo, ao profundo egoísmo dos condutores. Na raiz desse egoísmo profundo e dissimulado poderíamos apontar várias outras causas, mas então partiríamos para a regressão infinita.

O fato é que nos dizemos cordiais, simpáticos, solidários, ordeiros, mas somos bastante egoístas, na verdade. O condutor brasileiro típico age como se o mundo estivesse em função dele, como se as regras mais triviais pudessem ser flexibilizadas segundo sua conveniência imediata, como se seus interesses fossem o suficiente para reclamar a complacência dos restantes.

Sendo assim a mentalidade dominante, quase todos sentem-se muito à vontade para estacionar carros em locais proibidos, para ocupar vagas destinadas a deficientes físicos, para ocupar duas vagas por ter preguiça de estacionar o automóvel corretamente, para desrespeitar as faixas de pedestres, para violar os limites de velocidades, para parar em local inadequado, quando alguém vai descer ou subir, impondo que todos esperem e toda uma coleção de infrações.

Muito curiosamente, a maioria das infrações é cometida por veículos com adesivos de teor religioso, que são uma verdadeira praga de gafanhotos. Os adesivos mais comuns são Esse carro pertence a Jesus; Foi presente de Deus; Jesus, é dele que você precisa e o campeão de todos Deus é fiel.

Essa última frase, estampada em adesivos automotivos, Deus é fiel, mereceria um estudo acadêmico profundo, uma vez que é destituída de qualquer significado. Ora, Deus é fiel a quê, a quem e como? As pessoas parecem acreditar em uma espécie de intransitividade desse adjetivo, em um valor absoluto desse complemento, que ele não tem.

Se alguém diz que Deus é amarelo, tudo bem. Se diz que Deus é brasileiro, tudo bem, que embora cômico tem sentido. Mas, fiel e só, não diz coisa alguma! Acho que poderiam ir mais além e dizer Deus é fiel a mim, o que seria herético, mas teria sentido. Porém, essa estória de coerência discursiva é bobagem e, no fundo, quem nada diz é porque nada quer dizer.

Significativo é que os proclamadores de insignificâncias religiosas sejam precisamente os maiores violadores das normas de trânsito. Talvez queiram dizer que respondem a normas mais elevadas e, por isso mesmo, têm o direito de desprezar as mais triviais e humanas. Todavia, continua sendo curiosa postura essa, porque a figura tão proclamada em frases sem sentido teria ele mesmo afirmado que não visava a revogar a lei!

Humor israelense… Ou "o amigo de meu inimigo é meu inimigo"?

O quadro é legal. E está tudo beleza, fora é claro, que foi feito por Israel em momento extremamente oportuno… Apesar de ser um quadro de humor, e não se dever dar-lhe mais importância que essa, foi feito quando Lula conseguiu o acordo com o Irã. Se fosse de qualquer outro lugar seria até mais engraçado, afinal só quem não gostou do acordo foram os EUA, Israel e a imprensa nacional. (Tudo bem, tudo bem, há outros paises que os Estados Unidos forçaram a estar em desagrado com o acordo, mas esses foram forçados… A força vale!? Afinal quem faz sexo a força é estuprador, e quem faz relações internacionais a força é o que?)

http://www.youtube.com/watch?v=4oaixch0aDY&feature=related

Segue abaixo outro vídeo de Israel, esse não tão engraçado assim… Será que algum programa de humor tem coragem de ironizar isso?

http://www.youtube.com/watch?v=dbCO-L1hPvo&feature=player_embedded

Copa do Mundo e festa de São João.

Ainda bem que essas duas festas acontecem simultaneamente. Sim, porque em Campina Grande a festa de São João é uma farra que se estende por um mês inteiro e o mundial também durará quase todo junho.

A vantagem de duas manias se sobreporem é clara: elas minimizam uma à outra. Gosto de futebol e de São João, mas não consigo portar-me como se fossem as coisas mais desejáveis e maravilhosas que podem existir a monopolizar todos os interesses, todo o tempo  e todas as conversas.

O torneio mundial, devo confessar, chega a ser um tormento, porque gosto bastante de futebol, de ver gols e jogo bonito. O problema não é propriamente o futebol de funcionário público que quase todas as equipes jogam. É ter que sofrer as habituais pressões para adotar o ufanismo nacionalista que se abate sobre tudo, nessas épocas.

Uma partida que me interesse, por exemplo, não vou assistí-la em bares ou restaurantes, rodeado de pessoas enlouquecidas que não estão percebendo coisa alguma do jogo e estão disparando ao vento os comentários mais bobos, repetidos do que o comentarista televisivo está dizendo. Nem me sinto obrigado a ter um jogo de futebol como pretexto para ir tomar cerveja em algum bar.

Alguma partida que me interesse, vou vê-la em casa, se possível, pois é inviável ver um jogo em um bar repleto de adeptos apaixonados, prontos a endeusarem ou demonizarem os jogadores ao sabor da espuma da cerveja ou das cretinices que os narradores e comentadores da televisão ofereçam.

O problema é que a enorme maioria das pessoas não compreende, nem aceita, reservas como essas minhas. Ainda tento facilitar a vida dos interlocutores, dizendo-lhes que podem ficar com uma de duas alternativas, ou seja, podem me considerar chato ou louco, conforme lhes pareça melhor. Ou as duas coisas juntas, desde que não me encham a paciência com essa estória de reunir-se para assistir a jogos do mundial.

Só me reúno para assistir a jogos que não me interessam, porque a essência da reunião não é ver o jogo, é embriagar-se de emoções superficiais e de julgamentos sumários.

O papa é pop, e gosta dos Beatles…

No dia 4 de março de 1966 John Winston Lennon deu a seguinte declaração:

“Christianity will go. It will vanish and shrink. I needn’t argue with that; I’m right and I will be proved right. We’re more popular than Jesus now; I don’t know which will go first – rock ‘n’ roll or Christianity. Jesus was all right but his disciples were thick and ordinary. It’s them twisting it that ruins it for me.”

Numa tradução “meia boca” pro português ficaria algo mais ou menos assim:

“O cristianismo vai acabar. Vai encolher e desaparecer. Eu não preciso argumentar isso, eu estou certo e vai ser provado que estou certo. Nós somos mais populares que Jesus agora; eu não sei qual acabará primeiro – rock’ n’ roll ou o cristianismo. Jesus estava bem, mas seus discípulos eram grosseiros e ordinários. São eles distorcendo isso que o faz em ruínas para mim. “

O que disse Lennon, a princípio não gerou problema ou polêmica alguma na Inglaterra. Já quando chegou aos Estados Unidos… Até o KKK impediu apresentações da banda por crer ser o certo a se fazer.

A despeito do Galileu (não o Cristo, o Galilei =)), que levou mais de 300 anos para ser perdoado apenas por desobedecer ao papa da época (Urbano VIII), divulgando suas teorias heliocêntricas em países protestantes onde a censura do Vaticano não chegava. John Lennon e companhia limitada, foram perdoados até com certa celeridade, levando em consideração que o próprio Vaticano os considerava meio satânicos. Interessante notar que a morte, prematura ou não, de alguns membros da banda , incluído ai o próprio Lennon, deve ter mesmo ajudado no exercício do perdão. Mesmo porque a matéria veiculada no L’Osservatore Romano (Diário de notícias oficioso do Vaticano), fala em preservação ante a “experiência deprimente de grupos de rock geriátrico”, como se previsse que num futuro alternativo onde Lennon e Harrison fossem vivos, saberiam que eles não mais trabalhariam com música e como se McCartney e Ringo tampouco o fizessem.

Perdão, real ou não, poderia ser mais convincente, até porque deve mesmo ter sido escrito por uma pessoa que se presume capaz para tanto. Mas não, foi apenas mais uma tentativa de angariar fiéis, jovens. Em tempos de pedofilia correndo solta, precisa-se fazer algo. Quando vi a manchete, a princípio, temi por ser fan da banda errada (se o papa diz que está certo, tem de haver algo errado com a “coisa”, seja ela qual for), mas ao invés disso quando li um pedaço da notícia, já notei que não tinha nada com que me preocupar…

É apenas o Vaticano em época de eleições, procurando votos, e assim sendo, poderiam se dar melhor, escolhendo algo mais atual, ou que pelo menos seus membros pudessem ainda se defender, de poder ser “banda de rock geriátrico” que já foi maior que Jesus, à qual seus apóstolos “grosseiros e ordinários” recorrem para angariar fiéis.

Ringo Star, último membro vivo do grupo, recusou o perdão…

“Didn’t the Vatican say we were satanic or possibly satanic — and they’ve still forgiven us? I think the Vatican, they’ve got more to talk about than the Beatles.”

De novo, na tradução macarrônica:

“O Vaticano não comentou que fomos satânicos ou possivelmente satânicos — e mesmo assim nos perdoam? Eu penso que o Vaticano tem outros assuntos a tratar, mais importantes que os Beatles.”

O Nardo de Betânia.

A passagem é conhecidíssima e acho que devia ser mais lembrada por quantos andam a falar em nome do Galileu. Em João, o mais direto, está em 12:3-8. Conta esse evangelista que Jesus estava em Betânia e foi jantar na casa de Lázaro, o que ele ressuscitara. Então, Maria derrama uma libra de nardo puro nos pés do Galileu e os enxuga com os próprios cabelos.

O nardo, convém lembrar, era um perfume realmente caríssimo. A narrativa segue apontando que a coisa foi escandalosa e que Judas Iscariotes teria reputado um verdadeiro absurdo aquele desperdício e que se poderia vender o nardo e apurar trezentos denários para dar aos pobres.

A essa objeção de cunho prático, até bastante sensata, o Galileu opõe outra de inteligência, prática e mística, muito superior. Ele diz que os pobres sempre exisitirão e ele não. Aquilo era, na verdade, uma unção pré sacrificial. Eu diria que o Galileu era bastante inteligente objetivamente e defendeu que cada qual faz das suas coisas o que quer. Além, é claro, de apontar uma provável hipocrisia de Judas.

Pois bem. Não tenho negócios com padres e freiras, nem com suas congregações. Ocorre que uma instituição de freiras mantém um abrigo para velhos carentes. A velhice é uma tragédia e acompanhada da pobreza aproxima-se a viver na encruzilhada do Estige com o Aqueronte. O teto do abrigo caiu e a situação dos velhos piorou. Por isso, as freiras solicitam doações para reconstruir a estrutura.

Fui à instituição para doar algum dinheiro. Cheguei e falei com o indivíduo responsável. Disse quanto era a doação e ele pôs-se a preparar o recibo. Havia na sala duas dessas senhoras piedosas de classe média alta, que iam fazer as suas doações.

Esse pessoal, sentindo-se em território seu, não se contém. Uma delas viu ou ouviu a quantia, pouca, que eu doava e interpelou-me. Cordialmente, é verdade, mas com aquela imperatividade segura que pode ser chamada, sem maiores riscos, de arrogância. O que o senhor faz, perguntou-me. Percebi o que se passaria e fui evasivo propositadamente. Disse: sou funcionário público. A senhora parou um instante, sorriu complacentemente, e insistiu: o senhor pode ajudar mais esses pobres velhinhos. É verdade, respondi.

Não me contive e perguntei-lhe: a senhora conhece a estória do nardo, com Jesus, em Betânia? Ela ficou confusa, pois conhecer de ter ouvido falar, certamente conhecia, mas de ter lido e de lembrar-se, era muito difícil. É curioso, mas essa gente desconhece as bases do  que pensa defender, embora isso seja de pouca importância. Balbuciou um sim, tímido. Pois é, minha senhora, o novo testamento tem coisas interessantes e se o nardo é meu, faço dele o que quiser.

Em ano de Copa do Mundo…

Depois da escalação de Dunga, técnico da seleção brasileira, não falar nada, nadica de nada, de futebol, é sacanagem… Então vai esse pequeno vídeo, que não por acaso, é da Argentina… Mas calma, poderia ser aqui perfeitamente, não que seja motivo de orgulho, afinal, de tanto gostar de futebol, eu preferiria qualquer das outras benesses, mas em ano de copa, deixemos a chatice pra depois…

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=lZLmu0UP2eU&hl=pt_BR&fs=1&]

Severiano Miranda

Enquanto isso, nos porões…

Enquanto o presidente ganha um prêmio, que além de importante pra ele (principalmente em época de campanha), também é importante para o país, a revista semanal de maior circulação aqui em pindorama trata do assunto com a seriedade que ele merece…

Sobre isso já se falou muito bem no Acerto de Contas, aqui (O míope ideológico) e aqui (Para o cérebro binário do míope,candidato adversário é um ser enviado pelo capeta para destruir o Brasil).

A dita revista se tornou o livro sagrado de um dos lados dessa galera há tempos…

Veja
Veja, a imparcial.

Arrogância e ignorância doutoral de Coimbra.

Morada da Verdade, sobre o Mondego.

Algum tempo atrás, a atriz de telenovelas brasileira Maitê Proença andou a falar bobagens sobre Portugal, notadamente fazendo piadas tolas e desprezando patrimônio artístico e cultural. Muito embora o espetáculo de mau gosto tenha sido registrado em vídeo e reproduzido nas televisões, a protagonista saiu-se com desculpas meramente formais, querendo minimizar o que disse. Aumentou a ofensa, na verdade, porque manteve o que disse e considerou que as reações eram excesso de zelo.

Há algum tempo, também circula por aí, notadamente na internet, por meio de um correio eletrônico muito reproduzido, o que seria a resposta de uma Doutora conimbricense às ofensas da Maitê Proença. E a resposta doutoral é quase tão tola quanto as ofensas! Em resumo, a carta Doutoral gira em torno ao argumento da vasta ignorância formal dos brasileiros. Se ficasse por aí, submeter-se-ia apenas à previsível objeção de haver vastos níveis de ignorância de ambos os lados do Atlântico. Mas, a Doutora quis extrair mais conclusões.

Para deixar claro que os brasileiros são um conjunto de néscios, ela aponta que dessa burrice generalizada resultou a eleição de um Presidente inculto. A Doutora é fraca em lógica formal, porque não percebeu que duas consequências distintas advieram da mesma causa aparente, o que implica que, ou a causa está errada, ou as consequências estão.

Um pouquinho de Atenas para Coimbra, portanto: se a mesma massa de ignorantes elegeu o pluri-doutorado Fernando Henrique Cardoso e o não-licenciado Lula, conclui-se que a ignorância das massas está na origem de dois resultados diversos, portanto não é causa.

Deixadas as questões formais de lado, temos as materiais. O não-licenciado Lula impôs redução de desigualdades sociais – tímidas, mas efetivas – um crescimento econômico enorme e um reconhecimento universal idem. Curiosamente, foi escolhido pela revista Time como um dos maiores líderes mundiais e não é doutor por Coimbra! Impressionante!

O produto doutoral de Coimbra mais conhecido do século passado foi a luz de economia política que alumiou Portugal desde 1926 até a queda da cadeira. Outros raios brilhantes sucederam-no e deixaram inclusive manuais de direito constitucional. Curiosamente, flores brilharam mais que essas velas de sebo.

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