Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Capitalismo das cavernas (Page 5 of 6)

Escravos dos bancos deviam perceber que a realidade desmente o discurso. Ou, cliente falido não compra!

Nesses tempos de crises financeiras divulga-se que todos devem prestar culto ao ajuste fiscal, à redução das despesas do Estado, à elevação das idades de reforma, à redução das ajudas sociais, à austeridade, de forma geral. Ninguém, por outro lado, deve ousar lembrar-se que os bancos foram salvos da falência com dinheiro de todos, tomado compulsoriamente, por meio de impostos, pelos Estados.

Principalmente, ninguém deve aproximar-se da compreensão de que os Estados estão a agir como prepostos dos bancos e, não dos povos  que elegeram os agentes políticos. Todavia, a coisa é acacianamente simples e por isso mesmo enseja uma campanha mediática robusta, para afastar qualquer tentativa de pensamento claro.

Convém-nos pensar em que consiste uma falência bancária. O maior problema – dirão todos – são os depósitos dos correntistas e isso é absolutamente verdadeiro. Então, a motivação principal de evitar-se uma falência bancária é proteger os dinheiros das pessoas que os entregaram ao banco.

O erro – ou o assalto – insere-se precisamente na forma de defender os tais depósitos. Ora, toda teoria de mercados indica que as intermediações encarecem as transações. Fica óbvio que se o interesse primordial são os correntistas, a melhor forma de salvamento é pagar-lhes diretamente. Pagar ao banco para que este possa pagar ao correntista é, sem juízos de valor, a pior maneira de salvamento.

Se os governos são levados a tomarem as medidas piores e mais caras, deve-se investigar o que os fez agir assim. Quem pensar em comissões passadas de bancos para governantes estará no bom caminho investigativo. Há um íntimo contubérnio entre banqueiros e políticos governantes, em detrimento das maiorias.

É interessante notar que as teses do pessoal das finanças – banqueiros privados, FMI, monsieur Strauss-Kahn – são desmentidas pela realidade. Eles dizem e repetem à exaustão que países com riscos de dívidas devem adotar ajustes rigorosíssimos para recobrarem a confiança de quem lhes empresta dinheiro.

Mas, fato curioso, a Irlanda seguiu à risca os conselhos de adotar uma rigorosa austeridade. Adiantou-se a mostrar bom comportamento frente aos bancos, cortou imensamente despesas sociais e, a despeito de tanta obediência, não viu os juros de seus títulos caírem!

A Islândia, por outro lado, reagiu de maneira diversa. Depois de ir à falência financeira, banqueiros foram presos, o governo novo de centro-esquerda deu calote nos bancos e o que aconteceu? Recupera-se melhor que a Irlanda, que seguiu à risca a cartilha financista.

Atualmente, na Europa, esse receituário de austeridade de gastos sociais tem sua entusiástica origem na Alemanha. Não sou economista, mas creio que a postura alemã precipitará a Europa em um abismo. Eles querem defender a moeda comum, o euro, que é o marco alemão com algumas pitadas de franco francês. Querem defendê-lo porque seus bancos emprestaram em valores denominados em euros e porque convém ter compradores de produtos alemães aptos a pagarem em euros.

Todavia, o garrote financeiro nos vizinhos mais pobres pode ser ruim para a Alemanha. Ora, embora a indústria alemã seja bastante pujante, não é mais competitiva que a do sudeste asiático. O grande mercado das exportações alemãs é a Europa e os produtos germânicos, por melhores que sejam, não têm condições de invadirem o restante do mundo. Os chineses têm!

Evidencia-se o paradoxo. De que servirá empobrecer o restante da Europa em benefício dos bancos alemães, se isso prejudicará a própria indústria alemã? Se este fosse um país naturalmente rico, ou seja, rico em petróleo ou em outros minérios, seria perfeitamente compreensível tal estratégia. Mas, não é o caso. Trata-se de uma riqueza de base industrial que, inclusive, antecede à bancária.

De quê servirá à Europa – e à Alemanha – ficar com o euro se faltarem euros na Grécia, na Espanha, em Portugal, para se comprarem os desejados BMW? Ou alguém acha possível inundar a Índia de BMWs de 50.000 euros? De minha parte, acho complicada uma expectativa dessas.

Embora seja anátema falar-se em saída do euro, está claro que essa possibilidade cresce dia-a-dia. Inclusive, a evidência de que tal saída tem sido cogitada encontra-se nas garantias enfáticas de que não acontecerá. Na fala recente de Cavaco Silva a assegurar que não há hipótese de Portugal voltar aos escudos vê-se o quanto essa mesma possibilidade aproxima-se. porque ninguém se põe a negar enfaticamente alguma coisa absolutamente impossível.

A riqueza muita vez conduz à perda da habilidade persuasiva. Isso parece ocorrer com a Alemanha, atualmente. A ela convém que permaneça o euro e, portanto, convém que se esforce para convencer os mais pobres a mantê-lo. Todavia, age como se isso fosse uma verdade absoluta e indiscutível, projetando para outros o que é válido para ela. Então, age com arrogância, reputando tolas quaisquer considerações quanto ao assunto que não sejam aquelas estritamente alinhadas às suas verdades.

Um e outro recuo foi obtido com sérias ameaças francesas de rompimento com a moeda única, porque a economia francesa é bastante grande, embora menor que a tedesca. Todavia, com parceiros europeus de economias menores agem imperialmente e consideram qualquer reclamação como birra de crianças mal acostumadas. Isso tem precedentes históricos demasiado conhecidos…

A obra do capitalismo sem regulação.

Essa fotografia é terrível. Um pelicano inteiramente impregnado de óleo, em alguma praia no Golfo do México. Como ele, vários outros bichos vão morrer banhados em óleo, por conta do imenso vazamento de um poço da British Petroleum.

Hoje sabe-se que as agências de regulação norte-americanas oscilam entre a não exigência de qualquer medida de segurança e a leniência com o descumprimento de alguma exigência. As corporações agem da maneira que melhor lhes parece, sem qualquer consideração por normas ou pelo risco ambiental de suas atividades.

Essa mesma gente sente-se à vontade para financiar embaraços ambientais em países mais pobres, exatamente para travar-lhes algum desenvolvimento, que implicaria menos dependência com relação a elas. Fazem seus papéis de mentir e dominar e as platéias, aceitando os discursos, fazem o seu de serem espectadores tolos e disciplinados.

Agora que temos dinheiro, podemos ter educação e algo mais?

Duas figuras interessantes, primeiro, o famoso PIB, Produto Interno Bruto…

Gráfico do PIB

PIB

Segundo o jornal espanhol ABC, diz o FMI que em 2014, o PIB brasileiro será o 8º do mundo… Traduzindo, estaremos atrás apenas de: EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Mesmo hoje em dia, não estamos tão mal… Além desses já citados, apenas há a mais, Rússia e Espanha (A reportagem do ABC.es é pra dizer que a Espanha vai descer algumas posições).

Agora outro gráfico, com um troço chamado Paridade do poder de compra:

Paridade do poder de compra

Paridade do poder de compra

Essa tal Paridade do poder de compra é um índice que relaciona o poder aquisitivo das pessoas com o custo de vida do local onde ela mora, se ela efetivamente consegue comprar tudo que necessita com seu salário. Já dá pra enxergar o tanto de análises que se podem fazer observando os dois gráficos?

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José Serra e o capitalismo à brasileira: as privatizações de 1994 a 2002.

Como é bom fazer aquilo em que se acredita.

Um texto de Andrei Barros Correia

Imagens são fantasticamente reveladoras. O ânimo de quem faz aquilo em que acredita dificilmente é escamoteado em uma fotografia. Nesta, por exemplo, vê-se José Serra sorrindo muito sinceramente – esse sorriso é o máximo a que ele chega em efusão – no leilão de privatização da companhia de distribuição de energia elétrica do Estado do Espírito Santo, a Escelsa, em 1995.

Anunciava-se a redenção dos males do país com a privatização de tudo quanto fosse vendável. No caso da energia elétrica, privatizaram as distribuidoras, desmontaram o planejamento estatal que, mal ou bem fazia planos, e impuseram uma política de contenção de investimentos às geradoras, que não foram vendidas.

O resultado foi um imenso racionamento de energia elétrica, popularmente chamado apagão, sucedido em 2001 e 2002, os dois últimos anos do governo do doutor – sim, com doutoramentos mesmo – Fernando Henrique Cardoso. Como se sabe, energia elétrica é o insumo mais importante para o crescimento econômico e pode-se perceber as consequências trágicas de dois anos de escassez.

As privatizações, assim como as estatizações, em si, não constituem males nem bens. O problema são suas razões, suas oportunidades, a existência real de regulações e a propaganda. O pessoal do Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu um tremendo risco político anunciando as privatizações como uma salvação, uma coisa de caráter redentor, a entrada no perfeito mundo dos serviços bons e baratos.

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O descaso com o cliente no Brasil: Atendimento da Brasil Telecom causa morte.

O cliente Moacir Bulling faleceu após passar 45 minutos ao telefone, em contato com o call center, na tentativa de cancelar um serviço de internet banda larga. Sua pressão arterial aumentou e ele sofreu um enfarte agudo durante o dito atendimento.

O cliente já estava peregrinando há algum tempo em busca do tal cancelamento e a ligação de mais de meia hora foi, de fato, a gota d´água. A Brasil Telecom foi condenada a pagar R$ 20,4 mil para a família da vítima. A decisão foi proferida pela  3ª Turma recursal cível dos juizados especiais do estado do RS, reformando a decisão de “extinção sem julgamento do mérito” proferida em 1º grau.

R$ 20,4 mil para a Brasil Telecom não é nada. Para a família é um consolo diante da morte de um dos seus. Para nós, consumidores, continua a ser o absurdo de sempre. O descaso permanece e a agência responsável pela telefonia no Brasil – ANATEL – não parece estar preocupada com sua clientela. Suas prioridades são outras, se resumem a vender. O resto não lhes interessa.

Um dos motivos porque acredito que Serra está fadado ao fracasso.

Abaixo vai trecho da entrevista que Fernando Cardoso deu a revista veja, onde diz claramente, “-O Serra é estati…”, acredito eu que o final fosse “…zante” (estatizante), ele fala isso como se fosse bom. E ainda diz que foi Serra que quis a privatização da Vale e da Light. Muito bem.

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Eu já disse isso, e repito, alguem precisa realmente dizer a ele que o pensamento está equivocado, se ele quer eleger Serra, tem que dizer o contrário.

Direto aos fatos: as telefônicas foram vendidas (entregues) a preço de banana, e pagas “na valsa” com o lucro, e o dinheiro emprestado pelo próprio governo. Beleza, agora Luiz Inácio diz que vai reerguer a Telebrás para difundir banda larga no país, principalmente onde as empresas privadas não tem interesse econômico. Não é segredo para ninguem que o serviço prestado pelas telefônicas nas áreas que deveria investir são péssimos (banda larga e telefonia celular), já que as linhas fixas foram praticamente herdadas do sistema antigo.

E quando Lula fala sobre a Telebrás, a Folha de São Paulo, veículo de comunicação sabidamente vendido, faz uma pesquisa sobre a aprovação popular da medida. A pesquisa folha, indica que dentre 10.391 pessoas (até o momento em que escrevo), 9.790 pessoas (94%) são a favor da reativação da Telebrás, e 601 pessoas são contra (4%), há algumas considerações em torno desse percentual a que se pode chegar, ninguém gostou das privatizações das telecomunicações (ou quase ninguem, afinal temos 601 pessoas contra a Telebrás), bom, caso o percentual de aprovação das privatizações seja maior, então fato é que, há muita gente insatisfeita com o trabalho de quem comprou as tele. As empresas não funcionam, prova disso é a telefônica ter sido proibida de vender speedy (seu plano de banda larga ADSL), o serviço prestado é de péssima qualidade.

Bom, notável que a coisa talvez vá  funcionar melhor quando o governo entrar no jogo. Mas é cômico ver o presidente da telefônica, Antônio Carlos Valente, cobrar incentivo à banda larga, a definição de políticas públicas, além de desoneração tributária para produtos e serviços. Oras, ele já não teve o suficiente recebendo a empresa de graça e nunca investindo de volta nem um tostão do lucro obtido na empresa? Em 2005 o lucro foi de $6.184 bilhões USD. Isso só em 2005, em 2009 ocorreu a proibição de venda do speedy, ou seja, ele simplismente não investe, ele quer dinheiro do governo para investir, é como se dissese, essa é a parte do meu patrão, se voce  governo brasileiro quer melhora no serviço, pague voce mesmo pela melhora. Que tipo de empresa é essa??? Hááá!!! Uma sem concorrência… Entendi.

Severiano Miranda.

O problema não é o hardware. É, sim, o carro sem combustível.

Caro Severiano, quando vires essa postagem, toma como um convite para saíres da preguiça e voltares a escrever. E não leves a mal esse chamamento meio público, mas nesses assuntos tu tens muito mais talento e conhecimento que eu.

Voltei-me a essa matéria porque estamos na iminência de ter os serviços da GVT em Campina Grande. Trata-se de uma empresa de telecomunicações, recentemente adquirida pela Vivendi, francesa, que tem ofertado prestações de conexão de internet muito boas, se comparadas ao que se tem atualmente.

Essa questão das conexões, muito ruins, traz à mente a absurda desproporção entre a oferta de hardware e de conectividade. Embora computadores e outros petrechos tecnológicos sejam caros, no Brasil, esse não é propriamente um grande problema. São caros, mas não são impossíveis. Além disso, para a maioria das coisas a que serve de ferramenta um computador, para o usuário comum, o que existe vai bem.

O gargalo são as conexões, realmente muito ruins. Há que se insistir nisso. Eu, por exemplo, uso uma conexão 3g em casa, dessas de celular, da operadora Claro, do multimilionário mexicano. No preciso momento em que escrevo essas linhas, a conexão nada tem de 3g. Está lentíssima, operando em sinal 2g e caindo sempre. Lenta e instável, portanto.

A parte que me cabe, nessa estória, está sendo cumprida, quer dizer, as contas são pagas. E não só eu, mas todos cumprem sua parte, até porque se não pagar o serviço é suspenso. Quem não age corretamente são as empresas e o governo regulador. As empresas vendem e não entregam, sob o olhar complacente do regulador.

E veem-se muitos preocupadíssimos em ter computadores de última geração, telefones com mil e um recursos, o mais recente lançamento da Apple, o Blackberry mais poderoso e por aí vai. Acabam por ser um Jaguar sem gasolina no tanque, ou uma Ferrari em piso esburacado!

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